A China acaba de testar com sucesso seu próximo artefato de dominação mundial: um drone-mãe com 16 toneladas de surpresas

A China, com o Jiutian e o Jetank, decidiu se posicionar na vanguarda de um futuro e de uma data: 2049

Jiutian / Imagem:  CCTV, EPL
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Victor Bianchin

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Victor Bianchin é jornalista.

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A China deu um passo decisivo na corrida mundial pelo domínio do espaço aéreo não tripulado com o voo inaugural do Jiutian, um colosso de 16 toneladas que não apenas simboliza a maturidade de sua indústria aeronáutica, como também marca um ponto de inflexão na própria concepção do poder aéreo no século 21.

Embora apresentado oficialmente como uma plataforma civil versátil para transporte pesado, comunicação de emergência e cartografia avançada, o Jiutian (junto do Jetank, sua versão mais claramente voltada a missões de uso dual) representa a culminação de uma estratégia em que os drones deixam de ser simples vetores de apoio e passam a atuar como matrizes capazes de liberar enxames, transportar munições vagantes e alterar completamente a forma como as forças armadas concebem operações de saturação, guerra eletrônica e controle do espectro.

Após o primeiro teste, os comunicados oficiais exaltaram a modularidade e a diversidade de funções civis do sistema, mas a combinação de capacidade de carga, alcance, autonomia e arquitetura de missão despertou um interesse que vai muito além do comercial: é o nascimento dos “porta-aviões do céu” (ou, mais precisamente, porta-drones), plataforma que se insere na competição estratégica global.

A metamorfose do drone

A primeira característica que distingue o Jiutian (e o Jetank) é seu tamanho. Com 16,35 metros de comprimento e 25 metros de envergadura, ele se enquadra em uma categoria inédita: drones de grande tonelagem com capacidade para transportar 6.000 kg de carga útil. Soma-se a isso uma autonomia de 12 horas e um alcance de 7.000 quilômetros, números que antes estavam associados apenas a aeronaves tripuladas de transporte ou ISR.

Essa base estrutural permite instalar módulos de missão totalmente intercambiáveis: desde contêineres logísticos de alta precisão até cápsulas de comunicações para restabelecer redes em situações de desastre. No entanto, sob essa fachada multifuncional, se esconde o verdadeiro salto qualitativo: um compartimento interno do tipo “colmeia”, capaz de abrigar desde dezenas até mais de uma centena de drones menores ou munições vagantes, além de oito pontos externos a partir dos quais podem ser lançadas armas guiadas, mísseis ar-ar, bombas planadoras e cargas de guerra eletrônica.

Jiutian

Duas versões da mesma revolução

Os números apresentados pelos desenvolvedores chineses mostram que os dois modelos compartilham dimensões, peso máximo de decolagem, carga útil e autonomia, o que indica que Jiutian e Jetank fazem parte de uma mesma família de megadrones voltados a atender desde necessidades logísticas até missões militares complexas. Onde o Jetank se destaca é na ênfase mais explícita em sua capacidade de lançar enxames em pleno voo e mudar de função em poucas horas graças a módulos de missão que são montados rapidamente.

Analistas chineses o descrevem como uma plataforma “de nível mundial”, capaz de atuar como transportador multipropósito, matriz de enxames, vetor de guerra eletrônica e até bombardeiro leve com munições de precisão. Seu sistema de arquitetura aberta permite processar, integrar e atualizar sensores e software de forma ágil, transformando o drone em um nó flexível dentro de uma rede mais ampla de sistemas tripulados e não tripulados. Em essência, ambos os modelos não são simples UAVs: são ecossistemas aéreos capazes de adaptar sua função a qualquer cenário tático ou estratégico.

O valor real desses porta-drones não reside apenas em seu tamanho ou nas armas que podem transportar, mas na capacidade de liberar enxames de pequenos drones (incluindo UAVs kamikaze), o que introduz uma dinâmica que supera a lógica tradicional da aviação de combate. Para dar um exemplo, um único Jiutian poderia lançar um enxame suficiente para saturar sistemas antiaéreos, colapsar sensores, sobrecarregar radares e permitir que outras plataformas penetrem defesas antes intransponíveis.

Em paralelo, sua autonomia permite, em princípio, que a combinação de reconhecimento, ataque, guerra eletrônica e saturação seja integrada em uma única missão prolongada, algo que raramente existiu em plataformas não tripuladas desse porte. Em conflitos recentes, como o da Ucrânia, os drones demonstraram ser armas de baixo custo com impacto desproporcional: sua capacidade de destruir equipamentos muito mais caros reformulou a relação entre investimento e efeito militar. A China, com esses desenvolvimentos, parece ter internalizado essa lição e levado a ideia um passo além: de drones individuais para transformar um drone maior na matriz a partir da qual centenas são lançados.

O futuro e 2049

O desenvolvimento do Jiutian se inscreve no objetivo de Xi Jinping de transformar as Forças Armadas chinesas em um “exército de classe mundial” até 2049. A exibição em Zhuhai, no ano anterior, já havia mostrado protótipos de drones de combate dotados de IA capazes de operar em conjunto com caças tripulados, e o voo do Jiutian confirma que o país está acelerando os pilares tecnológicos necessários para sustentar um modelo de combate em rede: megadrones, inteligência artificial distribuída, enxames, sensores modulares e plataformas capazes de exercer pressão sobre qualquer teatro regional.

Sob essa perspectiva, Jiutian e Jetank se tornam peças fundamentais para missões de vigilância, reconhecimento, interferência eletromagnética, ataques de saturação e projeção de poder em cenários distantes. Seu projeto não responde a um programa isolado, mas a uma arquitetura estratégica mais ampla que a China está aperfeiçoando para sustentar seu ascenso militar.

Imagem | CCTV, EPL

Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.


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