Ainda existem muitos mistérios no planeta Terra que desconhecemos, especialmente aqueles escondidos nas profundezas do oceano, onde os humanos têm grande dificuldade de acesso devido à imensa pressão. É por isso que a ciência se empenha em enviar robôs para explorar essa área, embora o último que enviamos tenha parado de transmitir sinais por meses, algo que, sem dúvida, indicaria o pior. Mas a realidade foi bem diferente.
A exploração
A missão, liderada pela Parceria do Programa Antártico Australiano, tinha como objetivo estudar as plataformas de gelo Denman e Shackleton, sobre as quais sabíamos muito pouco. Para isso, utilizaram uma boia Argo padrão que modifica sua flutuabilidade para submergir, coletar dados e retornar à superfície.
Mas, neste caso, havia um grande problema: sob a plataforma de gelo, não há superfície, apenas um teto de gelo com centenas de metros de espessura, o que impediu o robô de retornar à superfície, deixando-o à deriva e levado pelas correntes oceânicas.
Esperávamos o pior
O robô parou de transmitir sinais sobre suas atividades nas profundezas, e os pesquisadores já o consideravam inoperante. Mas agora ele ressurgiu após oito meses nesse estado. E a boa notícia é que, mesmo sem transmitir sinais, o robô continuou trabalhando, criando 200 perfis ao subir e descer a cada cinco dias, coletando dados que nenhum ser humano jamais havia visto.
Navegando às cegas
A pergunta inevitável é: como sabemos onde o robô estava se ele não tinha GPS sob o gelo? Para responder a essa pergunta, os pesquisadores usaram uma engenhosa técnica de engenharia reversa descrita no estudo: cada vez que o robô tentava emergir para transmitir, ele colidia com a superfície e registrava a pressão no momento do impacto. Essa pressão pode ser correlacionada com a profundidade em que ele estava localizado.
Ao recuperar os dados após seu reaparecimento em águas abertas, os cientistas compararam esses pontos de impacto com mapas de satélite que indicam a espessura do gelo na área. Dessa forma, foi como resolver um labirinto 3D: se o robô colidiu a uma profundidade de 300 metros, ele deveria estar em um ponto onde o gelo tem 300 metros de espessura. Foi assim que reconstruíram sua trajetória errática de quase 300 quilômetros.
O que sabemos
Até agora, pensávamos que a Antártica Oriental era sempre uma zona "estável" e fria porque, ao contrário da Antártica Ocidental, derrete muito lentamente. Mas agora temos dados que nos fazem duvidar seriamente disso.
No caso da plataforma de gelo Shackleton, sabemos que é uma fortaleza fria com uma cavidade sob o gelo preenchida com água muito fria que a protege do derretimento por baixo. Se falarmos da geleira Denman, agora podemos associá-la a uma zona de perigo, já que foi encontrada uma intrusão de água "quente" fluindo em direção à base da geleira.
Por que isso importa
A geleira Denman não é inofensiva; ela tem gelo suficiente para elevar o nível global do mar em 1,5 metro. Assim, se a água estiver quente, poderá causar o derretimento dessa geleira, representando, sem dúvida, um grande problema para o litoral do planeta.
Agora, resta apenas monitorar essa área, que pode ser classificada como perigosa devido aos riscos potenciais para o planeta, caso esse cenário se confirme.
Imagens | henrique setim AOML
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