Um estudo conduzido pela Universidade Federal do Ceará (UFC) aponta que os algoritmos de grandes plataformas digitais não apenas refletem desigualdades raciais, como também amplificam silenciosamente esse preconceito. A pesquisa, realizada pelo professor Júlio Araújo e publicada no livro “Necroalgoritmização: notas para definir o racismo algorítmico”, mostra como os sistemas de inteligência artificial filtram conteúdos, distorcem representações e favorecem discursos que reforçam o racismo, muitas vezes sem que os usuários percebam. O intuito da pesquisa é mostrar como a tecnologia pode reforçar o racismo e influenciar uma discriminação automatizada que afeta milhões de pessoas.
Estudo do Ceará revela que algoritmo está reforçando o racismo
Os algoritmos são a base fundamental da inteligência artificial (IA). Ele possui uma sequência de instruções lógicas e bem definidas para processar dados, aprender e tomar decisões. Contudo, apesar de escritos em linguagem de programação, não se pode esquecer que os algoritmos são sequências produzidas por seres humanos. Por isso, eles carregam ideologias e podem produzir textos, fotos e vídeos que amplificam preconceitos na sociedade, como o racismo e sexismo. E é exatamente isso que a pesquisa de Júlio aborda.
Segundo ele, o algoritmo se comporta como um agente que aprende e replica desigualdades já presentes na sociedade. O estudo mostra que, ao organizar buscas, sugerir conteúdos ou moderar publicações, esses sistemas tendem a priorizar imagens, temas e perfis que se alinham ao padrão branco, considerado “neutro”. Já conteúdos associados a pessoas negras aparecem menos, são interpretados como “sensíveis” ou até marcados como suspeitos.
Necroalgoritmização: entenda o que significa o termo e o que ele representa
O professor Júlio Araújo nomeou essa prática como “necroalgoritmização”, uma expressão usada para descrever o racismo algorítmico e como eles perpetuam hierarquias e desigualdades estruturais. A ideia do nome se relaciona com o pensamento da filósofa Achille Mbembe sobre a necropolítica, que analisa como determinados corpos são expostos de forma desigual à violência e ao apagamento. Na internet, isso se traduz em sistemas que diminuem a visibilidade de pessoas negras, reforçam estereótipos ou associam automaticamente certos perfis à criminalidade ou perigo. De acordo com Júlio, esse processo não ocorre de forma explícita e opera com uma lógica própria. Ele é incorporado ao funcionamento das plataformas de modo silencioso, diferente do racismo estrutural que se manifesta na sociedade de forma explícita, institucionalizada e reconhecível.
Júlio também fala sobre um comportamento que se tornou comum no ambiente digital, conhecido como “isca de raiva”. O termo foi eleito como palavra do ano pelo dicionário de Oxford e reflete o esgotamento emocional sentido por usuários de redes sociais que são expostos a conteúdos planejados para atrair a atenção e causar indignação. Segundo o pesquisador, essas plataformas lucram com o preconceito à medida que os conteúdos preconceituosos geram comoção e aumentam a coleta de dados. Dessa forma, Júlio acredita que a prática deve ser regulada, pois a medida que isso não for tratado como um problema, a tendência é que esses padrões sejam naturalizados.
Ver 0 Comentários