Reutilizar garrafas plásticas não é o problema: a ciência diz que o verdadeiro perigo está em como fazemos isso

O medo dos microplásticos nos levou a questionar se reutilizar uma garrafa é perigoso

Microplásticos na garrafa / Imagem: charlesdeluvio, Nigel Msipa
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Victor Bianchin

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Victor Bianchin é jornalista.

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Um gesto muito comum em nosso dia a dia é o de reutilizar as garrafas que usamos para beber água, sucos e afins. É uma ação que reduz a pegada de carbono e é mais ambientalmente responsável do que simplesmente descartar a garrafa após um único uso.

Mas, neste momento em que os microplásticos estão em evidência, é natural que nos perguntemos se reutilizar uma garrafa pode ser prejudicial para a saúde. É lógico pensar que, se usamos a mesma garrafa vinte ou trinta vezes, no fim das contas, acabamos consumindo esse tipo de substância.

O medo dos microplásticos

Aos poucos, vão sendo conhecidos mais detalhes sobre o efeito que o consumo de microplásticos tem sobre nossa saúde, especialmente sobre a fertilidade. Isso nos leva, basicamente, a questionar os recipientes dos quais consumimos alimentos. Obter essas informações é uma forma de antevermos os efeitos nocivos.

A crença popular afirma que reutilizar garrafas pode representar um risco significativo devido à suposta acumulação de bisfenol A (BPA) e à proliferação de bactérias perigosas caso não sejam limpas diariamente. No entanto, as evidências científicas atenuam fortemente essas afirmações, distinguindo entre fatores de risco reais e precauções infundadas.

Vários estudos avaliaram a migração de BPA e ftalatos a partir de garrafas reutilizadas em condições reais de uso. Um experimento recente, de 2021, que simulou o uso diário em mais de 20 tipos de garrafas, concluiu que não foi detectada migração de bisfenol A na água armazenada, nem mesmo após várias semanas de reutilização razoável. E o mais interessante é que o estudo também incluía as clássicas garrafas de alumínio usadas como garrafas térmicas.

Outros artigos científicos concordam: a liberação de BPA depende fundamentalmente do tipo de material, da exposição a altas temperaturas e do desgaste extremo, e não simplesmente do fato de enchê-las novamente com água da torneira ou da geladeira. As garrafas adequadas para uso alimentar, bem conservadas e não expostas a calor excessivo, não aumentam perigosamente a exposição ao BPA.

Isso muda radicalmente, é claro, quando se colocam líquidos em alta temperatura, o que pode provocar o desprendimento de mais microplásticos. Por isso, é importante sempre levar em conta a temperatura dos líquidos armazenados, para que seja semelhante à do líquido original que estava na garrafa.

Mas também existem opiniões diferentes. O tecnólogo de alimentos Luis Ribera, diretor da consultoria de segurança alimentar Saia, alerta sobre o risco de reutilizar garrafas fabricadas para uso único, conforme destaca o jornal El Confidencial. Ele afirma que o verdadeiro perigo está nos microrganismos que podem aparecer nessas garrafas.

Bactérias e garrafas

Na superfície da garrafa, podem se acumular diferentes microrganismos comuns, como Escherichia coli e Staphylococcus. Isso pode acontecer com frequência, especialmente quando é armazenada uma bebida açucarada, que deixa um resíduo nas paredes de plástico, como se fosse uma placa de Petri.

Mas a chave, nesse caso, para evitar o acúmulo de bactérias está, logicamente, na higiene. Estudos recentes mostram que a limpeza regular com água e sabão é suficiente para manter as garrafas seguras. Nos casos em que foram registrados níveis elevados de bactérias, as análises sempre apontam para a falta de lavagem frequente ou para o uso de recipientes rachados, mais do que para a reutilização racional de garrafas para água potável — como muitas pessoas fazem em casa para evitar comprar mais garrafas.

Com base nessas evidências, podemos tirar várias conclusões claras. A primeira é que não existe nenhuma proibição sanitária quanto ao uso de garrafas reutilizáveis que tenham sido fabricadas para conter água. A segunda é que os riscos à saúde associados a isso se devem quase exclusivamente a hábitos de higiene inadequados ou ao desgaste extremo do recipiente. E a terceira é que, se uma garrafa não foi fabricada para ser usada mais de uma vez, é preciso ter cuidado com sua reutilização.

Dessa forma, nem a migração de bisfenol A nem o “perigo bacteriológico” justificam jogar fora sua garrafa após um único uso, desde que ela seja usada de forma sensata e mantida com higiene básica. A ciência apoia o uso responsável e a limpeza regular, desmentindo parte do discurso alarmista sobre a reutilização de garrafas plásticas para armazenar água da torneira.

Imagens | charlesdeluvio, Nigel Msipa

Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.


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