Fabrício Mainenti
RedatorO governo holandês assumiu o controle da Nexperia, uma empresa de semicondutores sediada na Holanda, mas de propriedade da China. A empresa utilizou sua "Lei de Disponibilidade de Bens" pela primeira vez. Isso colocou a guerra dos chips em uma nova fase tensa.
O que aconteceu?
A Nexperia é uma fabricante de chips que foi desmembrada da empresa holandesa NXP Semiconductors. Em 2017, a Nexperia foi adquirida por US$ 2,75 bilhões (cerca de R$ 14,6 bilhões) por um consórcio estatal chinês e tornou-se majoritariamente controlada pelo grupo de tecnologia chinês Wingtech, em 2019. Conforme relatado pelo Financial Times, a empresa foi inesperadamente confiscada pelo governo holandês, que alegou "graves deficiências de governança e ativos". Isso permite que o Ministro das Finanças holandês, Vincent Karremans, assuma o controle de fato sobre as operações da Nexperia.
O objetivo é proteger os chips da Europa
Esta é a primeira vez que a Holanda utiliza sua "Lei de Disponibilidade de Ativos". O Ministro da Economia afirmou que a decisão se deveu a "uma ameaça à continuidade e à salvaguarda de know-how e capacidades tecnológicas cruciais na Holanda e na Europa". A Nexperia produz chips utilizados nas indústrias automotiva e de eletrônicos de consumo europeias.
Tensão geopolítica
A intervenção do governo holandês na empresa aumentou rapidamente nos últimos dias. No início de outubro, diversas decisões judiciais suspenderam os poderes do CEO chinês da Nexperia, Zhang Xuezheng. Posteriormente, um tribunal ordenou que ele fosse sucedido por um executivo não chinês com poder de voto decisivo, além de transferir quase todas as ações para a administração custodial. Autoridades da Wingtech descreveram a decisão como um "ato de interferência excessiva motivado por viés geopolítico".
Já estava na "entity list"
Os Estados Unidos já adicionaram a Wingtech à sua lista negra comercial específica — a infame "entity list" (lista de entidades) — em 2024, acusando-a de ajudar a China a obter tecnologia sensível para a fabricação de semicondutores. Isso exigiu que as empresas americanas que desejassem trabalhar com a Wingtech obtivessem uma licença específica, o que não é fácil. As restrições comerciais, mesmo com subsidiárias de empresas nessa lista, tornaram-se ainda mais complicadas nas últimas semanas, tornando o trabalho com a subsidiária da Wingtech, a Nexperia, ainda mais problemático.
A guerra dos chips está se intensificando
Essa apreensão tecnológica é outro sintoma claro da crescente reconfiguração geopolítica que estamos vivenciando na esfera tecnológica. Estamos passando da era da globalização econômica para uma era de soberania tecnológica e segurança nacional. Durante décadas, a eficiência do mercado levou as empresas a buscarem propriedade e produção globais, mesmo em setores críticos como o de semicondutores. Esta decisão do governo holandês sinaliza mais uma vez o fim daquela era de complacência, na qual, se uma empresa chinesa adquirisse uma empresa de chips vital em solo europeu, nada parecia acontecer. Agora, acontece.
A Holanda já havia dificultado as coisas para Pequim
Se existe uma empresa de tecnologia de referência na Europa hoje, é a ASML. Esta gigante de semicondutores detém o monopólio efetivo sobre máquinas de fotolitografia EUV e EUV de alta abertura. Sanções dos EUA e seus aliados impedem a ASML de vender seus equipamentos de litografia mais avançados na China. A Holanda já era, portanto, um dos maiores "inimigos" da China nesta guerra de chips, mas a ação com a Nexperia vai ainda mais longe.
Enquanto isso, terras raras e tarifas
A apreensão da Nexperia é o capítulo mais recente desta recente escalada de eventos que foi reativada na semana passada. A China impôs novas restrições à exportação de terras raras, levando o governo dos EUA a aumentar as tarifas sobre as importações chinesas em 100%. As tensões estão aumentando, e a guerra dos chips pode ter enormes consequências para a economia global. Já estamos vendo isso nas bolsas de valores: o anúncio de tarifas causou uma queda notável tanto no mercado de ações, quanto no mercado de criptomoedas. Veremos como essa nova ação do governo holandês afeta esses ativos.
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