O pioneiro da cirurgia moderna hoje seria considerado um perigo: Robert Liston, “a faca mais rápida de Londres”

Os primórdios da cirurgia moderna eram uma corrida de velocidade

Robert Liston / Imagem: Wellcome
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Victor Bianchin

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Victor Bianchin é jornalista.

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Dois minutos e meio. Era isso o que o doutor Robert Liston levava para amputar uma perna, desde o momento em que fazia a primeira incisão até cortar os fios soltos das suturas. Hoje em dia, ele seria considerado temerário, grosseiro e descuidado; mas, em seu tempo, Liston era visto como o cirurgião mais renomado do Reino Unido.

E também um exemplo claro dos primórdios da medicina moderna.

Falamos da primeira metade do século 19, um mundo sem anestesia, em que cada segundo era fundamental. A rapidez não apenas minimizava a dor do paciente, como também aumentava (e muito) as chances de sobrevivência. Segundo o historiador da medicina Richard Gordon, estima-se que, nas mesas do University College Hospital, onde Liston operava, morria um em cada dez pacientes.

Nas do hospital St. Bart, também em Londres, morria um em cada quatro. A cirurgia era uma corrida contra a morte.

Esse virtuosismo fazia com que dezenas de pacientes acampassem na porta do hospital pedindo para serem atendidos por ele. Especialmente os casos que já haviam sido desenganados por outros cirurgiões. Entre os mais chamativos estão um tumor escrotal de 20 quilos e meio e um aneurisma de aorta que ainda se conserva no museu de patologia do UCH.

Mas, claro, a velocidade nem sempre é algo positivo, e as histórias assim o comprovam. Os historiadores não chegam a um consenso sobre quais são verdadeiras e quais não são, mas há um grupo delas que, pela sua espetacularidade truculenta, bem mereceria ser real. Conta-se que, certa vez, junto com a perna que tentava amputar, ele levou também os testículos do paciente. Mas a mais famosa é outra.

Nessa operação mítica, a velocidade de Liston foi tamanha que, sem perceber, junto com a perna do paciente ele amputou dois dedos do seu assistente. Em seguida, assustado com o acidente, cravou o bisturi em um estudante que observava a operação. Os três (paciente, assistente e estudante) morreram por infecção das feridas. E aquela cirurgia entrou para os anais da história por ser a única que conhecemos com uma mortalidade de 300%.

É curioso que Liston tenha sido, além disso, o primeiro cirurgião europeu a usar a tecnologia que permitiu cirurgias de doze horas. Em 21 de dezembro de 1846, ele realizou a primeira intervenção com anestesia da Europa. Apenas algumas semanas depois da famosa cirurgia de William T. G. Morton no Mass General, em Boston.

Justamente em 1846 começou o “século dos cirurgiões” (como o chamava Jürgen Thorwald). Cem anos durante os quais a cirurgia deu grandes passos para libertar a humanidade da dor, das infecções e das doenças, e nos quais os cirurgiões puderam acessar as partes mais recônditas do corpo humano (o fígado, o cérebro, a medula espinhal e os pulmões). Liston foi um desses heróis que ajudaram a criar o mundo tal como o conhecemos.

Imagens | Wellcome

Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.


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