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As usinas termossolares são um fracasso, por isso agora têm dois trabalhos: gerar energia durante o dia e caçar asteroides à noite

A energia solar termelétrica foi derrotada por goleada pela fotovoltaica, de modo que, agora, algumas centrais estão sendo reconvertidas

Usinas termossolares podem ganhar uma segunda função / Imagem: Pexels
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Victor Bianchin

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Victor Bianchin é jornalista.

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Na época, pareciam o futuro da energia solar por sua capacidade de seguir o Sol com espelhos oscilantes. Hoje, as usinas solares de concentração — aquelas que direcionam a luz por meio de heliostatos (espelhos projetados para seguir o Sol) para uma grande torre central — não conseguem competir com a queda vertiginosa dos preços da energia fotovoltaica. Mas, quando uma porta se fecha, às vezes se abre uma janela para o universo.

Resumidamente: um projeto-piloto nos EUA começou a aproveitar esses gigantescos campos de espelhos ao cair da noite para a defesa planetária. Durante o dia, os heliostatos fazem seu trabalho tradicional, gerando energia ao concentrar a luz solar em uma torre conectada a turbinas a vapor. À noite, defendem o planeta de asteroides potencialmente perigosos.

Os números são arrasadores

A energia solar termelétrica perdeu a batalha contra a fotovoltaica por goleada. Em 2023, o mundo instalou o recorde de 345,5 gigawatts em painéis solares, mas a termossolar adicionou apenas 0,3 GW no total. E o pior: desde então, nenhuma nova usina começou a ser construída.

Embora a Espanha, líder mundial em tecnologia de concentração, mantenha suas centrais em funcionamento, outros projetos estão sendo cancelados ou reconvertidos. O Marrocos substituiu a parte termossolar do megacomplexo Noor Midelt por fotovoltaica após classificá-la como “tecnologia imatura e cara”. E projetos icônicos, como a gigantesca usina de Ivanpah, na Califórnia, agora enfrentam o fechamento por não conseguirem competir com o baixo custo do quilowatt-hora fotovoltaico.

Como salvar o planeta — e, de quebra, o investimento

Diante desse cenário, o que fazer com essas enormes e caras infraestruturas? John Sandusky, pesquisador científico dos Laboratórios Sandia, vem pensando nisso há quase 20 anos. “Os campos de heliostatos não têm um trabalho noturno. Eles simplesmente estão ali, sem uso”, explica em um comunicado. “Temos a oportunidade de dar a eles um trabalho noturno a um custo relativamente baixo para encontrar objetos próximos à Terra”, diz.

A proposta não é usar os heliostatos para tirar fotos do céu. Sua qualidade óptica não é suficiente para formar imagens nítidas como as de um telescópio. A genialidade da ideia, apresentada em um estudo do final de 2024 que já começou a ser colocado em prática, está em usar o que esses espelhos fazem de melhor: concentrar luz. Muita luz.

O método tradicional procura, em imagens de longa exposição, os rastros deixados pelos asteroides ao se moverem contra o fundo de estrelas fixas. O método de Sandusky é radicalmente diferente e se baseia na análise de frequências.

Em vez de apontar para um ponto fixo, o software da usina faz com que os heliostatos oscilem, varrendo uma pequena porção do céu em um ritmo constante e repetitivo. A luz das estrelas, varrida nesse ritmo constante, gera um sinal no receptor da torre com uma frequência específica e previsível. É o “tom” base do céu.

Se um asteroide cruza esse campo de visão, ele se move a uma velocidade angular diferente da das estrelas. Isso faz com que a luz que reflete gere um sinal com uma frequência ligeiramente distinta da do “tom” base. É uma mudança minúscula, mas mensurável com a tecnologia atual. E pode ser usada para detectar asteroides com base em sua velocidade relativa às estrelas.

Da teoria à prática

Uma equipe já demonstrou a viabilidade da ideia usando um único heliostato e está trabalhando para ampliar o projeto para toda uma usina solar, aumentando assim a sensibilidade e a capacidade de detectar objetos menores e mais distantes. Também está nos planos rastrear satélites e outros objetos no espaço cislunar, com o objetivo de vender o conceito à Força Espacial.

A ideia de Sandusky é um exemplo de pensamento lateral. Em vez de construir novos e caríssimos observatórios, ela reutiliza uma infraestrutura de bilhões que, de outro modo, ficaria inativa metade do tempo. Infraestrutura essa de uma tecnologia que luta para sobreviver no competitivo mercado de energia — e que pode encontrar um segundo emprego.

Imagem | Pexels

Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.

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