Encontramos 76 estruturas misteriosas nos Andes; o mais provável é que fossem armadilhas para animais

Graças a imagens de satélite, um pesquisador encontrou mais de 70 megaestruturas nos Andes

Os chacus andinos / Imagem: Antiquity
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Victor Bianchin

Redator
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Victor Bianchin é jornalista.

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Além de uma cordilheira imponente, os Andes são também um dos grandes caldeirões da civilização. Em suas complexas redes de passagens, desenvolveram-se sociedades altamente organizadas, culturas como Caral, Chavín, Tiwanaku e Moche, que precederam o poderoso império Inca.

O mais impressionante é que, tanto tempo depois, ainda estamos descobrindo os segredos dessas civilizações. E acabamos de encontrar 76 estruturas de pedra que confirmam a sofisticação técnica desses povos.

Em um artigo publicado na revista Antiquity, o pesquisador Adrián Oyaneder, arqueólogo da Universidade de Exeter, detalha como, ao analisar imagens de satélite de alta resolução de uma área remota da bacia do rio Camarones, encontrou uma série de estruturas que se repetiam.

Usando imagens tanto do Sentinel-2 quanto do Google Earth, o arqueólogo examinou mais de 4.600 km² e encontrou 76 “chacus”. “Minha reação ao ver o primeiro chacu foi verificá-lo duas ou até três vezes. Achei que fosse algo único, mas, à medida que avançava, percebi que eles estavam por toda parte em uma quantidade nunca antes registrada nos Andes”, comentou

Os “chacus”

“Chacu” é um termo que vem de práticas tradicionais incas. Essas estruturas, basicamente, são construções muito específicas. Suas características são:

  • Formato de funil, composto por dois longos muros de pedra seca que convergem, formando um corredor que se estreita gradualmente;
  • Dimensões de cerca de 150 metros de comprimento e um metro e meio de altura;
  • Localizações aparentemente estratégicas, já que estão construídos em encostas íngremes, entre 2.800 e 4.200 metros acima do nível do mar. 

Para que serviam?

Essa é a segunda pergunta. Eram armadilhas para vicunhas, animais que são camelídeos andinos, parentes das alpacas. Os caçadores induziam as manadas a se deslocarem até os chacus, que, com seu formato de funil, aprisionavam os animais. Mas essas armadilhas não podiam estar abandonadas ao acaso, e Oyaneder continuou procurando até encontrar o que buscava: vestígios de vida.

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Nas proximidades dos chacus, o arqueólogo identificou quase 800 assentamentos de pequena escala, compostos por vários abrigos de pedra em formato circular. Ele estima que seriam acampamentos temporários, já que os grupos humanos se moviam estrategicamente pelas terras altas, seguindo o ritmo das estações.

Durante os meses úmidos, quando as passagens floresciam, os habitantes subiam para as zonas mais altas. Quando estas secavam, eles desciam, realizando a caça das vicunhas e, provavelmente, alguma forma inicial de agricultura. A estimativa de Oyaneder é que algumas dessas armadilhas tenham cerca de 6.000 anos de antiguidade.

Implicações

Encontrar 76 dessas mega-armadilhas de uma só vez é algo fascinante, mas, mais importante que a descoberta em si, é ver como ela se encaixa na história que conhecíamos até agora.

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A existência dessas estruturas implica que as culturas andinas primitivas tinham grande resiliência para se adaptar às dificuldades da montanha. Também sugere que a caça em grande escala coexistiu com o desenvolvimento do pastoreio e da agricultura na região.

Agora, está sendo analisado se os chacus representam os sistemas de caça em grande escala mais antigos dos Andes. Um ponto interessante é que há paralelos com estruturas encontradas a milhares de quilômetros de distância, como os desert kites do Saara Ocidental: grandes estruturas de pedra em forma de “V” que eram usadas para caçar gazelas e antílopes de maneira muito semelhante.

É curioso que duas civilizações sem contato tenham desenvolvido mega-armadilhas tão parecidas, mas a ciência tem nome para esse fenômeno: “evolução convergente”. De qualquer forma, a descoberta dessas 76 estruturas nos Andes volta a mostrar que as técnicas 3D e as imagens de satélite de alta resolução tornam mais simples a pesquisa de zonas remotas, extensas ou de difícil acesso.

Imagens | Antiquity

Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.


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