A tecnologia que mediu o impossível: como o novo satélite SWOT conseguiu registrar do espaço ondas recorde de 20 metros

Satélites registram ondas de até 20 metros durante a tempestade Eddie e ajudam cientistas a entender como as tempestades se formam, viajam e afetam regiões costeiras

Onda alta no mar. Créditos:Martin Ruegner/GettyImages
Sem comentários Facebook Twitter Flipboard E-mail
laura-vieira

Laura Vieira

Redatora
laura-vieira

Laura Vieira

Redatora

Jornalista recém-formada, com experiência no Tribunal de Justiça, Alerj, jornal O Dia e como redatora em sites sobre pets e gastronomia. Gosta de ler, assistir filmes e séries e já passou boas horas construindo casas no The Sims.

223 publicaciones de Laura Vieira

Já imaginou estar navegando em alto-mar e se deparar com uma onda de 20 metros de altura,  o equivalente a um prédio de seis andares ou ao Arco do Triunfo, um dos monumentos mais famosos de Paris? Foi exatamente isso que satélites da Agência Espacial Europeia registraram durante a tempestade Eddie, no final de 2024. Pela primeira vez, cientistas conseguiram medir ondas gigantes por satélites e acompanhar o percurso dessas ondulações oceânicas por mais de 24 mil quilômetros, do Pacífico Norte até o Atlântico tropical. As descobertas, publicadas na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), ajudam a compreender como as tempestades se formam, se propagam e influenciam regiões costeiras, mesmo a quilômetros de distância do local da tempestade. 

Pesquisadores analisam dados de satélites para entender a formação das ondas do oceano 

Você provavelmente deve estar se perguntando como os cientistas conseguiram medir essas ondas imensas no meio do oceano. A análise das ondas gigantes no oceano reuniu dados do satélite SWOT (Surface Water and Ocean Topography), uma missão conjunta entre a NASA e o CNES, uma agência espacial francesa. Lançado em dezembro de 2022, o SWOT foi projetado para mapear a elevação das águas em oceanos, lagos e rios. Ele combina medições de altimetria por radar com imagens de larga escala, capazes de detectar desde pequenas ondulações de apenas 3 centímetros até ondas de mais de um 1.000 metros de comprimento. 

Essas informações foram cruzadas com o banco de dados do projeto europeu CCI Sea State, que reúne medições de várias missões espaciais desde 1991, como os satélites SARAL, Jason-3, Sentinel-3A e 3B, Sentinel-6 Michael Freilich, CryoSat e CFOSAT. O projeto tem por objetivo reunir dados sobre o estado do mar, como a altura e o período das ondas, a partir de dados de satélite, para estudos de longo prazo sobre mudanças climáticas.

Ao combinar esses dois conjuntos de dados, os cientistas, liderados por Fabrice Ardhuin, do Laboratório de Oceanografia Física e Espacial da França, conseguiram observar em detalhes a evolução da tempestade Eddie, considerada a mais intensa da última década em termos de altura média das ondas.  O projeto foi financiado pela Iniciativa de Mudanças Climáticas (CCI), da ESA.

Entenda como se formam as ondas oceânicas

Mas afinal, como as ondas são formadas? As  ondas se formam quando o vento sopra sobre a superfície do oceano, transferindo parte de sua energia para a água. Como consequência, quanto mais forte o vento, maiores serão as ondas. Durante as tempestades, caracterizada por fortes ventos e chuvas, essa força se intensifica e gera as ondas de tempestade, que podem atingir alturas impressionantes e viajar por grandes distâncias, mesmo após o seu fim.

Essas ondulações longas e regulares, conhecidas como swells, funcionam como mensageiras das tempestades. Elas carregam a energia acumulada pelos ventos e a transportam por milhares de quilômetros. Isso significa que uma tempestade no Pacífico pode gerar ondas que atingem costas da América do Sul ou da África dias depois, mesmo que o temporal nunca chegue a essas regiões. 

As mudanças climáticas influenciam na formação de tempestades?

Outro ponto da pesquisa é entender se as mudanças climáticas estão influenciando a intensidade e a frequência das tempestades oceânicas. De acordo com o  Fabrice Ardhuin, o autor principal do estudo, fatores como o aquecimento global podem alterar os padrões de vento e temperatura da superfície do mar, favorecendo assim a formação de tempestades mais severas. Porém, ele alerta que o fenômeno é complexo: “As alterações climáticas podem ser um dos fatores, mas não o único. As condições do fundo do mar também têm influência, e estas grandes tempestades são raras — acontecem, em média, uma vez por década”, explicou o pesquisador.

Segundo os registros analisados, as maiores ondas das últimas três décadas ocorreram em janeiro de 2014, durante a tempestade Hércules, quando ondas de até 23 metros provocaram danos em regiões costeiras do Marrocos à Irlanda. Essas tempestades extremas, como dito por Fabrice, são raras e tendem a ocorrer apenas uma vez por década.

Estudo pode ajudar na proteção das comunidades que vivem na costa 

As ondas gigantes registradas pelos satélites trazem informações importantes sobre a força das tempestades e o comportamento do oceano, dados que são fundamentais para proteger comunidades. Afinal, com essas medições, os cientistas conseguem entender melhor como e quando as ondulações se formam, além de prever o impacto que podem causar em regiões costeiras vulneráveis.

Os dados dos satélites Copernicus Sentinel-6, que também foram utilizados no estudo, por exemplo, são fundamentais para prever o comportamento do mar em tempo quase real, medindo a altura significativa das ondas e a velocidade do vento. Essas informações ajudam meteorologistas e autoridades a emitir alertas antecipados e planejar ações de proteção


Inicio