EUA têm uma mensagem para aqueles que deram as costas ao F-35: ele agora voará apenas com seu próprio exército de drones

Estratégia busca redefinir a própria natureza do combate aéreo, colocando o F-35 como o eixo de uma futura era de interoperabilidade autônoma

Imagem | Lockheed Martin
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PH Mota

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Jornalista há 15 anos, teve uma infância analógica cada vez mais conquistada pelos charmes das novas tecnologias. Do videocassete ao streaming, do Windows 3.1 aos celulares cada vez menores.

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Não é segredo que o verão do F-35 da Lockheed Martin não foi o melhor de todos. Após o avião ficar encalhado por um mês na Índia, a reversão de um pedido pela Espanha (à qual outros países se juntaram), uma segunda falha em um caça, desta vez no Japão, e um relatório que questionou o avião e seu sofisticado software por causa do gelo, pode-se dizer que a tempestade passou.

Agora, os Estados Unidos têm uma mensagem: o F-35 será mais potente do que nunca.

Aposta tecnológica

A Lockheed Martin deu um salto decisivo na evolução do F-35 Lightning II ao incorporar recursos avançados de controle de enxames de drones usando inteligência artificial. Com um investimento de cerca de US$ 100 milhões em programas como o Projeto Carrera, a empresa busca transformar o caça não apenas numa aeronave de caça multifuncional e furtiva, mas num verdadeiro centro de comando aéreo capaz de direcionar veículos não tripulados em missões de reconhecimento, guerra eletrônica ou ataques coordenados.

O objetivo: manter a supremacia aérea dos EUA diante de ameaças cada vez mais complexas, apostando na sinergia entre aeronaves tripuladas e sistemas autônomos em um ecossistema de combate em rede.

A integração com IA permite que o F-35 se comunique em tempo real com drones, processando uma grande quantidade de dados e tomando decisões instantâneas que ampliam seu alcance operacional muito além de seus próprios sensores. Testes recentes descobriram que um F-35 poderia controlar diretamente um drone, abrindo caminho para operações nas quais a aeronave pode "ver" e engajar alvos por meio de plataformas intermediárias, sem colocar o piloto em risco direto.

Além disso, a Lockheed propõe que o próprio F-35 tenha um modo não tripulado opcional, o que reduziria os custos em comparação com o desenvolvimento de um caça de sexta geração do zero e permitiria o uso das fuselagens já produzidas com maior grau de autonomia.

A era autônoma

O F-35 nasceu do programa Joint Strike Fighter, que em 2001 deu à Lockheed a vitória sobre a Boeing. Desde então, evoluiu para três variantes (F-35A de decolagem convencional, F-35B de decolagem curta e pouso vertical e F-35C embarcado) e tornou-se um componente-chave em diversos ramos das Forças Armadas dos EUA e aliadas.

A previsão é de que até 190 unidades sejam entregues em 2025, refletindo a magnitude do programa e a confiança da empresa em sua validade a longo prazo. No entanto, a complexidade do sistema apresenta riscos, como evidenciado pelo incidente no Alasca, em que um piloto teve que ejetar após quase uma hora de tentativas de solução com engenheiros da Lockheed, o que ressalta a necessidade de testes extensivos antes da implantação de capacidades autônomas em larga escala.

Domínio aéreo integrado

O peso desses desenvolvimentos recai em grande parte sobre a divisão Skunk Works da Lockheed, que propõe um conceito de "domínio aéreo integrado", no qual o F-35 se beneficiará de tecnologias de sexta geração, incluindo autonomia avançada, interoperabilidade com enxames e melhorias em stealth.

Empresas parceiras como a Northrop Grumman e a BAE Systems fortalecem as capacidades em guerra eletrônica e vigilância, expandindo a rede de funções conectadas. Analistas da indústria interpretam essa estratégia como um movimento calculado contra rivais como a Boeing, especialmente após a perda de um contrato para caças de última geração, e como uma forma de apresentar o F-35 como uma ponte para frotas totalmente autônomas.

Drone Vectis Drone Vectis

Nascimento do Vectis

A Skunk Works apresentou recentemente o drone Vectis, um grande sistema de combate aéreo não tripulado (Grupo 5) concebido sob a filosofia Agile Drone Framework. A estrutura prioriza modularidade, interoperabilidade e rápida adaptabilidade diante de ameaças em constante mudança, de modo que o Vectis não se define por um hardware fechado, mas por sua capacidade de integrar cargas úteis, arquiteturas de controle e missões diversas, de acordo com as necessidades de cada operador.

O nome, de origem latina, faz alusão à "alavanca" que o sistema representa para multiplicar o poder aéreo. Seu primeiro protótipo deve voar dentro de dois anos, após a Skunk Works aprovar sua proposta inicial "excessivamente sofisticada", que foi deixada de fora da primeira fase do programa de Aeronaves de Combate Colaborativas (CCA) da Força Aérea dos EUA.

Design furtivo

As imagens reveladas mostram um drone sem fio, entradas de ar montadas na parte superior, linha do nariz inclinada e um duto em S que reduz a assinatura de radar e infravermelho. Suas dimensões exatas não foram divulgadas, embora se saiba que é menor que um F-16, mas maior que os drones de mísseis CMMT da Lockheed.

O Vectis foi projetado para operar em pistas convencionais, embora com vistas a um futuro em que possa se adaptar a ambientes austeros ou bases dispersas sob conceitos como o Agile Combat Employment (ACE). Sua arquitetura permite a instalação de radares compactos, sensores infravermelhos, sistemas de guerra eletrônica ou pacotes de retransmissão, além de transportar mísseis ar-ar e ar-superfície a partir de porões internos. Além disso, não busca atingir velocidades supersônicas, mas prioriza furtividade, resistência e flexibilidade multimissão.

O Vectis é totalmente integrado a plataformas de quinta e sexta geração, como o F-22 e o F-35, que poderão atuar como nós de controle para direcionar enxames de drones. Simulações já realizadas demonstram a capacidade de utilizá-lo em missões de defesa aérea, supressão de defesas antiaéreas, inteligência, vigilância e reconhecimento.

Sua arquitetura de missão aberta, alinhada aos padrões de referência de Washington, permite compatibilidade com sistemas multinacionais e abre caminho para seu uso por aliados dos EUA. A Lockheed enfatiza a importância de interfaces de controle intuitivas, como telas sensíveis ao toque, para que os pilotos possam comandar manobras ou lançamentos de armas sem sobrecarregar sua carga de trabalho. O sistema foi projetado para voar diariamente em treinamento, mas também para ser armazenado e implantado sob demanda, o que traz flexibilidade logística e estratégica.

Desafios e futuro

O desenvolvimento de um F-35 capaz de comandar enxames de drones avançados como o Vectis levanta questões estratégicas e éticas sobre o nível de autonomia aceitável em operações de guerra. Enquanto isso, a lógica do Pentágono de avançar em direção à guerra em rede reforça a necessidade de híbridos homem-máquina que reduzam os riscos humanos e multipliquem a eficácia em cenários contestados.

A pressão orçamentária e a urgência em manter a superioridade aérea estão levando a Lockheed a reinventar um programa que pode se estender até a década de 2040. Com experimentos em andamento sob a égide do Projeto Carrera, a empresa não está apenas atualizando uma aeronave: ela visa redefinir a própria natureza do combate aéreo, colocando o F-35 como o eixo de uma futura era de interoperabilidade autônoma.

Imagem | Lockheed Martin

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