No final de 2017, o New York Times publicou uma daquelas notícias que ficam marcadas pelo que podem significar. Foi revelada a existência de um programa secreto do Pentágono dedicado a investigar ameaças representadas por possíveis OVNIs. E, entre todas as informações, uma chamou mais atenção: o encontro de um objeto não identificado com dois caças de combate — com vídeo incluído. Até hoje, nunca se conseguiu confirmar a origem daquilo que surgiu misteriosamente no céu.
Até que a China fez um anúncio.
O eco do “Gimbal”. Como dissemos, aquele vídeo do objeto chamado “Gimbal”, captado por um F/A-18 da Marinha dos Estados Unidos, desencadeou um debate global sobre fenômenos aéreos inexplicáveis e tecnologias além das capacidades militares conhecidas.
Hoje, quase uma década depois, a China — por meio da Universidade de Aeronáutica de Zhengzhou — apresentou uma réplica do que vimos naquelas imagens: um drone experimental de decolagem e pouso vertical (VTOL) cujo design, surpreendentemente, lembra muito o daquele artefato misterioso. Trata-se de uma fuselagem com asa elíptica em forma de anel fechado, reforçada por estabilizadores verticais e quatro rotores posicionados nos pontos de união.

A revolução chinesa no VTOL
À primeira vista, ele parece mais um fuso voador do que um avião ou um quadricóptero convencional.
No entanto, por trás dessa forma pouco ortodoxa, esconde-se uma engenharia que combina o melhor dos sistemas multirrotor e das asas fixas: capacidade de manobra e sustentação vertical para operar a partir de navios, terrenos irregulares ou até superfícies aquáticas, aliada à eficiência aerodinâmica no voo horizontal, graças a uma asa cuja curva de sustentação é mais de 100% superior à de uma asa reta.
Aerodinâmica radical
Segundo os pesquisadores de Pequim, a asa em anel canaliza fluxos de alta pressão e retarda a perda de sustentação, o que permite voar de forma estável em baixas velocidades ou em altos ângulos de ataque, condições essenciais para missões militares de reconhecimento em ambientes complexos.
O estabilizador horizontal instalado nas extremidades evita turbulências internas e melhora o controle da aeronave. E tem mais: os testes em túnel de vento e os voos experimentais confirmaram que o equipamento mantém o fluxo de ar aderido mesmo em condições extremas, validando os modelos computacionais que já previam um salto significativo no desempenho.
Finalidades
Sua estrutura modular e robusta permite, em teoria, a integração de sensores ópticos, câmeras térmicas, equipamentos de resgate ou cápsulas de suprimento — o que transforma o drone em uma plataforma multipropósito.
Pode ser usado tanto em missões militares (monitoramento de campo de batalha, vigilância marítima) quanto em aplicações civis (análise ambiental, resgate em áreas de difícil acesso e transporte leve de emergência).
Limitações e margem de melhoria
O grande desafio ainda é o arrasto aerodinâmico, inerente à geometria da asa em anel. Nesse sentido, os pesquisadores destacaram que estão trabalhando no refinamento do perfil para reduzir a resistência à pressão e otimizar a relação sustentação/arrasto.
Além disso, buscam aperfeiçoar os algoritmos de controle para minimizar correções desnecessárias que geram arrasto induzido. Também estão sendo estudadas “variantes mais aerodinâmicas, projetadas para operar a partir de navios de guerra” — o que ampliaria significativamente o valor estratégico do drone em operações navais.
Da especulação ao campo de batalha
Aquilo que, para grande parte do mundo, era uma incógnita ufológica há uma década, a China acaba de transformar em um sistema tangível, resultado da convergência entre pesquisa acadêmica e, claro, a pressão militar para alcançar a próxima geração de drones.
Se na Guerra Fria os experimentos mais ousados ficavam no papel, hoje a engenharia — com a China entre os líderes — já consegue validar em voo projetos que, até poucos anos atrás, pareciam pura ficção.
A semelhança com o “Gimbal” pode ser casual ou intencional, mas o fato é que esse novo drone inaugura uma linguagem aerodinâmica diferente, em que as fronteiras entre ficção científica e desenvolvimento militar ficam cada vez mais borradas.
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