Embora o discurso de Mark Zuckerberg sobre a importância do domínio dos EUA em IA em relação à China tenha assumido um tom cada vez mais agressivo, a realidade é que deixar de depender do gigante asiático nesse aspecto é complicado. Seu compromisso estratégico com óculos inteligentes depende quase inteiramente de fornecedores chineses, especialmente da Goertek. Segundo fontes do Financial Times, trata-se de uma empresa que consolidou seu controle sobre toda a cadeia de suprimentos do setor em Shandong.
Fontes próximas à empresa afirmam que Zuckerberg se reuniu com Trump para discutir a importância de os Estados Unidos liderarem a corrida tecnológica contra a China. No entanto, pelo menos por enquanto, sua empresa não consegue fabricar seus dispositivos mais promissores sem empresas chinesas.
Os óculos Ray-Ban Meta, que venderam mais de dois milhões de unidades desde seu lançamento, e os novos Hypernovas que serão exibidos no evento "Connect" da Meta, dependem da Goertek para sua produção.
Controle
A Goertek não se contentou em ser uma simples fabricante. Segundo a mídia, a empresa chinesa executou uma estratégia agressiva de aquisição para controlar pontos-chave da cadeia: assumiu o controle da Shanghai OmniLight, especializada em dispositivos micro/nano ópticos para óculos inteligentes, e financiou a compra da Plessey, fornecedora britânica de ótica que também trabalha para a Meta. "A Meta não tem escolha a não ser trabalhar com eles, pois são o fornecedor mais estável e confiável de componentes essenciais", afirmam fontes próximas à empresa.
A Meta buscou reduzir sua dependência da China transferindo parte da produção de seus óculos Quest para o Vietnã. Mas mesmo lá, a Goertek continua sendo uma de suas principais parceiras, como aponta o Financial Times.
A empresa chinesa parece ter percebido desde muito cedo as oportunidades que o metaverso (quem diria) e seus óculos inteligentes ofereceriam, tornando-se uma fornecedora indispensável.
Tensões do passado e do presente
O relacionamento nem sempre foi fácil. Em 2022, a Meta descobriu que a Goertek estava vendendo uma versão mais barata de um óculos de realidade virtual semelhante ao Quest em plataformas chinesas. Os executivos da Meta chegaram a debater a possibilidade de tomar medidas legais, mas acabaram desistindo.
A Goertek nega ter vendido seus próprios óculos de realidade virtual e afirma cumprir rigorosamente todos os acordos com seus parceiros.
Futuro também está na China
Segundo a imprensa, os novos óculos Hypernova, que incorporarão pela primeira vez uma pequena tela em uma das lentes para exibir notificações e respostas do assistente de IA da Meta, também estão sendo fabricados pela Goertek. Fontes afirmam que o preço será próximo a US$ 800 (cerca de R$ 4.270) e representa o próximo passo na estratégia da Meta para integrar inteligência artificial em dispositivos vestíveis.
A premissa é semelhante à que o Google apresentou em seu evento Google I/O com aquele conceito de óculos inteligentes que já pudemos testar previamente. Parece que teremos que esperar o evento "Connect" da Meta para saber mais informações sobre ele.
A empresa afirma ter uma "cadeia de suprimentos robusta e diversificada" e que não depende apenas de um fabricante, mas as informações sugerem que a Goertek se tornou praticamente indispensável. Grande parte da tecnologia que alimenta esse tipo de óculos depende de fabricantes chineses; portanto, se esse tipo de produto acabar sendo um grande sucesso, será interessante ver qual será a estratégia das empresas chinesas em relação a esse outro setor tecnológico fundamental.
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