China ordena que seus navios deem meia-volta em Ormuz: isso revela a retirada silenciosa de seus petroleiros

A Agência de Informação de Energia (EIA) estima que 84% do petróleo bruto e 83% do GNL têm como destino final os mercados asiáticos, com a China como principal destino

A China é a principal compradora do petróleo bruto iraniano / Imagem: Agência Espacial Europeia (Flickr) e PXHere
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Victor Bianchin

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Victor Bianchin é jornalista.

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Os Estados Unidos lançaram no fim de semana uma série de bombardeios sobre instalações nucleares no Irã. A reação de Teerã não demorou: o Parlamento propôs o fechamento do estreito de Ormuz, uma rota por onde circula quase um quinto do petróleo e do gás exportados por via marítima no mundo. Embora a decisão final esteja nas mãos do líder supremo, Ali Khamenei, a ameaça já abalou as rotas marítimas do Golfo Pérsico.

Nesta segunda-feira, ao menos um petroleiro chinês começou a dar meia-volta, segundo informou a conta especializada OilBandit. Outras embarcações estariam atrasando suas rotas ou desviando o trajeto. Embora o bloqueio ainda não seja oficial, o efeito dominó já começou. Para a China, principal parceira energética do Irã e maior compradora do seu petróleo bruto, o risco de uma escalada não é apenas econômico, mas também diplomático.

O Ministério das Relações Exteriores chinês instou a comunidade internacional a “manter a estabilidade nas rotas críticas do Golfo Pérsico” e pediu esforços para a redução do conflito, segundo o The Wall Street Journal. O porta-voz Guo Jiakun assegurou que Pequim mantém comunicação com o Irã e outros atores envolvidos.

Além disso, a China classificou as águas do golfo como “canais importantes do comércio internacional”, destacando que sua segurança é um interesse comum, segundo a Europa Press. Enquanto isso, Washington pediu explicitamente a Pequim que atue como intermediária. “Eles dependem fortemente do estreito de Ormuz para seu petróleo”, afirmou o secretário de Estado Marco Rubio, que instou a China a intervir para evitar uma catástrofe global, segundo a mesma agência de notícias.

Uma rota de vital importância

A China é a principal compradora do petróleo bruto iraniano, por isso um eventual fechamento colocaria em risco essa fonte estratégica. Além disso, devido às sanções impostas pelos Estados Unidos, muitas das exportações iranianas chegam à China por meio de outros países, como a Malásia, o que dificulta o rastreamento. Ainda assim, estimativas citadas pelo The Wall Street Journal indicam que a China absorveria até 90% do petróleo exportado pelo Irã, o que representaria cerca de 10% de suas importações totais.

O impacto vai além. O estreito de Ormuz transporta entre 17,8 e 20,8 milhões de barris de petróleo por dia, 20% do gás natural liquefeito (GNL) mundial e um terço do gás liquefeito de petróleo. Desse volume, a Agência de Informação de Energia (EIA) estima que 84% do petróleo bruto e 83% do GNL têm como destino os mercados asiáticos, com a China como principal destino. Além disso, países vizinhos como Catar, Emirados Árabes Unidos, Bahrein, Kuwait e até mesmo a Arábia Saudita dependem dessa passagem para exportar hidrocarbonetos. Qualquer bloqueio teria repercussões imediatas.

A China intensificou seus apelos ao diálogo, mas a situação a coloca em uma posição incômoda, embora estratégica: a de mediadora. Pequim cultivou uma “amizade inabalável” com Teerã e assinou em 2021 um acordo de cooperação econômica de 400 bilhões de dólares — garantindo acesso preferencial a petróleo e gás a preços competitivos —, conforme detalhado pela EFE.

No entanto, os Estados Unidos esperam que a China vá além. “Se alguém pode convencer o Irã, é a China”, declarou Marco Rubio. A dúvida é se Pequim está disposta a assumir esse papel, ou se prefere que outros administrem a pressão.

E agora?

O estreito continua aberto, mas os mercados já reagiram. O barril de Brent ultrapassou os 80 dólares e, segundo a Lloyd’s List, citada pela Reuters, os custos de seguro para navegação na região estão subindo, mesmo sem um fechamento formal. A tensão já se traduz em custos adicionais e decisões logísticas urgentes. O Conselho Supremo de Segurança Nacional do Irã ainda precisa se pronunciar sobre a recomendação do Parlamento.

Por sua vez, a China tem sido cautelosa e, por ora, observa com atenção. Como lembra o South China Morning Post, o país já sentiu o impacto de interrupções no mar Vermelho causadas pelos ataques dos houthis do Iêmen. Um bloqueio em Ormuz poderia replicar — ou até superar — esse nível de disrupção.

Vale lembrar que a China conta com reservas estratégicas de petróleo e gás que lhe permitiriam amortecer temporariamente uma interrupção no fornecimento. E, se outros países asiáticos ficarem temporariamente sem suprimento, podem acabar comprando gás ou petróleo por meio de infraestruturas e canais comerciais controlados pela própria China. E isso sem mencionar sua diversificação energética, que pode lhe dar margem de manobra.

Mas, por enquanto, o cenário é incerto. Os navios chineses começam a mudar de rumo. As rotas estão sendo ajustadas. E, em uma faixa de apenas nove quilômetros de largura, o equilíbrio energético do planeta volta a se desequilibrar.

Imagem | Agência Espacial Europeia (Flickr) e PXHere

Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.

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