Parecia que já tínhamos visto de tudo na guerra aerodinâmica das motocicletas: asas que fariam um engenheiro de Fórmula 1 sorrir, aletas sob a balança traseira e carenagens que levam o efeito solo ao limite. Mas a Yamaha decidiu olhar onde ninguém mais está olhando: na parte mais negligenciada da moto, o escapamento.
E, de acordo com diversas patentes publicadas no Japão, a ideia é tão simples quanto insana: usar os gases de escape como um jato direcionado para controlar a motocicleta.
O impulso invisível: usar os gases do motor para controlar a moto em plena curva
As patentes mostram um sistema de tubos e válvulas que redirecionam o fluxo dependendo da situação. A marca não busca silenciar nada, nem refinar as emissões: quer transformar o escapamento do motor em outra ferramenta dinâmica, algo como um mini-propelente que fornece impulso onde é necessário.
A primeira aplicação teria como alvo um dos maiores inimigos da aceleração moderna: o wheelie. Em vez de depender exclusivamente da eletrônica, a Yamaha projetou um sistema de escapamento dividido: um tubo principal (o padrão) e um segundo tubo, muito mais estreito, posicionado na parte superior. Se a roda dianteira começar a perder tração, uma válvula desvia os gases de escape para o tubo mais estreito.
Ao estreitar a saída, a pressão aumenta. Direcionando-a para cima, essa pressão empurra a traseira para baixo. O resultado: a roda dianteira retorna ao solo sem a necessidade de reduzir significativamente a potência do motor.
É claro que há um sacrifício de potência. Mas a Yamaha opera com uma premissa óbvia: quando a motocicleta está em uma roda só, essa potência extra não é mais útil para o movimento para frente. Portanto, é melhor convertê-la em força descendente para manter a motocicleta utilizável.
A segunda patente é ainda mais intrigante. Nela, o tubo de escape secundário aponta inicialmente para o chão. Mas, assim que a moto inclina, esse mesmo tubo acaba apontando para o lado externo da curva. O efeito? Quando a válvula se abre e redireciona parte do fluxo, o gás é expelido, impulsionando a moto para dentro da curva. É literalmente vetorização de empuxo aplicada a uma naked. Os desenhos incluem versões com duas saídas laterais para controlar a direção do jato, dependendo do lado da curva.
Embora uma MT-07 apareça nos esboços como um protótipo ilustrativo, ninguém no paddock duvida do verdadeiro destino: a MotoGP YZR-M1. Sistemas com válvulas internas, escapamentos duplos e controle dinâmico de fluxo não são exatamente baratos ou simples. Mas são perfeitos para uma categoria onde meio segundo pode arruinar um fim de semana.
A interpretação estratégica também é interessante. O MotoGP e o Campeonato Mundial de Superbike vêm limitando asas, apêndices e qualquer superfície externa que possa gerar downforce há anos. Mas os regulamentos não proíbem o que acontece dentro do escapamento. É aí que a Yamaha parece ter encontrado uma brecha para continuar gerando assistência aerodinâmica sem modificar a carenagem.
Um escapamento para evitar empinadas, outro para melhorar a aderência nas curvas e, quando a reta se abre, todos os gases retornam ao tubo principal para liberar toda a potência. Não sabemos se isso chegará às pistas ou mesmo às ruas, mas a ideia é tão engenhosa quanto inusitada.
Imagens | Yamaha
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