Em 2019, quando a OpenAI ainda era uma startup, a Microsoft investiu 13,75 bilhões de dólares na jovem empresa, com o objetivo de se recuperar na corrida do machine learning, onde sentia que havia ficado para trás. Ao longo dos anos, a parceria se solidificou e a empresa de Bill Gates investiu, no total, 13,75 bilhões de dólares na companhia criadora do ChatGPT.
Agora, a Microsoft se vê perdendo sua vantagem no campo da IA para sua própria parceira. Na relação mais lucrativa do setor tecnológico, a OpenAI agora é quem tem mais força. É um casamento de conveniência no qual ambas as partes desconfiam cada vez mais uma da outra.
Uma cláusula escondida no contrato entre as duas empresas pode implodir a aliança. Se a OpenAI declarar ter alcançado a Inteligência Artificial Geral (AGI), a Microsoft irá perder acesso a todos os modelos futuros criados pela parceira. Ficaria, assim, presa a uma tecnologia obsoleta enquanto sua parceira conquistaria o mercado com ferramentas superiores.
O que começou como um casamento de conveniência se transformou em uma batalha por controle. A Microsoft precisa da tecnologia da OpenAI para competir com o Google e a Amazon. A OpenAI precisa dos servidores da Microsoft para treinar seus modelos. Mas cada empresa agora busca reduzir sua dependência da outra enquanto renegocia uma relação avaliada em centenas de bilhões.
A cláusula da AGI funciona como uma bomba-relógio em três etapas:
- Primeiro, o conselho da OpenAI pode declarar unilateralmente que alcançou a AGI.
- Segundo, há um limite econômico: se a OpenAI demonstrar que seus modelos podem gerar mais de 100 bilhões em lucros, pode cortar o acesso da Microsoft.
- Terceiro, a Microsoft está proibida de desenvolver AGI por conta própria até 2030.
Quando o acordo foi assinado, a Microsoft acreditava que a AGI levaria décadas para ser alcançada. Sam Altman, CEO da OpenAI, vem encurtando esses prazos. Parece que ele tem se movimentado nos bastidores para poder chamar de AGI o que é apenas um simples modelo melhor — e, assim, se livrar da Microsoft.
O que aconteceu
Os problemas começaram em novembro de 2023, quando o conselho da OpenAI demitiu Sam Altman sem avisar a Microsoft. Embora ele tenha sido reconduzido ao cargo dias depois, a Microsoft perdeu a confiança em sua parceira.
Em março de 2024, a Microsoft contratou Mustafa Suleyman, fundador da DeepMind, para liderar sua divisão interna de IA. A OpenAI respondeu diversificando seus fornecedores de nuvem com acordos com a Oracle e o Google.
A OpenAI dobrou sua receita anual, de 5,5 bilhões para 10 bilhões de dólares, em 2024. Neste ano, já alcançou 12 bilhões. No entanto, a empresa continua operando no vermelho: em 2024, registrou prejuízos de quase 5 bilhões. A Microsoft, por sua vez, gera 75 bilhões anuais com o Azure, e uma parte importante vem da OpenAI.
Agora, a OpenAI quer reestruturar seu modelo de negócios para eliminar os limites aos lucros e permitir que investidores e funcionários tenham participações diretas. A Microsoft precisa aprovar essa mudança, o que lhe dá poder de negociação para revisar toda a relação.
Nos bastidores, as tensões ultrapassam os aspectos financeiros. Alguns pesquisadores seniores da OpenAI resistem a entregar seus desenvolvimentos à Microsoft, apesar dos direitos contratuais da empresa até 2030. Além disso, a OpenAI começou a oferecer seus serviços diretamente a clientes corporativos, contornando a Microsoft como intermediária.
Apesar de tudo, as duas empresas continuam profundamente interligadas. A Microsoft construiu todo o seu ecossistema de IA (Copilot, Azure OpenAI Service) em torno da tecnologia da OpenAI. Mas, no gosto do público, a OpenAI sai ganhando: o ChatGPT tem 900 milhões de downloads contra 100 milhões do Copilot.
E agora? As negociações avançam rumo a um acordo que pode ser concluído até o fim do verão. A Microsoft quer manter o acesso à tecnologia da OpenAI mesmo após o surgimento da AGI e obter uma participação de 30% a 35% na empresa reestruturada. A OpenAI quer liberdade para escolher seus provedores de nuvem e oferecer serviços por meio da AWS e do Google Cloud.
Se as duas não conseguirem um acordo, a Microsoft poderá manter o contrato atual até 2030, mas correrá o risco de perder acesso aos avanços mais importantes em IA. A OpenAI, por sua vez, precisa da aprovação da Microsoft para concluir sua reestruturação e acessar 40 bilhões em novo financiamento.
A grande questão é se uma das alianças mais poderosas da tecnologia pode sobreviver quando ambos os parceiros se tornam rivais.
A resposta também mostrará quem controlará boa parte do futuro da IA.
Imagem | Xataka
Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.
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