"Colete à prova de balas" químico: nova vacina quer neutralizar a droga 50 vezes mais potente que a heroína

Testes obtiveram até 98% de bloqueio

Fentanil | Fonte: Getty Images
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Vika Rosa

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Vika Rosa

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Jornalista com mais de 5 anos de experiência, cobrindo os mais diversos temas. Apaixonada por ciência, tecnologia e games.


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O combate à epidemia de opioides pode estar prestes a ganhar uma nova e poderosa ferramenta. A ARMR Sciences, cofundada pelo empreendedor de biotecnologia Collin Gage, está lançando um ensaio clínico de Fase 1/2 na Holanda para testar em humanos, pela primeira vez, uma vacina experimental projetada para neutralizar o fentanil e prevenir mortes por overdose.

O fentanil, um opioide sintético 50 a 100 vezes mais potente que a morfina e a heroína, é a principal causa de mortes por overdose nos Estados Unidos. Gage, CEO da ARMR Sciences, afirma que a vacina representa uma mudança de paradigma:

“Ao avaliar o panorama do tratamento, ficou muito claro para mim que tudo o que existe é reativo... pensei: por que não estamos prevenindo isso?”

Como a "armadura" funciona

A vacina da ARMR foi concebida para atuar na corrente sanguínea, impedindo que o fentanil chegue ao cérebro e cause a insuficiência respiratória fatal. Gage compara a vacina a um "colete à prova de balas" ou uma armadura, que não exige que a pessoa carregue o tratamento consigo, como é o caso da naloxona (Narcan).

O mecanismo é similar ao de qualquer vacina:

  1. Treinamento imunológico: o fentanil é pequeno demais para desencadear uma resposta imune sozinho. A vacina, então, combina uma molécula semelhante ao fentanil com uma proteína "transportadora" (uma toxina diftérica inativada).
  2. Neutralização: o sistema imunológico produz anticorpos contra a droga. Se uma pessoa vacinada usar fentanil, os anticorpos se ligam à droga no sangue, criando um complexo molecular grande demais para atravessar a barreira hematoencefálica.
  3. Resultado: o fentanil não causa o efeito euforizante nem a insuficiência respiratória, sendo eventualmente eliminado na urina.

Em testes com ratos, a vacina bloqueou entre 92% a 98% da entrada do fentanil no cérebro, com efeitos que duraram pelo menos 20 semanas — o que pode se traduzir em até um ano de proteção em humanos.

O ensaio na Holanda

O ensaio clínico de Fase 1/2 está previsto para começar no início de 2026, recrutando cerca de 40 adultos saudáveis na Holanda. A primeira fase testará a segurança e a dosagem; a segunda parte testará a eficácia, com um pequeno grupo de participantes recebendo uma dose médica de fentanil sob supervisão.

Embora o desenvolvimento da vacina seja visto como um grande avanço, a comunidade científica reconhece que não se trata de uma solução perfeita:

  • Limite de proteção: especialistas alertam que uma dose suficientemente alta de fentanil poderia, teoricamente, saturar os anticorpos e ultrapassar a proteção.
  • Outros opioides: a vacina não apresentou reação cruzada com outros opioides (como morfina ou metadona), mas isso significa que a pessoa ainda pode sofrer overdose ou buscar a euforia usando outras drogas ilícitas.

Apesar das limitações, a vacina é vista como mais uma ferramenta indispensável, especialmente para grupos de alto risco, como adolescentes, jovens adultos e pacientes em recuperação de dependência.

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