Ter um carro nunca foi apenas sobre mobilidade. Além do conforto de não depender do transporte público (e a coragem de enfrentar o trânsito), é também sobre assumir um sócio silencioso, invisível, mas extremamente eficiente em sugar dinheiro mês após mês. Ele não aparece no contrato de financiamento, não cobra participação nos lucros e raramente é lembrado na hora da compra. Ainda assim, está sempre lá, esperando a próxima revisão, a próxima troca de peças ou aquele barulho estranho que insiste em surgir no pior momento possível.
Uma pesquisa recente da Webmotors ajuda a colocar números nesse incômodo conhecido de todo motorista. Segundo o levantamento, os brasileiros gastam, em média, entre R$ 2,5 mil e R$ 5 mil por ano apenas com manutenção veicular. Em um país onde o salário mínimo gira em torno desse valor, estamos falando de até três meses de trabalho dedicados exclusivamente a manter o carro funcionando e, idealmente, seguro.
O dado mais curioso é que esse gasto não nasce da negligência. Pelo contrário. A maioria dos motoristas segue uma rotina de manutenção considerada saudável. Cerca de 30% fazem revisão pelo menos duas vezes por ano, superando inclusive a recomendação básica de fabricantes, que costuma apontar revisões a cada 10 mil quilômetros ou seis meses. Outros 26% optam por uma inspeção anual, enquanto 17% levam o carro à oficina a cada quatro meses. Ou seja: o brasileiro, em geral, cuida bem do próprio veículo.
Mesmo assim, o custo não perdoa. Além dos 30% que desembolsam entre R$ 2,5 mil e R$ 5 mil por ano, há um grupo significativo que vai além: 17% dos entrevistados gastam mais de R$ 5 mil anualmente com manutenção. Soma-se a isso outro contingente que investe entre R$ 1,5 mil e R$ 2,5 mil, e o retrato fica claro: ter um carro é assumir uma despesa recorrente que dificilmente cabe no orçamento sem planejamento.
Os gatilhos para levar o veículo à revisão também dizem muito sobre o comportamento do motorista brasileiro. Mais da metade só procura a oficina quando percebe um barulho ou comportamento estranho. Viagens próximas e trocas específicas — como pneus, bateria ou óleo — também aparecem como grandes motivadores.
Para Mariana Perez, CPO da Webmotors, a lógica é simples, ainda que nem sempre seguida à risca. A manutenção preventiva tende a ser mais barata do que lidar com problemas maiores no futuro. Componentes essenciais se desgastam naturalmente, e ignorar isso costuma sair caro — financeiramente e em segurança.
No fim das contas, o carro continua sendo símbolo de liberdade para muitos brasileiros. Mas, antes de girar a chave, vale lembrar: aquele veículo parado na garagem pode não falar, mas cobra.
Créditos de imagens: Xataka Brasil, Webmotors
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