Vamos começar com os fatos:
- A Europa está envelhecendo mais rápido do que qualquer outra região desenvolvida, especialmente no Sul. A idade média é superior a 44 anos e continua aumentando;
- As grandes empresas de tecnologia que definem a era são americanas ou chinesas, com algumas exceções da Coreia do Sul ou Taiwan;
- As glórias industriais (Nokia, Siemens, Ericsson, Alcatel...) agora são fornecedores B2B ou zumbis corporativos, invisíveis para os consumidores que um dia as amaram;
- Apesar de ter sediado dois dos eventos de tecnologia mais importantes do mundo (MWC e IFA), hoje a Europa é uma mera espectadora de um espetáculo dominado por outros;
- E, enquanto isso, regulamenta-se: GDPR, AI Act, DMA, DSA. O continente legisla sobre inovações que não lidera e impõe regras sobre jogos que não joga.
Há um paralelo desconfortável, mas bastante preciso: o Japão pós-bolha.
Na década de 1980, o Japão parecia destinado a dominar o século XXI. Sony, Panasonic, Toshiba, Nintendo... O Japão definiu algumas das tecnologias que dominaram o mundo no final do século XX:
- Os consoles Game Boy e Nintendo;
- O Walkman e o Discman;
- As TVs Trinitron;
- As fitas VHS que venceram a guerra dos formatos;
- As câmeras Canon e Nikon que capturaram nossas memórias;
- Os icônicos relógios Casio;
- Os modelos Toyota e Honda que redefiniram a palavra "confiabilidade".
Até a palavra kaizen (melhoria contínua) se tornou um mantra para empresas ao redor do mundo. O Japão, além de fabricar excelentes produtos, exportou metodologias, filosofias de trabalho e visões do futuro tecnológico.
Depois veio a explosão, a estagnação, a deflação. E o pior: a nostalgia institucional. O Japão não entrou em colapso, mas começou a parar de criar o futuro. E se tornou um museu de como as coisas eram feitas, desde quando se era relevante.
A Europa está trilhando o mesmo caminho, porém mais rápido.
O que preocupa não é mais tanto a ausência de grandes empresas de tecnologia europeias, com honrosas exceções, mas a resposta a essa ausência: em vez de criar as condições para o seu surgimento, estão concentrando os esforços em regular agressivamente as que existem. Atua-se como se o poder residisse em controlar as plataformas de outras pessoas, não em construir as próprias. É a mentalidade de alguém que não está mais jogando: se não posso ganhar, pelo menos farei as regras. Mas estabelecer regras sem a capacidade de aplicá-las é simplesmente irrelevância disfarçada de princípios.
O Japão se consolava com sua cultura, sua estética refinada, seu excepcionalismo. Na Europa, o povo se consola com seus "valores". Proteção de dados, sustentabilidade, direitos digitais. Tudo correto, tudo nobre. Mas insuficiente. Porque, enquanto isso, a arquitetura tecnológica do século XXI — aquela que define o que é possível fazer, pensar e criar — está sendo construída na Califórnia e em Shenzhen. Foram estabelecidos limites para sistemas que outros projetam.
O problema subjacente é que a Europa internalizou uma narrativa de declínio administrado. Não há mais aspiração a liderar, mas sim a "preservar seu modelo". Tradução: administrar o declínio com dignidade. O Japão levou décadas para aceitar seu novo papel. A Europa parece tê-lo aceitado rapidamente.
Imagem de capa | Tianshu Liu, Il Vagabiondo
Ver 0 Comentários