O escândalo dos motores PureTech da Stellantis ainda ecoa na indústria. E não é para menos, já que centenas de milhares de veículos do grupo automotivo foram afetados, enfrentando uma série de falhas e indenizações que destruíram completamente a reputação da empresa. Contudo, é importante mencionar que a tecnologia da correia dentada molhada que causou o colapso da Stellantis não é exclusiva do grupo franco-italiano: Ford e Volkswagen também usaram a infame correia banhada em óleo, embora com consequências diferentes.
Tecnologia revolucionária, na teoria
A história começou com uma ideia aparentemente brilhante: eliminar a manutenção cara da correia dentada criando um sistema que durasse toda a vida útil do veículo. A solução era uma correia banhada em óleo que, segundo os engenheiros, reduziria o atrito e aumentaria a durabilidade para até 240.000 quilômetros. O óleo deveria proporcionar maior elasticidade à borracha e proteger o componente do desgaste.
A Ford foi a primeira a implementar essa tecnologia de correia molhada, mesmo antes dos motores EcoBoost chegarem ao mercado. A Ford instalou o sistema dentro do motor, em vez de usar uma caixa lateral tradicional, mas quando os primeiros problemas começaram a surgir, a empresa não hesitou. Sem se envolver em grandes complicações ou gerar escândalos midiáticos, substituiu a correia por uma corrente em seus motores EcoBoost de três cilindros com desativação.

A Volkswagen também adotou a correia molhada, principalmente em motores a diesel como o três cilindros 1.6 TDI e até no 2.0 TDI. No entanto, a implementação foi menos arriscada: a correia molhada não acionava os comandos de válvulas, e sim apenas a bomba de óleo. Essa diferença técnica crucial explica por que as consequências para a Volkswagen não foram tão devastadoras quanto as enfrentadas pela Stellantis.
A diferença chave está no fato de que a Stellantis transformou a correia molhada no componente principal do sistema de distribuição, responsável por sincronizar o trem de válvulas. Quando ela falha, as consequências são catastróficas, resultando em reparos que custam milhares de dólares e podem inutilizar completamente o motor. Já a Ford e a Volkswagen limitaram o uso da correia a funções menos críticas ou corrigiram rapidamente ao perceber os primeiros sinais de problema.
Por que o sistema falhou
Nos motores tricilíndricos, especialmente em uso urbano, gotas de combustível não queimado se misturam ao óleo do cárter. Essa mistura abrasiva desgasta prematuramente a correia, e as partículas soltas entopem filtros e dutos, causando queda na pressão do óleo. Não conter a falha a tempo pode destruir o motor, por isso a polêmica. O problema se agravou na Stellantis porque o grupo foi mais otimista que os outros ao adotar essa tecnologia.
Enquanto a Ford resolveu o problema com relativa discrição e a Volkswagen manteve a situação sob controle, a Stellantis se viu envolvida em um escândalo de proporções gigantescas. Centenas de milhares de veículos com motores PureTech 1.0 e 1.2 fabricados entre 2012 e 2023 foram chamados para recall. A empresa teve que ampliar garantias, criar sistemas de reembolso e até trocar de CEO, com Antonio Filosa assumindo após a demissão de Carlos Tavares.
Como saber se seu carro está afetado
Se você tem dúvidas se seu carro usa corrente ou a problemática correia banhada em óleo que causou toda essa confusão, pode consultar o código do motor. Os motores 1.2 PureTech com corrente (os seguros) têm os códigos “EB2LTED” ou “EB2LTEDH2” e estão presentes em modelos como Peugeot 408, Opel Frontera e Fiat 600.
Os motores problemáticos estão principalmente nos Citroën C3 e C4, Peugeot 208, 308 e 3008, Opel Corsa e Mokka, e DS 3 e DS 7, fabricados entre 2012 e 2023. A Stellantis ampliou as garantias e oferece reembolsos para reparos, mas o ideal é que você detecte a falha a tempo para evitar maiores transtornos e poder reclamar com o fabricante.
Imagem de abertura | CAT Magazine
Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.
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