Tudo o que sabemos neste momento é que os Estados Unidos, através de seu presidente, afirmaram que a próxima semana será "muito importante" para determinar o curso da guerra entre Israel e a República Islâmica. Enquanto isso, um temor se destaca em segundo plano, um que, paradoxalmente, até a Rússia trouxe à tona quatro meses após o ataque a Chernobyl: "o mundo está a milímetros de uma catástrofe", disse o Ministério das Relações Exteriores russo.
Eles se referem a uma catástrofe nuclear.
Impacto potencial sobre instalações nucleares
Nesta semana, o Financial Times noticiou que os ataques aéreos israelenses contra infraestruturas nucleares do Irã reavivaram os temores sobre uma possível catástrofe radiológica ou química na região. A esse respeito, o diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Rafael Grossi, classificou a ofensiva como "profundamente preocupante", alertando que a escalada militar aumenta o risco de uma liberação radioativa com graves consequências para a população e o meio ambiente.
Embora, por enquanto, não tenha sido registrada uma emergência radiológica em larga escala, alguns incidentes, como o ataque ao complexo de enriquecimento de urânio de Natanz, causaram contaminação localizada dentro das instalações, mas sem afetar o ambiente externo, de acordo com medições da própria agência nuclear.
Contaminação radiológica: riscos atuais e limitações
Os dados atuais indicam que a contaminação radioativa detectada está restrita ao interior do complexo de Natanz e é composta principalmente por partículas alfa. O risco à saúde dessas partículas é considerado controlável se elas não forem inaladas ou ingeridas, pois seu alcance se limita ao contato direto com tecidos internos.
No ataque a Natanz, duas salas subterrâneas de enriquecimento e vários edifícios na superfície, incluindo um laboratório piloto, foram danificados. Contudo, o nível de radiação nos arredores não apresentou alterações, o que sugere que não houve vazamento para o exterior. Em outras instalações chave, como Fordow ou o reator de água pesada em construção em Khondab, não foram registrados danos. Da mesma forma, em Isfahan, não houve aumento de radiação detectado após os ataques recentes.
A dificuldade de uma catástrofe nuclear generalizada
O Times explicou que uma explosão de grandes proporções que libere contaminantes radioativos de forma massiva exigiria atingir materiais submetidos à fissão, como acontece em um reator operacional ou em uma bomba atômica. No entanto, nem a central nuclear de Bushehr nem o reator de pesquisa de Teerã foram atacados até o momento. O urânio enriquecido que o Irã possui é, por si só, fracamente radioativo e só apresenta riscos maiores em condições muito específicas.
A liberação de produtos de fissão, como iodo radioativo ou césio-137 — que foram os principais responsáveis pelos piores efeitos na saúde após Chernobyl em 1986 —, não parece provável no cenário atual. Além disso, as principais instalações nucleares do Irã são projetadas para minimizar riscos externos: as áreas críticas de Natanz e Fordow estão enterradas sob toneladas de concreto e terra. Isso faz com que mesmo armas potentes tenham dificuldade em penetrá-las por completo.

Riscos químicos: o perigo do Hexafluoreto de Urânio
Além da radiação, especialistas apontam que o verdadeiro perigo pode residir na dispersão de produtos químicos tóxicos. Nas instalações atacadas, como Natanz e Isfahan, é armazenado e manipulado hexafluoreto de urânio, um composto essencial no processo de enriquecimento.
Embora seja estável em temperatura ambiente, o contato do hexafluoreto de urânio com a água (inclusive a umidade do ar) pode gerar gás fluorídrico, uma substância altamente corrosiva e letal se inalada. A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) confirmou que, no ataque a Natanz, é possível que tenham sido liberados compostos como hexafluoreto de urânio, uranilfluoreto e até mesmo gás fluorídrico. No entanto, essa liberação teria ocorrido de forma contida dentro das instalações.
Um exemplo notório desse tipo de acidente aconteceu em 1986, com a explosão em uma usina de conversão em Oklahoma. Naquela ocasião, a liberação de hexafluoreto de urânio causou uma morte e contaminou o ambiente, demonstrando o potencial de alcance desses incidentes mesmo fora de um cenário de guerra.

Normas internacionais e ataques nucleares
Em relação ao direito internacional, ataques armados contra instalações nucleares com fins pacíficos são proibidos. A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) já reiterou diversas vezes que qualquer agressão desse tipo viola os princípios da Carta das Nações Unidas, as próprias regras da organização e o direito internacional. Tanto Israel quanto o Irã fazem parte da AIEA, embora Israel não seja signatário do Tratado de Não Proliferação Nuclear.
Em 2022, o precedente do ataque russo e a posterior ocupação da usina nuclear ucraniana de Zaporizhzhia já foram considerados pela AIEA como um fato sem precedentes, por terem ocorrido em um complexo nuclear de grande escala. No caso atual, Israel justifica suas ações pela suspeita de que o Irã esteja desenvolvendo uma arma nuclear, acusação que Teerã nega. Por sua vez, a AIEA declarou recentemente que o Irã violou, pela primeira vez em vinte anos, suas obrigações de não proliferação, aumentando ainda mais a tensão no cenário.
Cenário hipotético: o desmoronamento do regime Iraniano
E se... há outra questão fundamental. E se o regime iraniano entrasse em colapso repentinamente, deixando seu arsenal de urânio enriquecido e materiais relacionados desprotegidos? O que aconteceria? Embora ataques aéreos possam degradar infraestrutura crítica, eles não são suficientes, por si só, para garantir a eliminação total das capacidades nucleares, especialmente se estas forem dispersas ou escondidas.
Preparação das forças Especiais Americanas
Diante desse cenário, analistas do The War Zone lembraram que as forças especiais americanas – em particular as unidades de elite como a Delta Force e a SEAL Team Six – estão há anos se preparando para intervir no terreno em situações de emergência nuclear. Desde 2016, o Comando de Operações Especiais (SOCOM) lidera a missão de combater armas de destruição em massa (CWMD), herdando essa função do Comando Estratégico (STRATCOM). A experiência adquirida desde a dissolução da URSS na segurança de arsenais descontrolados serve de modelo para essas novas contingências.

