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Pessoas que perderam seu trabalho pra IA contam suas experiências: "Eu estava treinando a IA que me substituiu"

Sete histórias de pessoas que foram demitidas e cujo trabalho passou a ser feito por uma IA

Pessoas que perderam o emprego pra IA contam suas histórias / Imagem: FrabPOS Team (Unsplash)
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Victor Bianchin

Redator

Victor Bianchin é jornalista.

Nos últimos dias, a Klarna foi notícia. Isso porque, depois de demitir centenas de pessoas para substituí-las por um chatbot, a empresa teve que voltar a contratar, ao perceber que a inteligência artificial não estava fazendo um bom trabalho.

A partir desse caso, também veio à tona um estudo realizado pela IBM que mostra que muitos chefes não estão obtendo da IA o que esperavam. De qualquer forma, é fato que há empresas usando ferramentas de IA e demitindo funcionários para reduzir custos.

Algumas pessoas compartilharam suas histórias sobre isso em veículos como o The Guardian, em redes sociais como TikTok e em fóruns como o Reddit.

Uma rádio apresentada por IA

Mateusz Demski é um jornalista polonês de 31 anos que trabalha como freelancer há 10 anos, escrevendo para revistas e sites sobre cinema.

Ele apresentava um programa na Rádio Cracóvia duas vezes por semana e foi demitido em agosto de 2024, junto com vários colegas que também trabalhavam em regime parcial. Disseram que a emissora estava enfrentando problemas financeiros. Depois, ele soube que a Rádio Cracóvia passaria a lançar programas apresentados por três locutores de IA.

De qualquer forma, essa decisão foi polêmica. A essência do rádio é ser um espaço de pessoas para pessoas, e a rádio acabou aposentando esses locutores de IA após um abaixo-assinado com muitas assinaturas.

No Reddit, alguém contou que a esposa fazia vídeos educativos e que ela, junto com outras 11 pessoas — todo o departamento em que trabalhava —, foi demitida. Não foi simplesmente para substituí-los por uma IA, mas sim para contratar, no lugar deles, um recém-formado no ensino médio como "engenheiro de prompts".

As IAs artistas

Lina Meilina tem 30 anos e é ilustradora na Indonésia. Ela faz ilustrações no estilo anime e a maior parte da sua renda vem de encomendas: desenha personagens sob medida para clientes e também cria os próprios personagens.

Ela conta que, mesmo antes da chegada das ferramentas de inteligência artificial, não tinha vida fácil porque, em seu país, as leis de direitos autorais são fracas. Já viu pessoas roubarem seu trabalho e vendê-lo em sites como o AliExpress.

Mas agora há uma dificuldade a mais: a IA torna mais difícil comprovar a autoria, já que pode pegar sua arte e fazer pequenas alterações, de modo que não é uma cópia exata. “As pessoas podem pegar sua arte e colocá-la em um programa de IA para criar novas obras. Um seguidor meu usou recentemente IA para representar meus personagens fazendo algo inapropriado. Tentei denunciar, mas a plataforma disse que isso não violava sua política de direitos autorais”, explica.

Ela conta que descobriu a IA generativa há alguns anos, assistindo a um youtuber apresentar o software Midjourney. “Desde o ano passado, quando a IA decolou, minha carga de trabalho despencou. Antes eu recebia até 15 encomendas por mês; agora recebo umas cinco”, explica a artista.

De ganhar muito como programador a dormir na van

O site Genbeta contou a história de um programador que perdeu seu emprego por causa da IA e que não consegue encontrar outro. Shawn K, engenheiro de software de 42 anos, com mais de vinte anos de experiência e diploma universitário, recebeu a carta de demissão da empresa onde trabalhava — especializada em metaverso — no ano passado.

Em seu blog no Substack, Shawn alerta que o que aconteceu com ele é apenas o começo de um “tsunami de desastre social e econômico”. “A grande substituição já está em andamento”, afirma, argumentando que a discussão sobre a substituição de empregos por IA ainda é tratada como algo do futuro, quando, na verdade, já está acontecendo.

Perdeu o emprego… em 2017

Essa história chama a atenção porque aconteceu há muitos anos. Alguém conta em seu blog como perdeu o emprego por causa de uma IA no ano de 2017. “O futuro chegou muito mais rápido do que eu esperava. Como profissionais de marketing, já prevíamos isso, mas não na escala em que se concretizou e muito menos tão cedo.”

Quem fala é uma jornalista especializada em marketing de conteúdo online. O software www.tessa.ai acabou fazendo seu trabalho. “Achei que era uma ferramenta interessante para profissionais de marketing iniciantes, com pouca ou nenhuma experiência”, explica. No fim, o chefe demitiu muitas pessoas e colocou o software no lugar.

Um software que dubla atores

Richie Tavake é ator de dublagem. Ele passou 10 anos se formando como dublador e tem muita experiência profissional. “Recentemente, estava assistindo a uma série que eu tinha dublado e ouvi meu personagem dizer uma frase, mas não era minha voz. Eu não tinha gravado aquela parte. Entrei em contato com o produtor, que me disse que tinha colocado minha voz em um software de IA para gerar aquela fala extra. Mas ele não pediu minha autorização”, relatou.

Além disso, esse profissional descobriu que a empresa tinha subido sua voz para uma plataforma, permitindo que outros produtores tivessem acesso a ela. “Pedi que retirassem, mas demorou uma semana e precisei falar com cinco pessoas até que fizessem isso”, disse.

O Sindicato de Atores de Cinema (SAG-AFTRA) iniciou uma greve no ano passado contra alguns grandes estúdios de videogames porque os dubladores estavam insatisfeitos com a falta de proteção contra a IA. Os desenvolvedores podem gravar os atores e, depois, a IA usa esses trechos de áudio para gerar mais gravações, sem que os atores recebam pelo material adicional gerado por inteligência artificial, como relata o The Guardian.

Foi contratada, sem saber, para treinar a IA que a substituiria

No TikTok, muita gente também compartilha suas frustrações profissionais. Vera é uma jornalista que afirma amar sua profissão, mas onde realmente ganha dinheiro é fazendo copywriting, que ela exercia como trabalho extra. Começou a trabalhar em uma empresa e o que não lhe contaram é que o que fazia, na prática, era treinar a IA que acabaria a substituindo. Hoje, essa mulher se dedica a compartilhar histórias de outras pessoas em seu perfil na rede social.

Imagem | FrabPOS Team (Unsplash)

Este texto foi traduzido/adaptado do site Genbeta.

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