A Lockheed Martin teve uma ideia para tornar o Black Hawk uma arma mais letal; removeu a cabine e o tornou autônomo

O novo U‑Hawk pode transportar mais carga, lançar drones e operar durante 14 horas sem reabastecer

U-Hawk / Imagem: Lockheed Martin
Sem comentários Facebook Twitter Flipboard E-mail
victor-bianchin

Victor Bianchin

Redator
victor-bianchin

Victor Bianchin

Redator

Victor Bianchin é jornalista.

1272 publicaciones de Victor Bianchin

Durante a feira anual da Associação do Exército dos EUA, o Black Hawk reapareceu irreconhecível. O helicóptero, que acumulou décadas de serviço, perdeu sua cabine e controles para ganhar uma proa que se abre em duas portas, dando acesso a um compartimento ampliado. O novo nome é U‑Hawk e a conversão é feita pela Sikorsky, empresa da Lockheed Martin. Em dez meses, um UH‑60L foi transformado em um protótipo não tripulado com arquitetura autônoma, apresentado ao público pela primeira vez na AUSA.

O U‑Hawk foi oficialmente exibido em 13 de outubro, convertido a partir de um antigo UH‑60L do Exército dos Estados Unidos. Segundo a Lockheed Martin, o projeto passou de conceito a protótipo nesse período e está em fase de validação antes do primeiro voo, previsto para 2026. Até o momento, o desenvolvimento foi financiado internamente pela Sikorsky e se apoia na experiência prévia da empresa em automação de voo.

Do Black Hawk ao U‑Hawk: o velho helicóptero que renasce sem cabine

A mudança mais visível está na proa. Onde antes se concentravam os controles e instrumentos, agora há duas portas tipo ostra que se abrem para os lados e uma rampa motorizada que permite carregar e descarregar mesmo com os rotores em funcionamento. Integra um sistema fly-by-wire de terceira geração junto à MATRIX, a tecnologia de autonomia da Sikorsky que coordena sensores, câmeras e algoritmos para gerenciar o voo sem intervenção humana. O redesenho oferece 25% mais espaço útil em relação a um UH‑60L convencional.

A ampliação da fuselagem frontal não só libera espaço, como também multiplica as opções de carga. O U‑Hawk pode transportar até 3.175 quilos em seu interior e erguer outros 4.080 por meio do gancho externo, igual a um Black Hawk convencional, porém com mais margem para objetos volumosos. O compartimento de carga aceita quatro contentores padrão JMIC, o dobro do anterior, ou um pod completo de seis foguetes HIMARS. Também pode alojar dois mísseis antinavio Naval Strike Missile e um veículo terrestre não tripulado que entra e sai pela sua própria rampa.

Uma das novidades mais chamativas é o sistema de lançamento interno que a Sikorsky denomina quiver. Esse módulo, instalado no compartimento de carga, pode abrigar entre 24 e 50 drones merodeadores, prontos para ser desdobrados em pleno voo. Cada carga pode ser configurada para tarefas de vigilância, reconhecimento ou guerra eletrônica, e o sistema admite combinações mistas conforme a missão. A empresa afirma que esse desenho permitirá ao U‑Hawk atuar de forma autônoma antes da chegada das tropas, desobstruindo ou analisando o terreno por seus próprios meios.

A autonomia é um dos pontos fortes do U‑Hawk. Segundo a Lockheed Martin, ele pode cobrir até 1.600 milhas náuticas sem assistência — cerca de 2.960 quilômetros — e manter‑se em voo por até 14 horas sem reabastecer. A empresa indica que é possível levar tanques internos para ampliar o alcance ou o tempo em estação, mas não especificou se são necessários para alcançar esses valores máximos. Em qualquer caso, a margem operacional apontada por esses dados é incomum para um helicóptero desta categoria.

U-Hawk

A Sikorsky descreve o U‑Hawk como um reforço adiantado do assalto aéreo. Em uma missão típica, o helicóptero decolaria antes das tropas e liberaria do ar vários launched effects para reconhecimento ou ataque. Depois, aterrissaria, lançaria um veículo terrestre não tripulado e voltaria a elevar‑se sem intervenção humana. Essa sequência busca reduzir a exposição dos soldados e abrir caminho em zonas hostis, com um enfoque que também contempla usos não militares, como apoio em incêndios ou desastres naturais.

A intenção é que operar um U‑Hawk seja tão simples quanto usar um aplicativo. Os operadores introduzem os objetivos da missão em um tablet, e o software MATRIX calcula a rota, controla a decolagem e gerencia o voo de forma autônoma. O nível de intervenção pode ser ajustado conforme as circunstâncias, desde um controle remoto mais próximo até uma supervisão mínima. Além disso, o sistema reconhece se está em espaço civil ou militar e adapta seu comportamento.

O U‑Hawk surge também como uma aposta pela eficiência. A Sikorsky está aproveitando fuselagens UH‑60L retiradas do Exército dos Estados Unidos, às quais substitui os sistemas de voo e a eletrônica por versões próprias, mais simples e de menor custo. A empresa afirma que essa integração vertical — ao fabricar seus próprios computadores de gestão e atuadores — reduz o custo total do sistema e facilita a manutenção. Por se basear na família H‑60, o U‑Hawk também herda uma cadeia de suprimentos bastante consolidada.

Se o cronograma for cumprido, o primeiro voo do U‑Hawk ocorrerá em 2026. Será um passo decisivo para verificar se a autonomia total pode ser integrada à frota H‑60, um modelo que o Exército dos Estados Unidos planeja manter operacional pelo menos até 2070. A ideia de converter um helicóptero clássico em uma plataforma não tripulada aponta para um futuro em que máquinas com e sem pilotos coexistam. O funcionamento deste primeiro protótipo será determinante para que essa visão se traduza em uma nova geração de aeronaves.

Imagens | Lockheed Martin

Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.


Inicio