Fabrício Mainenti
RedatorCada vez mais pessoas optam por painéis solares para conquistar a independência energética. Tanto que algumas prefeituras chegaram a considerar restrições à sua instalação. O problema é que, com o tempo, poeira e areia se acumulam sobre eles, afetando seu desempenho. E foi justamente isso que um grupo de pesquisadores conseguiu resolver… inspirando-se no funcionamento das árvores.
Até agora, vimos sistemas automáticos para limpeza e manutenção dos painéis, prolongando sua vida útil e melhorando sua eficiência. Mas este novo avanço vai além: ele foi projetado para regiões desérticas, onde a sujeira se acumula em questão de dias. Graças a essa ideia, os painéis podem continuar operando em plena capacidade sem a necessidade de limpeza constante.
Imitando a Natureza
Imagem | Science & Development Network
Do Egito, um país repleto de sol... e areia, surge uma pesquisa destinada a melhorar o desempenho de painéis solares em regiões desérticas. Um grupo de cientistas liderado por Mohamed Salama Abdel-Hadi, professor da Faculdade de Engenharia e Ciência dos Materiais, teve uma ideia tão simples quanto engenhosa: inspirar-se na forma como as folhas das árvores se livram da poeira. O resultado? Painéis capazes de se "mover" sozinhos para se limparem sem ajuda externa.
A ideia baseia-se na biomimética
Imitar a forma como as folhas se livram da poeira através da vibração. Os cientistas aplicaram esse princípio aos painéis solares, incorporando um sistema que remove a sujeira sem água ou intervenção humana. Os primeiros testes no Cairo foram conclusivos: em comparação com um painel convencional que perde 33% do seu desempenho em seis semanas, os painéis com essa tecnologia perdem apenas 12,9%, representando uma melhoria significativa na eficiência e economia.
Um sistema simples que se baseia em muita ciência
Um pequeno motor com um contrapeso gera vibrações que são transmitidas ao painel, fazendo com que a poeira se desprenda por gravidade. Um controlador decide quando ativá-lo — geralmente duas vezes ao dia, ao meio-dia e no início da manhã — e pode funcionar com bateria ou com a própria energia do painel.
A melhor parte é que elimina a necessidade de limpeza manual constante, que pode ser extremamente cara em grandes instalações. Para se ter uma ideia, manter cerca de 200 painéis solares limpos pode custar mais de 40.000 libras egípcias (cerca de R$ 4.648) por mês. Com este sistema, essa despesa é drasticamente reduzida, exigindo apenas limpeza manual a cada dois ou três meses.
A mesma equipe criou uma solução ainda mais simples
Um sistema de limpeza passiva que utiliza apenas o vento. Não possui motores nem componentes eletrônicos; o painel é montado em um suporte flexível que permite que ele vibre com as rajadas de vento, e uma pequena mola o retorna à sua posição vertical.
Em testes realizados na Universidade Alemã do Cairo, este projeto manteve 95% de eficiência após seis semanas, em comparação com 75% para um painel fixo. O desempenho varia de acordo com a época do ano — funciona melhor no inverno, quando há ventos mais constantes — mas ainda representa uma melhoria significativa em relação aos métodos tradicionais.
Uma das preocupações iniciais era se os painéis suportariam tanta vibração. Os testes mostraram que sim: eles resistem bem, sem danos. Além disso, o sistema é economicamente viável, pois o investimento inicial pode ser recuperado em menos de um ano graças à redução da manutenção e ao aumento da geração de energia.
Esses resultados positivos incentivaram a empresa a seguir em frente, e ela já está preparando uma nova instalação na região de Gizé. A melhor parte é que a invenção é flexível e pode ser adaptada a todos os tipos de projetos, mesmo em áreas rurais ou isoladas, onde a limpeza dos painéis costuma ser muito mais difícil.
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