O fato de o Japão ter 100 mil pessoas com mais de 100 anos revela um problema: eles estão literalmente ficando sem motoristas

País hoje tem apenas um milhão de jovens de 18 anos, em comparação com dois milhões décadas atrás

Solução? As máquinas

Imagem | Teo Romera
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PH Mota

Redator
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Jornalista há 15 anos, teve uma infância analógica cada vez mais conquistada pelos charmes das novas tecnologias. Do videocassete ao streaming, do Windows 3.1 aos celulares cada vez menores.

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O Japão atingiu um novo recorde de longevidade ao registrar 99.763 pessoas com 100 anos ou mais, das quais 88% são mulheres, consolidando-se como a sociedade mais velha do mundo e com a maior expectativa de vida, atribuída a dietas saudáveis, baixos índices de obesidade e uma cultura ativa na velhice. No entanto, esse número também tem um outro lado: a queda da taxa de natalidade e a escassez de mão de obra, que se tornou um grande problema.

Com quase 30% de sua população com mais de 65 anos, o Japão tornou-se um laboratório global onde se testa se a automação para substituir a força de trabalho em extinção.

O país enfrenta uma escassez de trabalhadores em setores essenciais como transporte e logística, o que colocou empresas como a Amazon na vanguarda de um experimento decisivo: provar que a robótica e a inteligência artificial podem acompanhar entregas rápidas em um ambiente cada vez mais envelhecido.

Mais robôs do que humanos

No centro logístico de Chiba, perto de Tóquio, a Amazon implantou um arsenal de tecnologias que não só aumenta a capacidade de armazenamento em 40% em comparação com um armazém convencional, como também já conta com mais robôs do que funcionários humanos.

Lá, uma máquina automática ajusta a embalagem de papel ao tamanho exato de cada produto, enquanto um sistema de triagem coordena vários itens para embalá-los em uma única remessa. O objetivo é que o trabalho repetitivo desapareça e que o processo ganhe em velocidade e eficiência, com o apoio do modelo de inteligência artificial DeepFleet, capaz de coordenar toda a frota robótica e que já melhorou o desempenho em 10%. No entanto, apesar da sofisticação tecnológica, os humanos ainda são indispensáveis: eles são responsáveis ​​pelo transporte de encomendas, uma fase crítica na cadeia de distribuição.

Declínio do transporte

Hoje, o desafio mais urgente está no transporte de mercadorias. Com um terço dos motoristas prestes a se aposentar e uma previsão de redução de 30% na força de trabalho até 2030 (o que significará uma queda para 480 mil motoristas de caminhão ativos), o sistema logístico japonês enfrenta uma crise de magnitude histórica.

O problema foi agravado pela chamada "questão 2024", uma nova legislação que limita as horas de condução e reduz ainda mais a disponibilidade de motoristas. Empresas como a SBS Holdings optaram por soluções imediatas, como a contratação de centenas de trabalhadores estrangeiros, cientes de que a condução autônoma ainda está longe de ser uma alternativa viável em larga escala.

E mais: apesar da imagem do Japão como uma "terra de robôs", a realidade nos armazéns do país está longe dessa percepção. Segundo dados da Interact Analysis, fora do ecossistema da Amazon, existem apenas 0,17 robôs por armazém, em comparação com 0,68 nos Estados Unidos e 0,57 na China.

A causa é múltipla: uma geografia montanhosa que força a construção de pequenos armazéns logísticos de vários andares, um mercado de comércio eletrônico que representa apenas 10% das vendas no varejo (bem abaixo dos 27% do Reino Unido) e custos de instalação altíssimos que desencorajam muitas empresas. A Nippon Express, uma das grandes empresas do setor, testou sistemas avançados como empilhadeiras autônomas, estantes móveis e cadeiras robóticas para operadores, mas seus gestores ainda não estão confiantes de que esses investimentos se pagarão em breve.

O dilema da sobrevivência

A questão subjacente transcende os cálculos de lucratividade. Como Akira Unno, da Nippon Express, alerta no Financial Times, o Japão entrou em uma fase em que não há mudança geracional suficiente: o país hoje tem apenas um milhão de jovens de 18 anos, em comparação com dois milhões, décadas atrás.

O debate, então, não é mais se um robô pode economizar custos, mas se a logística nacional será capaz de continuar operando sem uma transformação radical. Para empresas como a Amazon, o caminho é claro: expandir a automação para centros de distribuição locais e aproximar a inteligência artificial do cliente final. Para outras, a questão permanece mais do que em aberto: quantos anos serão necessários para recuperar o investimento e se, mesmo com paciência, haverá mão de obra suficiente para sustentar a cadeia de suprimentos em um país onde a demografia parece jogar contra qualquer cálculo econômico.

Imagem | Teo Romera

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