Adrián Oyaneder estava olhando os Andes, no Chile, quando achou algumas estruturas peculiares e depois 76 paredes de pedra. O que ele comprovou depois era uma parte significativa dos povos originários do país.
Publicado na revista Antiquity pela Universidade de Cambridge, Oyaneder investigou o que tais estruturas poderia ter sido e o motivo de suas funcionalidades. Quando questionou moradores locais, nem mesmo eles sabiam explicar o que eram ou sequer o nome que poderiam ter. Alguns apenas referiam-se a essas estruturas como "trampas para burros" ou armadilha para burros.
Foi aí que ele cruzou com informações arqueológicas do Peru no século XX, encontrando algo chamado chacu, estruturas usadas pelas Incas durante "caçadas reais" de vicunha, um animal parecido com um camelo.
Os muros de pedra medindo cerca de 150 metros de comprimento e cerca de 1,5 metro de altura eram todos construídos em encostas íngremes de montanhas em pares que convergiam em um "V" e terminavam em recintos circulares de pedra.
Assim como o que foi achado no Peru, Oyaneder sugere, então, que as estruturas de pedra chilenas também foram utilizadas para o mesmo propósito por caçadores da região. Ele também afirma que as pedras datam de 6 mil a algumas centenas de anos atrás.
Essas armadilhas parecem ter sido usadas com a mesma finalidade de emboscar vicunhas, que outrora foram abundantes na região antes de serem quase extintas com a chegada de espanhóis às Américas.
Além das estruturas, Oyaneder também localizou cerca de 800 abrigos de pedra por perto, sugerindo que foram usadas como base para caçadores, ajudando ao melhor entendimento da caça no Chile muito antes dos espanhóis chegarem. Oyaneder informa que possivelmente há outros locais espalhados nas montanhas próximas.

O mais interessante é que essas mesmas estruturas também podem ser achadas em outros locais do mundo, como Jordânia e Arábia Saudita, regiões muito distantes da América do Sul e que praticamente seria impossível de terem contato.
Assim como no Chile, essas armadilhas tinham os mesmos fins de prender animais de caça, como gazelas e camelos. A estrutura em "V" servia para afunilar as criaturas até um local em formato de círculo, onde eram mortos efetivamente.
Oyaneder sugere, então, que isso se trata de um desenvolvimento paralelo — uma convergência —, quando diferentes sociedades criam tecnologias similares sem terem qualquer contato com o outro. Um grande exemplo disso são as pirâmides do Egito e aquelas encontradas na América do Sul, como no México, e até na China.
"Se você pensar no formato dos anzóis pré-históricos, encontrará soluções semelhantes [em lugares diferentes], dependendo do tipo de peixe que deseja capturar", explica ele. "O mesmo acontece com essas armadilhas. Se você tem animais muito esquivos e um número limitado de pessoas, e quer ser seletivo ou não se esforçar muito, então esta é a solução."
Capa da matéria: Reprodução/Adrián Oyaneder
Ver 0 Comentários