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Cargueiro chinês revoluciona comércio marítimo: da China à Europa em 20 dias

Em 20 dias, o Istanbul Bridge uniu a China e a Europa pelo teto do mundo, navegando entre o gelo para entregar baterias e componentes de carros elétricos

Porta-contêineres / Imagem: Xinhua, Metro TV
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Victor Bianchin

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Victor Bianchin

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Victor Bianchin é jornalista.

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Um porta-contêineres chinês acaba de fazer história. O Istanbul Bridge acaba de completar pela primeira vez uma travessia pelo Ártico até o porto britânico de Felixstowe, reduzindo pela metade o tempo habitual de envio de mercadorias da China para a Europa. Levava a bordo cerca de 4.000 contêineres, carregados com baterias de íons de lítio, painéis fotovoltaicos e componentes para carros elétricos.

A viagem, que partiu do porto chinês de Ningbo-Zhoushan em 22 de setembro, durou cerca de 20 dias, apesar de um atraso de dois dias devido a uma tempestade na costa da Noruega. Para colocar em perspectiva: os cargueiros que cruzam o Canal de Suez costumam levar entre 40 e 50 dias.

A travessia, como aponta a agência estatal chinesa Xinhua, foi realizada pela Rota Marítima do Norte, um corredor que se estende completamente dentro da zona econômica exclusiva da Rússia. O aquecimento global, que reduziu drasticamente o gelo marinho, abriu uma janela sazonal para esse tipo de navegação.

Como destaca a Reuters, durante as últimas quatro décadas, o Ártico se aqueceu quatro vezes mais rápido que a média do planeta, tornando viável o que antes era impensável: rotas comerciais regulares sobre o teto do mundo.

Pequim vem colaborando há anos com Moscou nessa região com o objetivo de reduzir sua dependência do estreito de Malaca e do Canal de Suez, dois pontos críticos do comércio mundial. Com uma guerra comercial ativa com os EUA, a China busca rotas mais rápidas e seguras para a Europa, seu segundo maior mercado global.

Mais rápida, mais limpa, mais estratégica

A empresa Sea Legend Line Limited, operadora do navio, afirma que essa nova rota reduz as emissões de CO₂ ao encurtar o trajeto, contribuindo assim para os objetivos de descarbonização global. “As baixas temperaturas ajudam a conservar os componentes de alta tecnologia e os mares mais calmos reduzem o risco de danos”, explicou o diretor de operações da companhia marítima, Li Xiaobin, à Xinhua.

O diretor executivo da empresa, Fang Yi, acrescentou que a rota ártica “poderia reduzir os níveis de inventário em até 40%, melhorando a eficiência de toda a cadeia logística”. Em outras palavras: menos tempo de trânsito significa menos capital imobilizado — uma vantagem enorme para indústrias como a de carros elétricos, em que a velocidade na entrega é fundamental.

Navio

O Istanbul Bridge chegou a Felixstowe com mercadorias destinadas a vários portos europeus (Alemanha, Polônia e Países Baixos) em um momento em que as exportações chinesas para a Europa crescem (+14% em relação ao ano anterior, em setembro), enquanto as destinadas aos Estados Unidos caem 27%, segundo a Reuters.

Para a China, a Europa está se tornando seu novo grande cliente e, com essa rota, o país consegue encurtar distâncias tanto físicas quanto estratégicas. No entanto, tudo tem seu lado B. Se essa via se consolidar, poderá reforçar a dependência europeia do comércio chinês — justamente quando a União Europeia tenta proteger sua indústria de carros elétricos com novas tarifas e controles sobre os subsídios estatais de Pequim.

Entre o derretimento e a geopolítica

Enquanto a China celebra seu recorde de velocidade, os EUA reforçam sua presença no Ártico. Há apenas uma semana, Washington e a Finlândia assinaram um acordo para construir uma nova frota de quebra-gelos que proteja os interesses estadunidenses na região — um movimento claro para não deixar o controle do gelo nas mãos de Pequim e Moscou.

Navio

O Istanbul Bridge não precisou de quebra-gelo nem de escolta. Partiu de Felixstowe rumo a Hamburgo e, se tudo correr conforme o planejado pela Sea Legend, em 2026 haverá mais navios de classe de gelo operando essa rota a cada verão. No inverno, quando o gelo fechar a rota, a empresa marítima planeja reforçar seus serviços em direção ao leste da Europa.

Assim, a China não apenas cruzou o Ártico: acabou de abrir um atalho para o futuro do comércio mundial — e a Europa terá que decidir se esse caminho gelado a aproxima ou a prende ainda mais a Pequim.

Imagens | Xinhua, Metro TV

Este texto foi traduzido/adaptado do site Motorpasión.


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