Há anos somos obcecados por senhas seguras e Wi-Fi público; acontece que o vazamento de dados estava nos satélites

  • Pesquisadores da Califórnia capturaram dados privados de milhares de clientes de operadoras, empresas e até mesmo militares;

  • Tudo o que eles precisavam era de uma antena parabólica de US$ 800

Imagem | SpaceX no Pexels
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Fabrício Mainenti

Redator

Mesmo nos preocupando em escolher senhas fortes e garantir que nossos vizinhos não roubem nosso Wi-Fi, qualquer um pode capturar dados privados simplesmente apontando uma antena parabólica para um satélite. Não é uma conspiração do governo; foi o que pesquisadores da Califórnia descobriram usando equipamentos que custaram apenas US$ 800 (cerca de R$ 4.398).

O que aconteceu?

A Wired relata que vários pesquisadores das Universidades da Califórnia e de Maryland vêm gravando comunicações de diversos satélites há três anos. Durante esse tempo, eles coletaram uma enorme quantidade de dados privados. Entre as informações coletadas, estão chamadas e mensagens de usuários de diversas operadoras, os sites visitados por passageiros de avião usando Wi-Fi a bordo, comunicações entre diversas infraestruturas críticas, como plataformas de petróleo ou empresas de energia elétrica, e até mesmo comunicações policiais e militares que revelam a posição de seus equipamentos.

Por que isso importa

De acordo com as conclusões do estudo, estima-se que cerca de metade dos sinais de satélites geoestacionários transportam informações confidenciais de consumidores, empresas e até mesmo governos. Todos se esforçam para proteger suas redes Wi-Fi, suas contas online e seus dispositivos móveis, mas os resultados da pesquisa mostram que os satélites são um elemento crítico por meio do qual os dados também podem ser infiltrados.

Equipamentos básicos

O impressionante é que os pesquisadores não utilizaram tecnologia supercomplexa para obter essas descobertas. Eles simplesmente colocaram uma antena parabólica no telhado de um prédio universitário e começaram a apontá-la para os satélites. Eles gastaram apenas US$ 800 em todos os equipamentos. Os dados obtidos são dos satélites que conseguiram capturar de sua posição no sul da Califórnia, que eles estimam representar 15% do total; então, é lógico que a quantidade de dados sensíveis seja muito maior. Além disso, também mostra que qualquer pessoa pode fazer o mesmo de qualquer lugar do mundo.

Operadoras

Os dados mais significativos vieram de operadoras de telefonia, principalmente da T-Mobile, mas também da Telmex e da AT&T México. Em apenas nove horas de registro de comunicações, os pesquisadores conseguiram coletar os números de telefone de mais de 2.700 usuários da T-Mobile, juntamente com mensagens de texto e chamadas telefônicas. Após contatar a T-Mobile para alertá-la, a empresa tomou medidas para criptografar os dados. A AT&T também corrigiu o problema e afirmou que o problema se devia à falha de uma operadora de satélite na configuração de algumas torres em uma região do México. A Telmex não se pronunciou sobre o assunto.

Dados militares e policiais

A exposição de dados de qualquer pessoa é problemática, mas a exposição de dados militares e policiais adiciona uma camada extra de severidade. Os investigadores conseguiram interceptar comunicações entre navios militares dos EUA e os nomes desses navios. Como estavam baseados no sul da Califórnia, também obtiveram dados de autoridades mexicanas, incluindo transmissões de informações confidenciais sobre operações em andamento. 

"Quando começamos a ver helicópteros militares, não era o grande volume de dados que nos preocupava, mas a extrema sensibilidade desses dados", afirma Aaron Schulman, codiretor da investigação.

Segurança cibernética no espaço

Em agosto deste ano, pesquisadores descobriram diversas vulnerabilidades que, sob certas condições, poderiam permitir o controle remoto de satélites. No início da guerra na Ucrânia, a Rússia lançou um ataque cibernético contra a ViaSat, afetando milhares de usuários. Casos como esses destacam a necessidade de estender o debate sobre segurança cibernética aos sistemas espaciais, não apenas aos terrestres.

Imagem | SpaceX no Pexels

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