Quando pensamos em tipos sanguíneos, é natural lembrarmos das combinações mais conhecidas, como A, B, AB e O, com seus positivos e negativos. Mas esse universo dos grupos sanguíneos é muito mais complexo do que parece. A Sociedade Internacional de Transfusão de Sangue reconhece mais de 47 sistemas diferentes de tipos sanguíneos, e agora um 48º acaba de ser oficialmente identificado.
Trata-se do Gwada-negativo, um tipo tão raro que, até o momento, só foi encontrado em uma única pessoa no mundo inteiro: uma mulher de Guadalupe, no Caribe. A descoberta chamou a atenção da comunidade científica porque nenhum outro sangue conhecido é compatível com o dela, algo completamente novo. A descoberta foi publicada na revista National Library of Medicine, considerada a maior biblioteca médica do mundo.
Gwada negative: conheça o novo tipo sanguíneo descoberto por cientistas
A identificação do Gwada-negativo começou como um simples exame de rotina. O sangue da paciente reagia de forma incomum a todas as amostras testadas pelos médicos, inclusive às dos próprios irmãos. Isso significava que nenhum doador conhecido era compatível, algo extremamente raro.
Os médicos começaram a investigar mais a fundo para entender porque o sangue apresentava essa característica e descobriram uma mutação no gene PIGZ, responsável por acrescentar um açúcar específico nas células sanguíneas. Quando esse açúcar não está presente, surge um antígeno completamente novo, que define esse grupo sanguíneo que até então não existia.
Apenas uma mulher no mundo inteiro foi identificada com essse tipo de sangue
Além de raro, o Gwada-negativo é o único identificado no mundo todo. Entre todos os testes feitos, nenhum outro ser humano apresentou resultado que indique esse tipo sanguíneo. Todos os doadores avaliados até agora, inclusive a família da paciente, são Gwada-positivos.
Muita gente se sentiria especial por apresentar alguma característica rara em comparação ao restante das pessoas. Mas, nesse caso, a falta de compatibilidade representa um risco grave. Isso porque em caso de necessidade de transfusão, ainda não existe nenhum doador seguro para ela.
A paciente também apresenta algumas condições de saúde que podem estar ligadas à mutação genética, como deficiência intelectual leve e a perda de dois bebês, um padrão semelhante ao observado em outras doenças que estão com mutação no gene PIGZ .
Entendendo a ciência: como novo tipo de sangue se formou?
Para entender como o Gwada-negativo surgiu, os cientistas usaram uma técnica chamada sequenciamento completo do exoma, que analisa mais de 20 mil genes humanos. Foi assim que encontraram a alteração no gene PIGZ, responsável por atuar no processo final de produção de uma molécula chamada GPI.
Quando essa molécula não recebe o açúcar adequado, a estrutura muda, e essa mudança cria um novo antígeno, que é justamente o que define esse sistema sanguíneo raro. Para confirmar a descoberta, os pesquisadores reproduziram a mesma mutação em laboratório usando técnicas de edição genética. O resultado mostrou que as células saudáveis passaram a apresentar o mesmo padrão observado na paciente, comprovando a existência do novo sistema sanguíneo.
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