A China é imparável na corrida dos carros elétricos e está a caminho de repetir o feito com caminhões de carga

  • A China vê os caminhões elétricos como um negócio lucrativo;

  • 22% dos veículos pesados ​​vendidos na China em 2025 será de caminhões elétricos, enquanto na Europa eles representam apenas 1%

Imagem de capa | Daniel Fikri
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Fabrício Mainenti

Redator

A conquista chinesa dos carros elétricos tem sido notável nos últimos anos, com um impulso particular na Europa que deixou toda a indústria em alerta. Mas estes não são o único tipo de veículo com o qual a China pretende conquistar o mundo. Seus caminhões de carga também têm uma presença significativa.

A BYD, fabricante que surgiu no cenário automotivo como nenhuma outra, já envia caminhões elétricos para Itália, Polônia, Espanha e até México, juntamente com outras oito empresas chinesas que dominam o mercado global. 

As marcas chinesas foram responsáveis ​​por 80% das 90 mil vendas globais de caminhões de carga elétricos no ano passado, de acordo com a Agência Internacional de Energia.

Por que isso importa agora

Conforme divulgado pelo Rest of the World, as emissões de CO₂ de veículos pesados ​​cresceram quase 3% ao ano entre 2000 e 2018, e os caminhões são responsáveis ​​por 80% desse aumento. Seu enorme impacto ambiental torna a eletrificação do transporte de carga um elemento-chave das metas climáticas globais. E a China entendeu que existe uma enorme oportunidade de negócios aí.

Um domínio com origens

A vantagem da China não surge do nada. Segundo o veículo, ela decorre de uma campanha governamental de 15 anos para tratar os veículos comerciais como prioridade nacional, exigindo que os fabricantes produzam veículos elétricos como uma porcentagem de sua produção total. Enquanto isso, os países ocidentais se limitaram a oferecer créditos fiscais a compradores individuais. 

O resultado? Na China, os caminhões elétricos representaram 22% do mercado de veículos pesados ​​no primeiro semestre de 2025. Na Europa, eles representam apenas 1% das vendas e, na Índia, apenas 280 caminhões elétricos de longa distância foram vendidos, de um total de 834.578 veículos comerciais.

A lucratividade não é mais uma promessa

Operadores de frotas chineses relatam que seus caminhões elétricos custam entre 10% e 26% menos para operar do que os modelos a diesel, de acordo com a consultoria Commercial Vehicle World. A CATL, maior fabricante mundial de baterias elétricas, afirma que suas baterias reduzem os custos de transporte em 35% por tonelada-quilômetro. Esses dados levaram fabricantes como o Sany Group a prever que entre 70% e 80% do mercado chinês de caminhões pesados ​​será elétrico dentro de alguns anos.

Resolvendo o problema do carregamento

Um caminhão de carga típico requer aproximadamente um megawatt-hora de capacidade de bateria, dez vezes o que um Tesla Model 3 requer. Enquanto na Europa os caminhoneiros têm pausas obrigatórias de 45 minutos a cada quatro horas e meia (tempo que pode ser usado para carregar o caminhão), em mercados como Brasil e Índia, os motoristas comerciais costumam dirigir entre 10 e 18 horas por vez. A China resolveu esse dilema por meio da tecnologia de troca de baterias, que agora é usada por quase 40% de seus caminhões elétricos pesados.

O Ocidente está muito atrasado

A Volvo, principal fabricante no Ocidente, mal entregou cinco mil caminhões elétricos em 50 países. O caso da África do Sul ilustra suas dificuldades. Após dois anos no mercado, a Volvo vendeu apenas seis unidades, número insuficiente para justificar a montagem local. Importá-los teria elevado os preços em um país sem subsídios. Enquanto isso, a Tesla prometeu seu caminhão Semi em 2017, entregou-o em quantidades simbólicas à Pepsi em 2022 e, praticamente, desapareceu devido a falhas de componentes e altos custos.

A expansão global já está em andamento

A BYD possui instalações para produzir caminhões elétricos para exportação em toda a China e planeja fábricas de montagem internacionais. A Beiqi Foton já envia caminhões para os mercados da UE, apesar das potenciais tarifas. Em junho, a fabricante chinesa Windrose anunciou planos para estabelecer uma fábrica na Geórgia, Estados Unidos. 

"As empresas chinesas adaptarão suas estratégias de entrada no mercado: fornecendo componentes onde as regulamentações exigem fabricação local e estabelecendo vendas diretas em outros lugares", explica Ravi Gadepalli, fundador da consultoria Transit Intelligence.

A chave é o capital

O transporte comercial é dominado por pequenos operadores com margens muito apertadas, que não têm capital para veículos que custam o dobro dos seus equivalentes a diesel, embora os custos operacionais acabem compensando. "O financiamento é o principal obstáculo na Índia, enquanto na China o governo investiu capital significativo para impulsionar o setor", observa Gadepalli. 

No entanto, o mesmo especialista alerta que "os fabricantes chineses de caminhões elétricos provavelmente revolucionarão o mercado global de caminhões. Já vimos isso com carros e ônibus, e é provável que continue". Ele também está certo sobre os ônibus elétricos, pois este é outro mercado dominado pela China.

Ainda há tempo

O mercado global de caminhões elétricos pesados ​​atingirá apenas US$ 5 bilhões (cerca de R$ 26,7 bilhões) até 2030, uma pequena fração do mercado de veículos elétricos de US$ 6 trilhões (cerca de R$ 32 trilhões), de acordo com a empresa de análise Grand View Research. A maior parte das vendas será de veículos comerciais leves para entregas urbanas, observa o veículo, já que os caminhões de longa distância continuarão a gerar mais emissões. 

No entanto, dado o impulso imparável do setor de veículos elétricos na China, essas estimativas podem subestimar a taxa de crescimento do país neste setor.

Imagem da capa | Daniel Fikri

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