A música não é o bastante: Spotify mira YouTube e TikTok e quer ser a próxima rede social de vídeo. Quem deve ganhar?

Plataforma aposta em videoclipes, influenciadores e acordos estratégicos para disputar nossa atenção e enfrentar gigantes do entretenimento visual

Crédito de imagem: Hakan Nural/Anadolu Agency via Getty Images
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João Paes

Redator
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João Paes

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Escreve sobre tecnologia, games e cultura pop há mais de 10 anos, tendo se interessado por tudo isso desde que abriu o primeiro computador (há muito mais de 10 anos). 

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O Spotify está prestes a mudar de identidade e, desta vez, não é só um ajuste na interface ou um novo recurso experimental. A empresa quer deixar de ser “apenas” a principal plataforma de streaming musical do planeta para se transformar em algo maior: um concorrente direto de YouTube e TikTok. E o movimento começa agora, com a chegada de videoclipes completos dentro do app e uma estratégia agressiva para abraçar conteúdo audiovisual.

Ainda neste mês, usuários dos Estados Unidos poderão alternar com um toque entre a versão em áudio e a versão em vídeo de músicas populares. É um passo simbólico, mas poderoso: pela primeira vez, o Spotify trata vídeo não como um complemento, mas como parte central da experiência.

A ambição é explícita — a própria empresa, em uma vaga de emprego recente, deixou claro que quer construir “uma experiência de vídeo de classe mundial”. E isso só foi possível após novos acordos com gravadoras e selos, que agora liberam os direitos audiovisuais que estavam travados. Segundo Alex Norström, executivo-chefe de negócios da plataforma, isso destrava um pacote inteiro de inovações que dependiam dessas permissões.

Mas o Spotify não está apenas abrindo espaço para videoclipes. Ele já abriga quase meio milhão de podcasts e programas em vídeo. De acordo com a empresa, mais de 390 milhões de usuários assistiram a algum tipo de vídeo no app — e o tempo de visualização dobrou em um ano. Ou seja: a audiência já mostrou que existe.

Na visão de especialistas como Mark Mulligan, do MIDiA Research, essa guinada é consequência do momento atual: o streaming musical chegou ao teto nos mercados ocidentais. Crescer, agora, significa disputar tempo de tela contra TikTok, Netflix, Instagram e até games. O problema é que música, sozinha, não captura atenção — boa parte dos ouvintes usa o app em segundo plano. Vídeo, por outro lado, exige olhar, foco, retenção.

E aí entra a grande sombra no horizonte: o YouTube. Sempre foi o maior destino de videoclipes do mundo e continua sendo. Pesquisas mostram que 67% das pessoas assistem a vídeos musicais no YouTube mensalmente, muito mais que o público de streaming gratuito ou pago. E, enquanto isso, o YouTube Music cresce embalado pela integração natural com o catálogo de vídeos da plataforma-mãe.

Para tentar equilibrar o jogo, o Spotify está fazendo alianças pouco convencionais. Nas últimas semanas, fechou com a Netflix para disponibilizar versões em vídeo de podcasts famosos, como The Bill Simmons Podcast. Também levou conteúdos para um canal linear gratuito na Samsung, com episódios de The Dave Chang Show e The Rewatchables. Cada ponto de contato vira uma vitrine para atrair mais espectadores de volta ao seu próprio ecossistema.

A dúvida, agora, é até onde o Spotify vai. Abrirá uploads livres como YouTube e TikTok? A empresa não comenta — e é difícil imaginar um cenário em que ela encare o caos de moderação e direitos autorais que isso exigiria. Mas a fronteira entre criadores amadores e profissionais está cada vez menor. O app já permite vídeos curtos verticais de artistas, podcasters e até autores de audiolivros.

Para especialistas como Audrey Marshall, do Thematic, o próximo passo natural é trazer influenciadores de música, aqueles que viralizam playlists e descobertas no TikTok. Faz sentido: por que ver uma recomendação musical no TikTok para depois abrir o Spotify, quando tudo poderia estar dentro do próprio Spotify?

Se a aposta vai dar certo, ninguém sabe. Mas uma coisa é certa: a guerra pela tela ganhou mais um player — e um que faz bastante barulho.



Crédito de imagem: Hakan Nural/Anadolu Agency via Getty Images


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