“Por que não estamos derrubando esses drones?”
A pergunta é de Michael O’Leary, CEO da Ryanair. O chefe da companhia aérea expressou suas dúvidas sobre o desempenho da União Europeia em uma entrevista ao site Politico. Em sua opinião, a Europa enfrenta um problema de navegação aérea decorrente da guerra na Ucrânia — um problema que, segundo O’Leary, não deveria estar sendo tolerado.
Não se trata de um problema de segurança. É um problema de negócios, segundo o CEO da Ryanair. Foi o que indicaram as primeiras declarações de O’Leary, nas quais ele comentou o fechamento dos aeroportos poloneses como consequência de uma invasão russa do espaço aéreo do país.
“Existe um risco de interrupção contínua, não de segurança”, afirmou O’Leary em declarações publicadas pela Reuters. Enquanto a Europa debatia o que pode ser feito nesses casos, como agir e avaliar o perigo dessas incursões, a Ryanair apontava para um prejuízo direto ao seu negócio.
Guerra híbrida
“Guerra híbrida” é o termo usado para definir ataques que buscam desestabilizar um país e que não precisam necessariamente ser violentos. A intenção é fazer com que os cidadãos percam a confiança em seus governantes, seja por uma sensação de vulnerabilidade, seja porque os serviços básicos deixam de funcionar.
No caso da guerra da Ucrânia, bastou à Rússia entrar no espaço aéreo polonês para paralisar seus aeroportos. As bases dinamarquesas também ficaram inoperantes. O mesmo aconteceu em Oslo e o mais recente a sentir os efeitos foi o aeroporto de Munique.
Além disso, um ataque cibernético deixou inutilizados ou com funcionamento reduzido, durante dias, os aeroportos de Berlim, Bruxelas e Londres-Heathrow.
Um muro
A solução proposta é erguer um muro na Europa — um que não tem concreto e, na verdade, nem é visível. O comissário europeu de Defesa, Andrius Kubilius, defendeu a criação de um muro de drones que proteja toda a União Europeia.
A intenção é muito simples: cercar toda a União Europeia com um sistema de detecção e neutralização de drones. Com isso, busca-se impedir que os aparelhos russos ataquem o espaço europeu ou interfiram nas atividades diárias dos cidadãos.
Diante dessa ideia, O’Leary adotou o mais absoluto ceticismo. Ele disse que Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, “é uma inútil e deveria renunciar”, acrescentando com ironia: “não tenho fé nos líderes europeus, sentados lá tomando chá e comendo biscoitos”.
Na época, O’Leary defendeu a permanência britânica na União Europeia, mas seus choques com políticos de todas as ideologias têm sido constantes. O CEO da Ryanair faz parte daqueles empresários descrentes da política que, no caso do irlandês, mantêm uma constante ao longo do tempo: se é ruim para os negócios, é criticável.
O negócio
Segundo O’Leary, o verdadeiro problema desse muro antidrones europeu é que ele não serviria para nada: “Não acredito que uma parede de drones tenha qualquer efeito. Você acha que os russos não podem lançar um drone a partir de dentro da Polônia?”.
E deu um exemplo: “Se nem sequer conseguem proteger os voos sobre a França, que chances temos de que nos protejam contra a Rússia?”. Essa crítica faz referência à greve dos controladores aéreos franceses, que ameaça afetar mais de 100 mil passageiros e 600 voos apenas da Ryanair.
E o impacto? Em termos econômicos, não há dados claros sobre quanto dinheiro pode ter sido perdido com as incursões russas no espaço aéreo europeu. O que é certo é que os prejuízos desse tipo de atividade são evidentes.
Somente no último avistamento de drones na Alemanha, 23 voos com destino a Munique tiveram de ser desviados, outros 12 foram cancelados e mais de 6.500 passageiros foram afetados. Calcula-se que, durante o fechamento dos aeroportos dinamarqueses e suecos, outros 100 voos também precisaram ser cancelados. E em Bruxelas, mais de 140 voos foram cancelados durante o ataque cibernético ocorrido há algumas semanas.
Imagens | Markus Winkler e State Border Guard Service of Ukraine
Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.
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