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É a melhor série na TV atualmente que quase ninguém está assistindo: a Apple TV está mais uma vez priorizando a qualidade acima de tudo

'Pluribus' não está disponível na Netflix, Disney+ ou HBO, e é isso que a torna especial

'Pluribus' não está disponível na Netflix, Disney+ ou HBO, e é isso que a torna especial.
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Fabrício Mainenti

Redator

A Apple TV+ fez de novo. É uma plataforma que podemos considerar de nicho, que se recusa a seguir as tendências que unificam as demais... e nos oferece uma das melhores séries que podemos assistir agora. A marca registrada de Vince Gilligan, um enredo familiar para os fãs de ficção científica e uma tremenda mensagem humanista que reflete sobre o aqui e agora. A série em questão é 'Pluribus', e essas são algumas das chaves para o seu sucesso.

Como tudo começou

Após encerrar o universo de 'Breaking Bad' com o final de 'Better Call Saul' em 2022, Vince Gilligan apresentou à Sony Pictures Television um projeto original completamente diferente de Walter White. Uma disputa acirrada se iniciou entre as plataformas, e a Apple TV+ venceu oferecendo o que Gilligan mais valorizava: "confiança e tempo". Essa confiança se traduziu em números: cada episódio de 'Pluribus' tem um orçamento de US$ 15 milhões (cerca de R$ 80,8 milhões), cinco vezes o custo de 'Breaking Bad'.

Sobre o que é?

"A pessoa mais infeliz da Terra precisa salvar o mundo da felicidade", diz a sinopse oficial da Apple TV+. Carol Sturka, uma escritora de romances, descobre que é uma das apenas 13 pessoas imunes à "União": um vírus extraterrestre que funde mentes humanas em uma consciência coletiva perpetuamente otimista. O título do filme inverte o lema americano "E pluribus unum" (de muitos, um) para questionar o que acontece quando o individualismo desaparece.

Gilligan, um autoproclamado "nerd de ficção científica de longa data", queria "explorar todos os clichês do mundo da ficção científica". Por exemplo, Carol batiza a colmeia de "Pod People", uma homenagem direta a "Invasores de Corpos", que Gilligan obviamente cita, juntamente com "Além da Imaginação" ("The Twilight Zone"), como uma inspiração fundamental. 

Há também um toque dos Borg de 'Star Trek' no design da mente coletiva, mas, no geral, toda a série exala uma atmosfera clássica de ficção científica, como algo saído de uma história de Richard Matheson, absolutamente encantadora.

Todo mundo adora 'Pluribus'

A série foi unanimemente aclamada em agregadores como Rotten Tomatoes (99%) e Metacritic (86). Foi chamada de "um veículo excepcional e singular para sua estrela" (aliás, Gilligan concebeu o projeto especialmente para Rhea Seehorn, que concordou em participar antes mesmo de ler um único rascunho do roteiro). A BBC a saudou como "uma das séries mais inteligentes e divertidas de 2025", e a Variety como uma "obra televisiva cativante".

É realmente tão bom assim?

É tudo uma questão de opinião, mas... sim. A premissa por si só — ficção científica original com um orçamento de blockbuster em uma era em que a mídia audiovisual se curva às franquias — é admirável. Mas, além disso, o equilíbrio entre sátira, drama impactante e direção primorosa é exatamente o que esperamos do criador de 'Breaking Bad', com uma narrativa que se desenrola gradualmente, sem segredos forçados ou reviravoltas baratas, mas que mantém o espectador completamente cativado pelos acontecimentos.

Alguns podem criticar sua abordagem explicitamente simbólica, mas a sátira funciona perfeitamente (primeiro, em relação aos artefatos de IA; segundo, em relação à espécie humana pós-internet em que nos tornamos, onde nosso único propósito parece ser demonstrar uma complacência perpétua em relação a estranhos). 

Há espaço de sobra em sua estrutura para nos mostrar personagens que operam em um espectro infinito de tons de cinza, como já fez em apenas três episódios, nos forçando a nos fazer a pergunta de um milhão de dólares em cada episódio: o que eu faria?

A Apple TV+ é a grande vencedora em tudo isso

"Pluribus" representa um dos projetos mais ambiciosos da plataforma até hoje (nada mal para quem criou um gigante como "Fundação"). A plataforma investe entre US$ 4,5 e US$ 5 bilhões (R$ 24,2 e R$ 26,9 bilhões) anualmente em conteúdo, seguindo uma estratégia radicalmente diferente da Netflix ou do Disney+: prestígio em vez de grande volume

A Apple TV+ controla apenas 8-9% do mercado de streaming dos EUA, atrás da Netflix, Prime Video, HBO Max e Disney+. Mas seu objetivo é diferente.

A Apple TV+ se tornou a zona de prestígio do streaming, aquele nicho onde a HBO antes se acomodava confortavelmente. Agora, há mais espectadores do que nos tempos de "Família Soprano", e a Apple TV+ perde cerca de um bilhão de dólares (cerca de R$ 5,3 bilhões) por ano, mas pode se dar a esse luxo

Os números são impressionantes: 271 títulos originais em comparação com os 13 mil do Prime Video, mas esses 271 títulos são de inquestionável qualidade técnica e artística. A Apple TV — e 'Pluribus' é a melhor prova disso — não busca conquistar números, mas sim a conversa.

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