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China não tem um “anti-Starlink”, mas sim 3: somam 38 mil satélites e são megaconstelações muito diferentes

Uma é a Starlink killer, outra é focada na segurança nacional e o objetivo da terceira ainda é desconhecido

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Fabrício Mainenti

Redator

A China lançou uma ambiciosa ofensiva espacial para oferecer internet via satélite global, e não o faz com apenas uma, mas com três mega constelações de órbita baixa (LEO), as quais pretendem rivalizar com a Starlink. Juntas, totalizam cerca de 38 mil satélites planejados. O que está por trás desses projetos? Contamos tudo o que se sabe sobre eles abaixo:

Guowang (Rede Nacional)

Guowang (Red Nacional)
  • Será uma constelação de alta capacidade com cerca de 12.992 satélites planejados, operados pela estatal China Satellite Network (SatNet), criada em 2021;
  • Internet banda larga via satélite, possivelmente mais voltada para uso governamental, para ganhar soberania nacional;
  • Os detalhes públicos sobre suas capacidades técnicas são escassos. Estima-se que seus satélites possam ser equipados com tecnologias avançadas, como comunicações a laser, sensores ópticos, radar SAR ou sistemas de retransmissão de alta capacidade. Isso os tornaria adequados para tarefas de vigilância, rastreamento ou apoio logístico, além de conectividade;
  • Existem paralelos entre o Guowang e o Starshield (o sistema de satélites militares da SpaceX), o que sugere um potencial papel duplo (civil/militar) na segurança nacional chinesa;
  • Espera-se que cerca de 6.000 dos satélites planejados orbitem entre 500 e 600 km (o que é comparável ao Starlink), e que cerca de 7.000 fiquem em uma órbita mais alta (cerca de 1.145 km);
  • Em meados de 2025, por volta de 34 satélites tinham sido lançados em várias missões (cerca de 8 satélites por lançamento);
  • Em agosto de 2025, a China já havia completado oito lotes, embora em um ritmo menor do que o Starlink (que lança entre 24 e 28 por missão).

Qianfan (Milhares de velas)

Qianfan (Milhares de velas)
  • Constelação planejada com cerca de 15 mil satélites como rival direto da Starlink, também conhecida como Thousand Sails, SpaceSail ou SSST.
  • Seus objetivos são oferecer serviços de banda larga e serviços diretos para celulares.
  • Utiliza órbitas LEO altas (~1 160 km), o que permite cobrir grandes áreas por satélite. Utilizará frequências Ku, Q e V, e inclui conectividade direta com celulares.
  • Primeiro lançamento ocorreu em agosto de 2024, com 18 satélites. No início de 2025, já havia 72 satélites em órbita e, atualmente, cerca de 90.
  • Fases do plano: 648 satélites na primeira fase, depois 1.296 e, finalmente, mais de 15.000 até o final da década.
  • Porém, há desafios: seria necessária quase metade de toda a capacidade de lançamento da China e alguns satélites (cerca de 17) não atingiram ainda sua órbita corretamente, o que é preocupante.

Honghu-3

Honghu-3
  • Shanghai LandSpace Hongqing Technology;
  • Projeto notificado à ITU (União Internacional de Telecomunicações) para 10.000 satélites distribuídos em 160 planos orbitais;
  • Por enquanto, nenhum satélite foi lançado (apenas protótipos), e a implantação está em fase preparatória: uma fábrica está sendo construída em Wuxi e estão previstas implantações em lotes de dezenas de satélites, conforme o andamento do projeto.

Outras constelações chinesas mais modestas, porém estratégicas

  • Tianqi: GuoDianGaoKe Technology (Pequim). Orientada para a IoT (Internet of Things) de baixa velocidade (cidades inteligentes, sensores, emergências). Já possui 37 satélites em órbita, com a fase 1 de 72 unidades.
  • Geespace: subsidiária da Geely (automotiva). Sua “Future Mobility Constellation” já soma 41 satélites até agosto de 2025, com planos em três fases: 72 (fase 1), 264 (fase 2) e 5.676 satélites (fase 3). Já opera testes no Oriente Médio e planeja expansão para a África e Ásia-Pacífico, com objetivo de conectividade veicular (IoT).
  • GalaxySpace: a constelação de teste Mini-Spider (6 satélites de cerca de 190 kg, lançados em março de 2022, mais uma sonda anterior) com altas capacidades (cerca de 40 Gbps cada, bandas Q/V/Ka). Ela planeja escalar para 144 satélites, apoiada por uma fábrica com capacidade de produção anual em Nantong.

O impulso vem tanto do setor público (SatNet, CASC) quanto do privado (SSST, LandSpace, Geespace, GalaxySpace), apostando na industrialização da produção de satélites: a SSST fala em 300 satélites/ano; a Geely já possui uma importante fábrica e outros projetos continuam somando fábricas e linhas de produção.

A China pretende lançar milhares de satélites durante esta década, integrados com redes terrestres 5G/6G e cobertura internacional, embora ainda esteja atrás da Starlink. Em 2025, a SpaceX já terá mais de 7.300 satélites em órbita e pretende chegar a uma constelação de 40.000.

Riscos: síndrome de Kessler e mais lixo espacial

Riscos: síndrome de Kessler e mais lixo espacial

Com cerca de 38.000 novos satélites planejados pela China, somados aos milhares da Starlink e outros, a densidade orbital dispara. Este aumento eleva significativamente o risco de colisões e a criação de lixo espacial, intensificando a síndrome de Kessler, em que uma colisão produz fragmentos que provocam mais colisões em cascata. O resultado: perigo de incapacitar regiões inteiras da LEO, comprometer missões espaciais e afetar a viabilidade a longo prazo dos serviços de satélite.

A China não economiza em ambição espacial: três mega constelações (Guowang, Qianfan e Honghu-3) com quase 38.000 satélites projetados, além de várias redes menores especializadas (IoT, mobilidade, 5G). É uma estratégia dupla: garantir a soberania digital nacional e expandir a influência global. Mas o desafio é enorme: limitação de lançamentos, desafios técnicos, acúmulo de lixo espacial e cronogramas apertados para cumprir requisitos internacionais.

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