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Já é realidade: há mais eletricidade renovável no mundo do que gerada por carvão

A participação do carvão caiu para 33,1% da matriz elétrica global, enquanto as renováveis subiram para 34,3%

Energias renováveis / Imagem: FreePik e Pexels
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Victor Bianchin

Redator
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Victor Bianchin

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Victor Bianchin é jornalista.

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Há dez anos, o carvão iluminava metade do planeta. Hoje, são os painéis solares e as turbinas eólicas que dominam as estatísticas. Na primeira metade de 2025, as renováveis não apenas atenderam a todo o aumento da demanda elétrica global, mas também o superaram.

Um novo relatório, elaborado pela Ember, analisa dados de 88 países que representam 93% da demanda elétrica global. Sua conclusão marca um marco histórico: a energia solar e eólica cresceram tanto que compensaram todo o aumento do consumo elétrico global e ainda geraram excedente.

No entanto, há um ponto ainda mais importante: a geração com carvão caiu a nível mundial. A participação do carvão caiu para 33,1% da matriz elétrica global, enquanto as renováveis subiram para 34,3%. Pela primeira vez, o carvão ficou atrás. A queda foi especialmente evidente na China e na Índia, onde o carvão sempre dominou, tornando o declínio mais perceptível. Já na União Europeia e nos Estados Unidos, observou-se um pequeno aumento, causado pela seca nas hidrelétricas e pelo encarecimento do gás.

No primeiro semestre de 2025, as energias renováveis produziram mais eletricidade do que o carvão pela primeira vez | Ember No primeiro semestre de 2025, as energias renováveis produziram mais eletricidade do que o carvão pela primeira vez | Ember

Raio-X da mudança

A transição não é uma mera anedota estatística, mas um fenômeno estrutural. A demanda mundial aumentou 369 TWh (+2,6%), um crescimento moderado amplamente coberto pela expansão solar e eólica.

Por um lado, o Sol continua sendo a fonte mais dinâmica do planeta. A geração solar cresceu 31%, alcançando uma participação global de 8,8%. Isso se deve principalmente à China, que foi o grande motor, respondendo por 55% do crescimento solar mundial, seguida por EUA, União Europeia e Índia.

A geração eólica aumentou 7,7%, passando a representar 9,2% da matriz global. Embora Europa e Estados Unidos tenham enfrentado condições meteorológicas adversas, a China compensou amplamente, registrando um aumento de 16% em sua produção eólica.

Outro grande indicador de que essa mudança é estrutural está nos mercados. Segundo a Agência Internacional de Energia, o investimento global em energia atingirá 3,3 trilhões de dólares, um número bastante expressivo. Há apenas dez anos, as renováveis eram vistas como uma aposta idealista: caras, intermitentes e dependentes de subsídios. Hoje, são o novo centro de gravidade financeiro do sistema energético. A proporção de investimento em energia limpa em relação à fóssil passou de 2 para 1 em 2015 para 10 para 1 em 2024, uma mudança que reflete uma decisão coletiva do mercado.

No entanto, nem todos estão convidados para a festa. Os mercados emergentes e as economias em desenvolvimento recebem apenas 15% do investimento mundial em energia limpa, apesar de sua demanda elétrica ser a que mais cresce. Além disso, continuam presos a custos financeiros elevados, redes frágeis e incerteza regulatória. Como alerta a Ember, sem financiamento internacional e cooperação tecnológica, o ritmo global rumo a emissões líquidas zero pode desacelerar antes de alcançar a meta.

China impulsiona a transição global

Por trás da ultrapassagem mundial há um protagonista indiscutível: a China. O país não apenas lidera a produção de energia limpa, mas também a indústria que a torna possível: painéis solares, turbinas, baterias e redes inteligentes. Sua política industrial transformou o país no que alguns analistas descrevem como um “eletroestado”, capaz de dominar as cadeias de valor energéticas do século 21 como antes dominava a manufatura.

Em apenas seis meses, a China instalou 380 GW de nova capacidade solar — mais do que toda a capacidade total dos Estados Unidos — impulsionada por uma onda de projetos antecipando novas normas de preços. Graças a isso, sua matriz elétrica já é 24% renovável e as emissões do setor elétrico caíram 1,7% em meio ano.

Desafios globais

Segundo a Ember, a rede elétrica já é o principal obstáculo para a expansão das renováveis. A produção solar e eólica cresce mais rápido do que as linhas e os sistemas de armazenamento. Em países como Espanha e Alemanha, foram registrados cortes pontuais em parques solares devido à saturação da rede. No Japão, os operadores reduzem a geração solar nos fins de semana para evitar sobrecargas. Essa desconexão forçada — o chamado curtailment — revela uma realidade contraditória: temos mais Sol do que cabos.

À saturação das redes soma-se a desigualdade de acesso a dinheiro. Enquanto China e outras economias instalam gigawatts de renováveis a cada mês, África e América Latina continuam esperando investimentos suficientes. Daí a urgência de novos mecanismos globais para canalizar capital verde às economias emergentes e garantir que a transição seja verdadeiramente global.

Há apenas uma década, o carvão gerava o dobro da eletricidade das renováveis. Hoje, a energia limpa superou a fonte mais poluente e domina o crescimento do sistema elétrico. A China lidera, a Índia acelera, a Europa se adapta e os EUA desaceleram.

Os preços caem, os investimentos crescem e as emissões começam a se estabilizar. A transição energética não é mais uma questão de vontade política: é uma lei econômica. O ponto de inflexão não está no futuro: está acontecendo agora mesmo.

Imagem | FreePik e Pexels

Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.


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