O Spotify enfrenta uma ameaça existencial — e não é o Apple Music nem o YouTube. O problema se chama Suno. Segundo documentos internos obtidos pela Billboard, os usuários dessa plataforma de IA generativa de música criam, a cada duas semanas, a mesma quantidade de músicas que existe em todo o catálogo atual do Spotify.
Trazendo os números para a realidade: isso equivale a uma produção de 7 milhões de músicas por dia. Enquanto a indústria tradicional está concentrada em conseguir frações de centavo por reprodução, muitos usuários estão dedicando, em média, 20 minutos por dia para "compor" com o Suno.
O tsunami dos 2,4 bilhões de dólares
A Suno não é um brinquedo — é um unicórnio financeiro. Após levantar uma rodada de 250 milhões de dólares liderada por gigantes como a Menlo Ventures e a área de investimento da Nvidia, a empresa alcançou uma avaliação de 2,4 bilhões de dólares. Seu CEO, Mikey Shulman, não esconde a ambição: a companhia não quer ser apenas uma ferramenta para compositores, e sim o ecossistema completo.
A visão da Suno é transformar a música de um "consumo passivo" para uma "cultura de participação ativa", onde os usuários criam, remixam e compartilham numa rede social interna parecida com o TikTok. Se conseguirem reter esses usuários (atualmente, 39% de retenção semanal nos gratuitos e 78% nos pagantes), o futuro do Spotify fica complicado.
O grande problema para o Spotify não é só a quantidade: é que, com o tempo, a música sintética se torna indistinguível. Se o futuro da internet é ser inundado por dados gerados por IA, a música segue o mesmo caminho. Um estudo da Universidade Federal de Minas Gerais, intitulado Echoes of Humanity, confirmou o que muitos temiam: para o ouvinte médio, a IA já passa no Teste de Turing.
O estudo revelou que, ao comparar pares de músicas aleatórias, os participantes acertavam se a canção era humana ou artificial com uma probabilidade de 50% — ou seja, puro acaso. Apenas ouvintes com formação musical técnica conseguiam perceber nuances, identificando “vozes robóticas” ou mixagens excessivamente planas.
Mas para o grande público, essa barreira já caiu. Uma anedota compartilhada pelo usuário Flo Crivello no X resume tudo: pessoas descobrindo novas bandas no Spotify, se apaixonando por elas, apenas para depois descobrir que esses artistas não existem. São gerações criadas por IA.
A aposta final
A Suno enfrenta processos em massa das grandes gravadoras, mas, ao mesmo tempo, está fechando acordos que sugerem que o modelo pode ser sustentável. As gravadoras começaram processando, mas tudo dependerá do tipo de negócio que conseguirem estabelecer com a Suno. Por outro lado, a apresentação para investidores ignora totalmente a questão jurídica. A aposta deles é que, quando a justiça finalmente agir, a empresa já valha 500 bilhões de dólares.
O “problemão” do Spotify é duplo. Ele compete contra um rival com custo de produção extremamente baixo e contra um público que está aceitando cada vez mais o que é gerado por algoritmos. Ao mesmo tempo, a Suno também tem um adversário surgindo no horizonte: a OpenAI quer entrar no terreno onde ele reina hoje. E já sabemos como é quando Sam Altman decide levar a sério uma nova área de geração por IA.
Imagem | Xataka, Mockuuups Studio e Alexander Shatov (Unsplash)
Este texto foi traduzido/adaptado do site Genbeta.
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