Austrália está processando a Microsoft por ocultar o fato de que era possível manter uma assinatura do Microsoft 365 sem aceitar aumentos de preço

Manipular os usuários para que tomem uma decisão que lhes convém sem conhecer todas as informações é algo muito feio, Microsoft

Imagem de capa | Marcos Merino com uso de IA
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Fabrício Mainenti

Redator

A revolução da IA ​​não oferece apenas grandes lançamentos e inovações tecnológicas, mas também exemplos constantes de tensões legais e éticas em torno da forma como as empresas comercializam suas inovações para nós.

O exemplo mais recente envolve a Microsoft, que enfrenta um processo na Austrália por supostamente enganar milhões de usuários após integrar seu assistente Copilot às assinaturas do Microsoft 365 com um aumento significativo de preço.

O processo do órgão regulador australiano

O órgão que entrou com o processo, a Comissão Australiana de Concorrência e Consumidores (ACCC), acusa a Microsoft de enganar 2,7 milhões de clientes ao não informá-los claramente sobre alternativas disponíveis e mais acessíveis.

De acordo com a denúncia, apresentada contra a Microsoft Austrália e sua matriz nos EUA, a empresa modificou unilateralmente as assinaturas pessoais e familiares do Microsoft 365 em 31 de outubro de 2024, incluindo automaticamente a nova ferramenta de IA Copilot, o que resultou em um aumento substancial de preço.

Os usuários receberam uma notificação com duas supostas opções:

  1. Aceitar a integração do Copilot e os novos preços;
  2. Cancelar a assinatura completamente.

No entanto, o órgão regulador afirma que existia uma terceira opção oculta: planos chamados Microsoft 365 Personal e Family 'Classic', que mantinham todos os recursos originais, exceto o Copilot, e com os preços anteriores.

O aspecto preocupante, segundo a ACCC, é que essa opção não era exibida de forma clara. Para encontrá-la, os usuários precisavam iniciar o processo de cancelamento, navegar por várias telas e somente então a existência do plano 'classic' era revelada.

Curiosamente, a existência dos planos "Clássicos" veio à tona graças às redes sociais. Postagens no Reddit e reclamações enviadas ao centro de informações da ACCC alertaram as autoridades para o fato de que o plano mais barato ainda estava disponível, mas "escondido" nos menus de cancelamento.

Até que ponto as empresas podem impor inovações tecnológicas — como inteligência artificial — aos usuários sem oferecer a eles opções claras e informadas?

"Um engano deliberado"

A presidente da ACCC, Gina Cass-Gottlieb, afirmou que a investigação revelou um padrão de omissão intencional por parte da Microsoft:

"Argumentaremos em juízo que a Microsoft omitiu deliberadamente todas as referências aos planos 'Classic' em suas comunicações e ocultou sua existência até que os usuários tivessem iniciado o processo de cancelamento, a fim de aumentar o número de consumidores em planos mais caros integrados ao Copilot."

O órgão regulador australiano agora busca penalidades financeiras, liminares, indenização para os consumidores afetados e o pagamento das custas judiciais.

Um padrão obscuro

O caso da Microsoft na Austrália se enquadra em uma tendência cada vez mais comum (e cada vez mais questionada) de grandes empresas recorrerem a estratégias deliberadas para influenciar, confundir ou pressionar os usuários a tomarem decisões que beneficiem a empresa, manipulando a interface de seus softwares ou sites.

Esses "padrões obscuros" são decisões de design conscientes que exploram a desinformação e/ou vieses cognitivos dos usuários para direcionar suas escolhas a um resultado desejado.

A União Europeia, por exemplo, já introduziu o conceito de "padrões obscuros" no Regulamento de Serviços Digitais (DSA), proibindo explicitamente práticas que distorcem ou limitam a liberdade de escolha. O caso australiano pode servir de precedente para a promoção de medidas semelhantes na Oceania e em outras jurisdições.

Imagem de capa | Marcos Merino usando IA

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