O gigantesco recall de veículos a diesel da Ford na Europa é, em parte, consequência das novas normas aplicadas nos centros de inspeção veicular alemães. Desde 2023, a Alemanha testa os veículos a diesel e suas emissões de partículas de maneira mais precisa. Uma medida que os centros franceses não realizam, já que se limitam à opacidade da fumaça, mesmo teste feito no Brasil, embora essa medida tenha se tornado mais restritiva desde 2019.
Em agosto de 2023, a primeira leva de veículos a diesel foi submetida à medição de poluição na Alemanha e os efeitos foram rapidamente visíveis, segundo o TÜV (Technischer Überwachungsverein, que em alemão significa “Associação de Inspeção Técnica”). O órgão afirma que a redução das partículas finas no ar ambiente foi significativa em algumas áreas após a retirada de circulação de veículos cujas medições estavam muito distantes da homologação.
Medir também os veículos a gasolina?
Por enquanto, a Alemanha testa apenas os diesels recentes Euro 6 (variante VI). Entre agosto e outubro de 2023, 950.000 veículos foram avaliados e a taxa de reprovação apenas no teste de partículas finas já era de 3,4%. Esse índice foi para mais de 6% nos veículos com mais de dez anos.
“Qualquer pessoa que falhar na inspeção técnica deve levar imediatamente seu veículo à oficina para corrigir o defeito”, explicou na época o responsável pelo desenvolvimento no TÜV. Mas o problema é que corrigir um defeito de partículas finas em um veículo recente pode se tornar muito caro, especialmente se for necessário substituir completamente os filtros de partículas.

Isso, de qualquer forma, não impediu a associação de fazer uma recomendação radical: estender o teste de partículas finas aos veículos a gasolina. “Recomendamos estender a medição aos veículos da classe de emissões Euro 5b e aos motores a gasolina de injeção direta de classe 6 ou superior. Para os veículos dessa classe de emissões e além, já existe um limite rigoroso para o número de partículas dentro do processo de homologação europeia, o que geralmente só pode ser alcançado com a instalação de um filtro de partículas. Graças à tecnologia de medição existente, podemos garantir o bom funcionamento dos filtros desses veículos.”
Essa proposta parece, aliás, agradar a outros órgãos alemães. Tudo ao contrário da última ideia discutida, que seria estender os testes aos diesels mais antigos: “A tecnologia antiga dos veículos Euro 5 simplesmente não é capaz de fazer o que os veículos modernos conseguem”, afirma o GTÜ, que também reúne serviços de inspeção técnica.
E se isso acontecesse na França?
Na França, só existe o tradicional teste de opacidade, que permite avaliar a presença de macropartículas “visíveis” que compõem a fumaça. Um teste que foi bastante endurecido em 2019 e que ainda consiste em medir o coeficiente de difração dos gases para avaliar o teor de partículas. Mas que ainda está longe do que fazem nossos vizinhos: não há nenhuma medição mais precisa das partículas finas, as mais cancerígenas, atualmente na França.
No exterior, eles vão além: na Bélgica e na Alemanha, dependendo da quantidade de partículas por centímetro cúbico, seu veículo é aprovado, admitido com restrição ou reprovado.
Alemães e belgas já incorporaram esse valor em seus testes, com consequências às vezes significativas nas reavaliações, que inevitavelmente aumentam com a quilometragem do veículo. Mas todos são quase unânimes em afirmar que isso produz efeitos rápidos e visíveis nas emissões de partículas finas, mesmo que, na França como em outros lugares da Europa, a principal fonte de emissões ainda seja o aquecimento a lenha nas casas, à frente do transporte rodoviário.
Este texto foi traduzido/adaptado do site L’Automobile Magazine.
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