Em um mundo onde a tecnologia está presente em todos os lugares, é surpreendente constatar que muitos jovens têm dificuldades em informática. Incapazes de enviar um e-mail ou realizar tarefas tão básicas quanto copiar e colar, eles apresentam lacunas que levantam questionamentos sobre a relação dos jovens com as ferramentas digitais.
Anne Cordier, pesquisadora em ciência da informação e comunicação, traz um ponto de vista interessante após ter trabalhado com alunos do ensino fundamental ao ensino médio. Ela destaca de forma muito clara que a maioria desses jovens não adquiriu habilidades básicas de informática. Cécile Cathelin, professora de letras e formadora em usos digitais, compartilha essa constatação, observando que até tarefas elementares, como “abrir um documento do Word”, se mostram problemáticas para a maioria dos estudantes do ensino médio.
O período de confinamento evidenciou ainda mais essa situação, com os professores percebendo que seus alunos não estavam preparados para o ensino a distância. Yasmine Buono, especialista em educação digital, questiona a ideia preconcebida de que o domínio das redes sociais e dos videogames equivale a competência informática geral. Segundo ela, os jovens usam a tecnologia de forma recreativa, diferente dos usos de escritório e profissionais.
O inimigo do computador é o smartphone?
O smartphone surge como um fator-chave nessa equação. Anne Cordier aponta o impacto da onipresença do smartphone, oferecido às crianças desde muito cedo para atividades lúdicas, mas que não favorece o desenvolvimento de competências informáticas mais avançadas. O acesso desigual às tecnologias, especialmente entre crianças de contextos populares, acentua essas disparidades e cria um desafio adicional na educação digital. O Covid foi um exemplo claro disso, quando os alunos precisavam ter um computador para continuar estudando.
Cécile Cathelin acrescenta uma dimensão interessante ao observar que, mesmo em escolas privadas, onde se poderia supor uma melhor familiarização com a informática, os alunos não são necessariamente mais competentes. Ela ressalta que os pais compartilham pouco suas habilidades digitais com os filhos — uma constatação bastante surpreendente, que reforça a hipótese de que o smartphone é o responsável.
Além do acesso às ferramentas, Yasmine Buono destaca a importância da comunicação. Alguns alunos, acostumados às interações informais nas redes sociais, têm dificuldade em redigir um e-mail formal ou usar modos de cortesia simples. Ela recomenda o ensino de boas práticas de comunicação digital, adaptadas aos diferentes contextos.
As soluções propostas para remediar essa situação variam. Cécile Cathelin, por meio de sua plataforma “Educatee”, sugere a intervenção de profissionais do digital nas escolas. Anne Cordier, por sua vez, lamenta o abandono progressivo do ensino das bases de informática, defendendo uma integração mais consistente dessa disciplina na rotina diária das aulas, com equipamentos adequados disponíveis para todos.
No fim, percebe-se que as gerações mais jovens, na prática, não têm mais vantagem tecnológica em informática. No entanto, isso se tornará quase obrigatório na idade adulta, seja para os estudos, seja para inúmeras demandas administrativas que exigem um computador em vez de um smartphone.
Imagem: Sam Balye (Unsplash)
Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.
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