Pela primeira vez no Brasil, um estudo científico documenta casos de homens trans que se tornaram pais biológicos por meio da fertilização in vitro (FIV). A pesquisa, conduzida por uma equipe multidisciplinar da Huntington Medicina Reprodutiva, acompanhou três pacientes que interromperam temporariamente o uso de testosterona para realizar a estimulação ovariana e formar embriões posteriormente transferidos para parceiras cisgênero. As idades variavam entre 32 e 38 anos, e todos já estavam em uso de hormônios há vários anos.
A técnica utilizada segue o protocolo tradicional da FIV: coleta de óvulos, fecundação em laboratório e transferência de embriões. Segundo dados do Comitê Internacional de Monitoramento de Tecnologias de Reprodução Assistida (ICMART), mais de 13 milhões de bebês já nasceram pelo método no mundo.
No caso de homens trans, o processo exige adaptações para garantir segurança clínica e acolhimento emocional, especialmente durante a suspensão hormonal temporária.
Resultados que ampliam possibilidades
Os resultados observados foram considerados encorajadores. Mesmo após longos períodos de terapia com testosterona, os pacientes apresentaram óvulos maduros e embriões de alta qualidade.
Entre os três casos, houve um nascimento saudável, um aborto espontâneo e uma gestação em evolução. A pausa no hormônio permitiu que os ciclos menstruais retornassem e que a resposta ovariana necessária fosse alcançada, confirmando que homens trans podem, sim, gerar material biológico para uma gestação.
Para a médica especialista em reprodução assistida Laura Maia, o estudo simboliza um avanço científico e social, reforçando que o tema da fertilidade ultrapassa barreiras de gênero. A pesquisa também destaca a importância de orientação prévia: muitos jovens iniciam hormonioterapia ou realizam cirurgias sem receber informações sobre o impacto na fertilidade futura. O congelamento de óvulos ou embriões antes dessas etapas é apontado como um passo essencial para garantir autonomia reprodutiva.
Com acompanhamento adequado, homens trans têm reais possibilidades de contribuir biologicamente para a formação de uma família.
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