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Descobrimos o calcanhar de Aquiles do fungo mais temido nos hospitais, e isso nos dá esperança

Fungo Candida auris é um dos mais temidos em qualquer hospital

Imagem | Masakazu Sasaki
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PH Mota

Redator
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PH Mota

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Jornalista há 15 anos, teve uma infância analógica cada vez mais conquistada pelos charmes das novas tecnologias. Do videocassete ao streaming, do Windows 3.1 aos celulares cada vez menores.

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No ambiente hospitalar, existe um fungo que é, sem dúvida, um verdadeiro pesadelo para os sistemas de saúde modernos, já que pode paralisar um andar inteiro de um hospital. Estamos falando do Candida auris, identificado pela primeira vez em 2009, sem dúvida um "superfungo", resistente à maioria dos medicamentos comuns, capaz de se espalhar rapidamente e se tornar uma epidemia silenciosa que mata cada vez mais pessoas.

Seu ponto fraco

Devido à sua agressividade, a ciência tem um objetivo claro: encontrar seu ponto fraco para desenvolver um medicamento que nos permita destruí-lo. Agora, um grupo de pesquisadores publicou uma pesquisa revolucionária na revista Communications Biology: eles identificaram o processo genético exato que o fungo usa para sobreviver dentro do corpo humano. E conhecer seu funcionamento interno nos dá opções para destruí-lo.

O problema do ferro

Como quase qualquer organismo vivo, esse fungo precisa de ferro para crescer, se replicar e causar danos. No corpo humano, o ferro não é "gratuito", justamente por ser um sistema de defesa para impedir que patógenos o usem contra nós.

Agora, a ciência descobriu que o fungo Candida auris possui uma estratégia para contornar essa barreira de defesa do nosso corpo. E o segredo está em sua genética, especificamente em genes chamados XTC, que atuam como "bombas de sucção" que permitem ao fungo absorver ferro mesmo nas condições mais hostis.

E essa é a chave. Se o ferro é o que os alimenta, e já sabemos como eles obtêm esse mineral do nosso próprio corpo... já temos a chave para impedir que consumam nossas reservas.

Aliado inesperado

Um dos maiores desafios no estudo desse fungo é sua capacidade de se reproduzir em altas temperaturas, como 37 °C. Isso dificulta o uso de modelos tradicionais para os estudos, que até então utilizavam o peixe-zebra, que prefere águas frias.

Para superar essa desvantagem, a equipe de pesquisa utilizou um modelo bastante inovador: o peixe-rei. Um pequeno peixe capaz de viver em ambientes desérticos e tolerar temperaturas de até 37 °C, o que o torna um "laboratório vivo" perfeito para observar o comportamento do fungo em tempo real dentro de um organismo vertebrado.

Sua importância

É preciso levar em conta que estamos lidando com um patógeno classificado pela OMS como de "prioridade crítica", e é por isso que esta pesquisa possibilita a criação de medicamentos que atacam o sistema de "sucção" dos fungos para combatê-los. Além disso, já temos em nosso arsenal de medicamentos algo que poderíamos usar: quelantes de ferro. Uma opção que pode "matar de fome" os fungos, mas que ainda precisa ser testada.

Ademais, será possível identificar patógenos com muito mais precisão, visto que existem cepas de fungos muito mais agressivas por capturarem muito mais ferro em seu interior.

O futuro

Enquanto nos concentramos em superbactérias que podem condenar a humanidade, a pesquisa também deve se concentrar em fungos que estão desenvolvendo resistência a tratamentos específicos. Dessa forma, encontrar uma via que o fungo "não possa evitar" nos dará, pela primeira vez, uma vantagem estratégica que não devemos hesitar em utilizar.

Imagem | Masakazu Sasaki

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