O limiar da proliferação Nuclear do Irã
De acordo com os últimos relatórios da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), o Irã acumulou pelo menos 400 quilogramas de urânio enriquecido a 60%. Essa pureza é muito superior à necessária para uso civil (3-5%), embora ainda esteja abaixo dos 90% exigidos para armamento nuclear. No entanto, passar de 60% para 90% é um salto técnico relativamente curto. A AIEA considera que com apenas 92,5 kg de urânio a 60% é possível obter uma bomba nuclear após o enriquecimento final.
Essa realidade é preocupante, dado que o regime impediu as inspeções em todas as suas instalações nucleares. O Irã chegou a tomar "medidas especiais" para ocultar seu material nuclear, conforme admitido por seu vice-ministro de Relações Exteriores, sem informar a AIEA. Essas ações aumentaram as incertezas sobre o paradeiro de materiais sensíveis, como o hexafluoreto de urânio que mencionamos, ou cilindros de urânio enriquecido, cuja quantidade e mobilidade permitiriam escondê-los facilmente, mesmo diante de ataques em massa.
Cenários operacionais e preparação militar dos EUA
O site TMZ explicou que o exército dos Estados Unidos não só desenvolveu planos para incursões cirúrgicas, mas também executou exercícios reais simulando operações em instalações nucleares hostis. Um exemplo foi o treinamento conjunto em 2023 entre o Regimento Ranger e a equipe de desativação nuclear NDT-1 em uma antiga instalação radiológica, onde simularam um assalto sob fogo inimigo.
Outros exercícios incluíram a tomada da Usina Nuclear de Bellefonte, no Alabama, e sua desativação operacional. Essas unidades, sob o comando do 20º Comando CBRNE (químico, biológico, radiológico, nuclear e explosivos), são especializadas em localizar, explorar e neutralizar infraestruturas nucleares, bem como em proteger componentes críticos. Sua missão se concentra em negar capacidades nucleares a inimigos em ambientes hostis e sensíveis.
Reação a ameaças móveis e o risco de proliferação
O colapso repentino do regime iraniano ou o deslocamento de material nuclear para fora das instalações pode exigir operações rápidas para interceptar carregamentos em trânsito, seja por terra ou mar. Nesse cenário, analistas destacam que as forças especiais, devido à sua capacidade de infiltração "discreta e rápida", estariam na linha de frente para essas missões. Além disso, existe o risco de que material nuclear ou tecnologia chegue às mãos de grupos como os Huthis no Iêmen, algo que já foi discutido em particular entre autoridades americanas e israelenses.
Embora não haja evidências confirmadas de tal transferência, a história do Irã exportando mísseis balísticos, drones e defesas aéreas para seus aliados regionais reforça o potencial de proliferação. Além disso, a ameaça não se limita ao urânio. O Irã também poderia ter programas paralelos de armas químicas e biológicas.
Após a queda de Kadafi, os Estados Unidos tiveram que guardar arsenais químicos na Líbia por três anos para neutralizá-los, um precedente que poderia se repetir no Irã se o sistema colapsar.
Uma ameaça global iminente
Em resumo, as contingências não se limitam ao presente conflito entre Israel e Irã. A história demonstra que a perda de controle de material nuclear (mesmo em pequenas quantidades) pode ter consequências globais, seja na forma de bombas sujas, transferência para terceiros ou até mesmo chantagem geopolítica.
Equilíbrio instável: O risco constante
Do outro lado da questão, e embora por enquanto nenhum desastre nuclear tenha ocorrido, o risco ainda persiste. A continuidade dos bombardeios sobre instalações sensíveis pode desequilibrar essa situação tão frágil. Mesmo que o projeto dos complexos e os protocolos de segurança reduzam a probabilidade de uma catástrofe maior, qualquer erro de cálculo, impacto imprevisto ou dano colateral pode desencadear um episódio com consequências imprevisíveis.
A contaminação química, mais do que a radiológica, é neste momento o principal foco de preocupação técnica. Assim, à medida que a ofensiva aérea avança e a lista de alvos se expande, o perigo não está tanto em um acidente de grande escala, mas no acúmulo de microincidentes que, se repetidos, podem levar a uma emergência sanitária ou ambiental, como explicou o Financial Times.
A advertência da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica) aponta precisamente para esse ponto de inflexão que ainda pode ser evitado, mas que está cada vez mais próximo.
Ver 0 Comentários