A capacidade de congelar e reviver parece coisa de ficção científica, mas é um mecanismo de sobrevivência real para diversos organismos. Esses animais, que vivem em condições extremas, ativam um estado de animação suspensa conhecido como criptobiose, enganando a morte celular. O segredo dessa proeza não é evitar o frio, mas sim dominar a química interna para impedir que a formação de cristais de gelo destrua estruturas vitais.
Conheça cinco mestres da sobrevivência que desafiam as leis da vida, podendo ser congelados por anos e retornarem à atividade normal.
Tardígrados (Os "ursos-d'água")
Tardígrados | Fonte: Getty Images
Os tardígrados são, inquestionavelmente, os campeões da resiliência. Esses invertebrados microscópicos podem ser encontrados em praticamente qualquer lugar, desde o topo de montanhas até o fundo do mar, e sobrevivem a temperaturas tão baixas quanto $-200\ ^\circ\text{C}$ e até mesmo ao vácuo do espaço.
Quando as condições ambientais se tornam hostis, o tardígrado entra em um estado chamado tun. Ele seca quase totalmente seu corpo, retraindo-se em uma esfera compacta. Para proteger suas células do dano causado pela desidratação e congelamento, ele substitui a água interna por um açúcar chamado trealose e produz proteínas que formam um tipo de "vidro" biológico no seu interior, paralisando todas as atividades metabólicas por décadas até que a água esteja disponível novamente.
Rãs-da-madeira (Rana sylvatica)
Rã-da-madeira | Fonte: Dreamstime
A rã-da-madeira, encontrada no Alasca e no Canadá, é um dos poucos vertebrados que tolera o congelamento real de seus tecidos. Durante o inverno, até 70% de seu corpo, incluindo sangue, órgãos e líquidos, congela e cristaliza, fazendo com que seu coração pare completamente. A rã parece morta, mas é um processo controlado.
Para sobreviver a esse rigoroso congelamento interno, o anfíbio inunda seu corpo com grandes quantidades de glicose. Este açúcar funciona como um anticongelante natural, protegendo as células contra os cristais de gelo que, de outra forma, perfurariam e destruiriam os vasos sanguíneos e os tecidos, permitindo que a rã volte à vida na primavera.
Nematoides (Vermes microscópicos)
Nematoide | Fonte: Getty Images
Os nematoides (ou Nematoda) são vermes microscópicos encontrados em quase todos os habitats. Em 2018, eles se tornaram manchete por um feito histórico: cientistas reviveram nematoides que estavam congelados no permafrost (solo permanentemente congelado) da Sibéria por inacreditáveis 46.000 anos.
Essa sobrevivência de longo prazo em condições congeladas é um exemplo impressionante de criptobiose, onde o metabolismo do animal é reduzido a zero. A descoberta não apenas estende dramaticamente o que sabemos sobre a longevidade da vida, mas também fornece pistas sobre mecanismos celulares que podem ser aplicados em áreas como a criopreservação.
Lagarta da borboleta Arctique (Gynaephora groenlandica)
Gynaephora groenlandica | Fonte: BioDiversity4All
Em ambientes árticos, o verão é curto demais para que uma lagarta complete seu ciclo de desenvolvimento em apenas uma estação. A lagarta da borboleta Arctique resolve esse problema passando até 14 anos na fase larval, repetindo um ciclo único de congelamento e descongelamento a cada inverno.
Para evitar danos por gelo, a lagarta produz proteínas anticongelantes e concentra açúcares que impedem a formação de cristais grandes e letais em seu interior. Ela é capaz de pausar seu crescimento e metabolismo por meses a fio, apenas para descongelar e se alimentar durante o breve período de calor, transformando o ciclo de vida mais longo entre os insetos conhecidos.
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