Tão essencial à vida quanto problemática. A Espanha é um excelente exemplo dessa dualidade: secas devido à escassez de água, dias de chuvas torrenciais que causam o transbordamento de reservatórios e data centers ávidos por capitalizar essa realidade. Se olharmos para os Estados Unidos, a água também é um problema, não por haver muita ou pouca, mas por estar contaminada. O culpado? O escoamento agrícola.
E alguns estados já estão proibindo a fertilização agrícola durante o inverno.
O que está acontecendo?
A Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA) classificou a agricultura industrial como a principal fonte da deterioração da qualidade da água nos rios e aquíferos do país. Vários fatores estão em jogo, mas o excesso de nitrogênio, fósforo e outros elementos provenientes de fertilizantes e esterco está se infiltrando nos principais rios, aquíferos rurais e áreas costeiras, como o Golfo do México.
Estima-se que 12 milhões de toneladas de nitrogênio e outros 4 milhões de toneladas de fósforo sejam aplicadas anualmente na forma de fertilizantes. Existe outro resíduo: o esterco proveniente de fazendas de gado. O problema? Esses produtos infiltram-se no solo, atingindo o lençol freático.
No inverno, não se utiliza fertilizante
Isso ocorre durante todo o ano, mas no inverno acontece algo muito curioso: em áreas onde neva ou congela, esses nutrientes e sedimentos não se infiltram no lençol freático (o que já é bastante problemático), mas, ao derreter a neve, carregam os produtos nocivos para rios e lagos.
Isso é conhecido como escoamento superficial, e o excesso de nitrogênio em rios e lagos causa a proliferação de algas e plantas aquáticas, que consomem o oxigênio da água, resultando em zonas hipóxicas onde a vida selvagem não consegue sobreviver. Há dois casos alarmantes:
- Golfo do México: o escoamento de fertilizantes da vasta região produtora de milho do Meio-Oeste flui pelo Rio Mississippi até o Golfo do México, criando uma das maiores zonas mortas do planeta;
- Rios do Meio-Oeste: em anos chuvosos, as concentrações de nitrato na água potável ultrapassaram em muito os níveis seguros por dezenas de dias consecutivos.
Consequências
Porém, como já mencionado, isso também ocorre em aquíferos, especialmente em poços particulares que são menos monitorados do que os pertencentes ao sistema público. Por exemplo, um relatório deste ano estimou que 90% da contaminação por nitrato na água potável de Wisconsin se deve ao escoamento agrícola. O estudo indicou que 10% dos poços particulares do estado excedem o limite legal para nitratos. Em áreas de agricultura intensiva, a taxa varia de 20% a 30%.
E a exposição crônica a esses nitratos tem sido associada a câncer, complicações na gravidez e até mesmo à "síndrome do bebê azul", ou metahemoglobinemia infantil. Em outras palavras, não se trata apenas de um problema ambiental; a situação se agravou e afeta a saúde pública.
Proibição reativa
E isso levou alguns estados a começarem a tomar medidas. Como resposta direta, estados como Michigan, Maryland, Ohio e Vermont implementaram diversas proibições ao uso de esterco, fertilizantes e outros insumos agrícolas durante o inverno. Essas proibições geralmente começam em meados de dezembro e se estendem, dependendo do estado, até março ou abril do ano seguinte.
A restrição é impopular no setor agrícola, mas o problema é que se trata de uma medida reativa, e não proativa. Em outras palavras, o dano já foi feito; o objetivo é evitar danos adicionais.
Uma mudança no modelo agrícola
No âmbito federal, porém, a estratégia não se baseia na regulamentação e proibição diretas, mas sim em incentivar os agricultores a adotarem voluntariamente práticas mais sustentáveis. Departamentos como o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) e o NRCS (Serviço de Conservação de Recursos Naturais) estão gerenciando programas de assistência financeira e técnica para ajudar os agricultores a otimizar suas culturas, mudar práticas ou plantar novas culturas de "cobertura" que absorvam o excesso de nitrogênio.
Em última análise, a situação é complexa porque o país escolheu um caminho, cada estado está abordando o problema de maneira diferente, e a agricultura e a pecuária são setores prioritários nos Estados Unidos, tanto para o consumo interno, quanto para a exportação. E o que diz a EPA (Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos)? Que os fertilizantes devem ser aplicados na quantidade correta e na época certa do ano. E também que os animais devem pastar longe de cursos d'água.
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