A pandemia de Covid-19 gerou uma grande migração de nômades digitais dos EUA para países com medidas de mobilidade mais flexíveis e com um custo de vida muito mais acessível. Muitos países europeus, entre eles a Espanha, os receberam de braços abertos — eles e seu dinheiro. No entanto, isso já faz bastante tempo e o cenário geopolítico mudou radicalmente.
O que não mudou foi o desejo dos estadunidenses de migrar para a Europa em busca de estabilidade, segurança e uma qualidade de vida melhor do que a que têm nos EUA. A diferença é que, agora, a Europa está fechando suas portas. Tanto que até mesmo os cidadãos dos EUA precisarão de visto de entrada (ETIAS) para visitar a Europa.
O êxodo norte-americano
O interesse dos norte-americanos em obter residência em países europeus e no Reino Unido vem aumentando. No ano passado, a Irlanda recebeu 31.825 solicitações de cidadania de norte-americanos. Só durante o mês de fevereiro deste ano, já foram apresentadas 3.692 solicitações de cidadania vindas dos EUA.
Em declarações à Euronews, Arielle Tucker, fundadora da plataforma de consultoria para migração Connected Financial Planning, afirmou que, após a chegada de Donald Trump à presidência, “muitas pessoas sentem que, quanto mais tempo permanecem nos Estados Unidos, mais inseguras ficam sobre como será sua qualidade de vida e como isso pode afetar seu bem-estar financeiro”.
Kelly Cordes, fundadora da Irish Citizenship Consultants, disse à Bloomberg que também percebeu um aumento notável nos pedidos de cidadania de norte-americanos para a Irlanda. “Definitivamente é diferente de tudo o que já vimos. As pessoas estão muito preocupadas; há uma urgência em obter a cidadania”. De uma média de 10 solicitações semanais que essa agência processava em 2024, o número passou para entre 20 e 25 por semana.
Europa e Reino Unido fecham suas portas
Apesar do aumento nos pedidos de residência e cidadania, as autoridades da Europa e do Reino Unido estão respondendo com normas mais rígidas. Ainda assim, 6.100 cidadãos norte-americanos solicitaram a cidadania britânica, segundo dados do Ministério do Interior do Reino Unido, aproveitando suas raízes britânicas.
Por sua vez, a Itália, que antes permitia que quem comprovasse laços familiares obtivesse residência com relativa facilidade, realizou uma reforma urgente para evitar a avalanche de solicitações, exigindo agora provas mais rigorosas e processos mais longos para proteger os interesses da população local.
Passaportes dourados
Outra opção utilizada pelos norte-americanos com maior poder aquisitivo é a obtenção dos chamados “passaportes dourados” ou Golden Visa. Esses programas permitem obter residência ou cidadania em troca de investimentos significativos, geralmente na forma de imóveis ou estabelecimento de negócios locais.
Portugal e Espanha eram destinos muito populares entre os norte-americanos que buscavam esse tipo de visto, mas a situação mudou nos últimos meses devido ao impacto negativo no mercado imobiliário e na economia local.
Diante desse cenário, alguns países europeus estão aproveitando esse fluxo migratório de norte-americanos para atrair talentos qualificados. A França, por exemplo, lançou a campanha “Choose France for Science”, com o objetivo de atrair pesquisadores internacionais e profissionais altamente capacitados, agilizando a tramitação de seus pedidos de residência.
Em contraste, os cortes do DOGE, sob a liderança de Elon Musk, estão dificultando seriamente o trabalho dos pesquisadores nos EUA, facilitando assim a decisão migratória desses cientistas.
Imagem | Unsplash (Global Residence Index)
Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.
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