A ESA lançou o primeiro satélite do mundo com radar de banda P. O objetivo: enxergar através das florestas

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Sofia Bedeschi

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Sofia Bedeschi

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Jornalista com mais de 5 anos de experiência, gamer desde os 6 e criadora de comunidades desde os tempos do fã-clube da Beyoncé. Hoje, lidero uma rede gigante de mulheres apaixonadas por e-Sports. Amo escrever, pesquisar, criar narrativas que fazem sentido e perguntar “por quê?” até achar uma resposta boa (ou abrir mais perguntas ainda).

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A Agência Espacial Europeia acaba de colocar em órbita uma nova missão de observação da Terra. Equipada com o primeiro radar de abertura sintética em banda P a chegar ao espaço, a BIOMASS vai realizar as medições mais precisas já feitas das florestas do planeta.

Lançamento bem-sucedido

O satélite decolou em 29 de abril às 11h15 (horário da Europa Central) do Porto Espacial Europeu de Kourou, na Guiana Francesa. A missão foi realizada com um foguete Vega-C, que com esse quarto lançamento retoma oficialmente suas atividades após dois anos de atrasos causados por uma falha no segundo voo.

Menos de uma hora depois, o BIOMASS se separou corretamente do foguete e enviou seu primeiro sinal, confirmando que tudo está funcionando como planejado. A missão agora faz parte oficialmente dos Earth Explorers da ESA, programas criados para estudar cientificamente o planeta Terra.

A gente ainda não conhece bem as florestas

Elas cobrem quase um terço da superfície da Terra e são chamadas de "os pulmões verdes do planeta" porque desempenham um papel vital: absorvem e armazenam enormes quantidades de dióxido de carbono — cerca de 8 bilhões de toneladas líquidas por ano — ajudando a regular a temperatura global.

O desmatamento, a degradação florestal e as mudanças no uso do solo, especialmente em áreas tropicais (que concentram 70% da biomassa terrestre), devolvem esse carbono para a atmosfera, piorando o aquecimento global. O problema é que ainda não sabemos ao certo quanto carbono as florestas armazenam nem como estão reagindo ao aumento das temperaturas, ao CO2 no ar e à ação humana.

É aí que entra o BIOMASS

O satélite vai medir, com uma precisão inédita, a quantidade de biomassa — e, portanto, de carbono — armazenada nas florestas do planeta, além de acompanhar sua evolução ao longo do tempo. O objetivo é entender melhor o ciclo do carbono e o sistema climático da Terra.

A maior parte do carbono — estima-se que cerca de 50% do peso de uma árvore — está armazenada na madeira: tronco, galhos e caules. A capacidade única do radar em banda P do BIOMASS permite medir diretamente a quantidade de biomassa lenhosa (a madeira sob a copa das árvores, principal reservatório de carbono florestal) em escala global e com uma precisão inédita a partir do espaço.

O segredo está no radar

A grande inovação do BIOMASS é seu instrumento principal, desenvolvido pela Airbus: o primeiro radar de abertura sintética (SAR) em banda P a ser lançado ao espaço. Radares funcionam emitindo micro-ondas e analisando o eco que retorna da superfície. A diferença está no comprimento de onda. As ondas da banda P são longas — muito mais longas do que as usadas por outros satélites, como os Sentinel-1 (banda C) ou o futuro NISAR (banda L).

Esse comprimento de onda permite que o radar atravesse a densa cobertura de folhas das florestas (o dossel) e até mesmo penetre nuvens ou chuva, interagindo diretamente com as partes lenhosas das árvores, como troncos e galhos mais grossos, além do solo da floresta. 

Ao analisar como essa onda se espalha quando atinge esses elementos, os cientistas conseguem informações detalhadas sobre a estrutura da floresta, estimar sua altura e, principalmente, calcular a quantidade de biomassa lenhosa acima do solo.

Agora vem uma etapa delicada

Para conseguir emitir esse sinal de radar com eficiência, o satélite vai precisar abrir, nos próximos dias, uma antena refletora gigante de 12 metros de diâmetro, sustentada por um braço de 7,5 metros. É uma manobra complexa, mas essencial para o sucesso da missão.

O BIOMASS vai operar em duas fases principais ao longo dos seus 5 anos e meio de vida útil.

A primeira é uma fase tomográfica, que dura 18 meses. Nesse período, o satélite fará várias passagens sobre as mesmas regiões, mas a partir de ângulos levemente diferentes, para criar um mapa 3D da estrutura das florestas.

A segunda é a fase interferométrica, com duração de 4 anos. Nela, o satélite vai usar as diferenças entre os sinais captados para medir mudanças na altura e densidade das florestas, permitindo estimar como a biomassa varia ao longo do tempo.

Como sabemos que cerca de metade da biomassa é carbono, a missão vai permitir mapear — de forma indireta, mas muito precisa — onde esse carbono está armazenado nas florestas e em que ritmo ele está sendo liberado.

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