Um dos grandes fracassos da energia solar está no deserto de Nevada, nos EUA: um elefante branco que não serve mais para nada

A usina de Crescent Dunes era cara demais e usava uma tecnologia ultrapassada

Crescent Dunes / Imagem: Xataka México
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Victor Bianchin

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Victor Bianchin é jornalista.

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Pouco mais de dez anos atrás, nasceu uma das primeiras e maiores usinas de energia termossolar do mundo. A energia termossolar, ou energia heliotérmica, é a geração de eletricidade a partir do calor concentrado do Sol, diferente da energia solar fotovoltaica, que converte a luz solar diretamente em eletricidade. 

Tanto a ambição quanto a execução eram gigantescas, assim como o objetivo de fornecer energia limpa para mais de 100 mil pessoas. Hoje, o projeto já não tem mais utilidade.

Para contar essa história, é preciso voltar ao ano de 2011, quando o governo dos EUA anunciou em grande estilo o desenvolvimento de uma usina que, em teoria, serviria como exemplo de inovação energética. Sua sede: Tonopah, no estado de Nevada. Seu custo: 1 bilhão de dólares. Seu nome: Crescent Dunes.

O caso da Crescent Dunes é um tanto peculiar. Para começar, ela entrou em operação graças a um aporte financeiro vindo de diversas empresas, do Departamento de Energia dos EUA e até de magnatas como Warren Buffett. Entre os investidores de destaque estão NV Energy, SolarReserve e Citigroup.

O objetivo era criar uma instalação capaz de gerar um total de 500.000 MWh por ano durante 25 anos. Como relembra o Review Journal, o então senador por Nevada, Harry Reid, concedeu autorizações para a construção em terrenos públicos no meio do deserto e até Kevin Smith, CEO da SolarReserve, declarou que aquilo era positivo “para ganhar o futuro”.

Crescent Dunes

Em linhas gerais, a Crescent Dunes consiste em uma instalação com cerca de 10.347 espelhos dispostos em espiral ao longo de três quilômetros. No centro, há uma torre de 200 metros de altura, que serviria para armazenar energia térmica e aquecer sal fundido. Esse material seria guardado em um tanque de armazenamento, responsável por produzir vapor e, consequentemente, eletricidade.

É um sistema um pouco complexo, mas a ideia principal era que ele funcionasse durante a noite ou quando não houvesse luz solar direta. No entanto, uma série de contratempos frustrou o projeto. Para começar, embora a construção tenha sido concluída em 2013, a usina só começou a operar em meados de 2015. Em 2016, um vazamento em um tanque de sais fundidos fez com que a planta ficasse desligada por quase um ano.

Crescent Dunes

O cúmulo do absurdo: a Crescent Dunes nunca alcançou os níveis de energia prometidos. Em 2018, entregou no máximo cerca de 40% da geração prevista, o que acabou levando a NV Energy a processar a SolarReserve por descumprimento de contrato. Em abril de 2019, a Crescent Dunes foi encerrada. Em 2020, declarou falência e foi expropriada pelo governo. É aí que começa a troca de acusações.

De um lado, NV Energy e SolarReserve permaneceram em litígio por anos, devido à má gestão do projeto. Soma-se a isso o alto custo dessa tecnologia, que acabou sendo superada com a chegada dos painéis fotovoltaicos, outro fator decisivo. Além disso, o cofundador da SolarReserve, Bill Gould, apontou a empresa espanhola ACS Cobra como responsável, alegando que ela teria projetado um reservatório de armazenamento defeituoso.

Ainda assim, um ponto é claro: quando a Crescent Dunes iniciou suas operações, já era tarde demais. Em 2015, a tecnologia termossolar passou a ser considerada obsoleta devido ao seu próprio processo. Para funcionar, os painéis dessas usinas utilizam heliostatos, que seguem o Sol por meio de espelhos para concentrar a luz em uma mistura de sais fundidos. O problema, mais uma vez, é o custo.

Para mantê-la em operação, cada megawatt-hora custava cerca de 135 dólares. Em comparação, as usinas de energia fotovoltaica oferecem custos em torno de 30 dólares por MWh. Hoje, a promessa energética serve apenas como atração visual para os que sobrevoam a região de avião.

Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka México.


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