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Adeus, "molécula da felicidade": estudo revela o que acontece no cérebro de quem mistura maconha e tabaco

Mistura das duas substâncias altera um sistema cerebral  ligado ao humor e pode aumentar ansiedade e dificuldade de parar de usar

Tabaco e maconha misturados. Créditos:	Westend61/GettyImages
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Laura Vieira

Redatora
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Laura Vieira

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Jornalista recém-formada, com experiência no Tribunal de Justiça, Alerj, jornal O Dia e como redatora em sites sobre pets e gastronomia. Gosta de ler, assistir filmes e séries e já passou boas horas construindo casas no The Sims.

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Misturar maconha e tabaco pode provocar mudanças importantes no cérebro, e essas alterações ajudam a explicar por que muitos usuários sentem mais ansiedade e dificuldade para abandonar o consumo. A conclusão vem de um estudo da Universidade McGill, no Canadá, publicado na revista científicaDrug and Alcohol Dependence”, que identificou maior atividade de uma enzima responsável por reduzir a anandamida, molécula associada à sensação de bem-estar e felicidade. Os pesquisadores analisaram um pequeno grupo de jovens adultos que usavam as duas substâncias e encontraram um padrão cerebral diferente em comparação com pessoas que consumiam apenas cannabis.

Entenda o que muda no cérebro quando tabaco e maconha se misturam

Geralmente, fumantes misturam tabaco e maconha para facilitar o fumo de alguns tipos de substâncias, como o haxixe, um produto concentrado feito da resina, que é derivado da planta Cannabis sativa ou Cannabis indica. Em outros casos, essa mistura também acontece com o intuito de  intensificar o efeito da cannabis ou “render" mais. E para muita gente, esse hábito acaba tornando-se um ritual diário. 

O grande problema é que por trás dessa combinação, o cérebro sofre uma variação química intensa, em que substâncias responsáveis pelo humor, pelo estresse e até pela sensação de bem-estar são diretamente afetadas. É nesse ponto que o estudo se baseia, sobre o que de fato acontece quando os dois produtos se misturam.

pessoa misturando maconha e tabaco. Geralmente, a maconha é misturada ao tabaco para carburar com mais facilidade, mas também pode ser uma tática para "render mais". Créditos: Twenty47studio/GettyImages

Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores avaliaram exames de imagem de 13 participantes. Dentre eles, oito que consumiam exclusivamente cannabis e cinco que combinavam cannabis e tabaco todos os dias. Mesmo em um grupo pequeno, os cientistas observaram um contraste significativo entre eles. Os usuários recorrentes apresentaram níveis mais altos da enzima FAAH, responsável por degradar a chamada “molécula da felicidade”, cientificamente conhecida como  anandamida, e afetar a regulação do humor e do estresse.

Isso significa que, quando a FAAH aumenta, a anandamida diminui. Em estudos anteriores, esse desequilíbrio químico já foi associado a casos de ansiedade, maior vulnerabilidade à depressão e maior risco de recaída para quem tenta reduzir ou abandonar o uso do cannabis. Para os pesquisadores, identificar esse mecanismo ajuda a entender por que pessoas que misturam maconha e tabaco costumam relatar impactos emocionais mais intensos do que as que não misturam. Até agora, a maioria dos estudos avaliava maconha e tabaco separadamente, sem investigar como uma pode potencializar os efeitos da outra no cérebro.

O que o estudo ainda não sabe: veja quais são os próximos passos

A análise dos dados dos 13 participantes foram originalmente coletados para outra pesquisa, e por essa razão, não houve um grupo formado apenas por fumantes de tabaco. Dessa forma, parte das mudanças observadas pode estar ligada exclusivamente ao tabaco, algo que a equipe ainda pretende esclarecer no futuro. 

Mesmo assim, a diferença entre os dois grupos analisados foi forte o suficiente para levantar novas hipóteses sobre como as substâncias interagem no sistema endocanabinoide, responsável pela modulação do humor. No momento, os autores já estão recrutando usuários exclusivos de tabaco e de cigarros eletrônicos com nicotina para aprofundar as descobertas em um novo estudo. A ideia é checar se alterações da enzima FAAH aparecem na ausência da cannabis e, assim, identificar o papel individual do tabaco nessa combinação.


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