No Reino Unido, os carros elétricos não tinham imposto sobre combustível; agora, vão ter

O Reino Unido estuda a possibilidade de implementar um sistema de impostos para veículos elétricos que seria cobrado pela distância percorrida em milhas. O governo quer começar a aplicar a medida em abril de 2028

Reino Unido / Imagem: Xataka Espanha
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Victor Bianchin

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Victor Bianchin é jornalista.

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O governo britânico anunciou recentemente um novo imposto para veículos elétricos, no qual os motoristas irão pagar pela distância percorrida (em milhas), previsto para entrar em vigor em abril de 2028. A medida, descrita neste documento, gerou críticas de muitos cidadãos e especialistas, além de chegar em um momento crucial, já que o Reino Unido planeja proibir a venda de carros novos a gasolina e diesel em 2030. As contas públicas estão perdendo receita dos impostos sobre combustíveis enquanto cresce a adoção de veículos elétricos.

Como o sistema está proposto até agora

Os motoristas de carros elétricos pagarão 3 centavos por milha percorrida, enquanto os híbridos plug-in pagarão 1,5 centavo. O cálculo será feito com base em uma estimativa anual de quilometragem que os motoristas irão declarar ao renovar o imposto de circulação e que posteriormente será verificado durante a inspeção técnica do veículo.

Segundo o governo, um motorista de carro elétrico médio que percorra 13.680 quilômetros por ano pagará cerca de 255 libras adicionais (aproximadamente R$ 1.800).

Segundo o The Telegraph, a ministra das Finanças Rachel Reeves justifica a medida como necessária para compensar a queda das receitas provenientes dos impostos sobre combustíveis. Segundo Dan Tomlinson, deputado e Secretário do Tesouro, se nada for feito, até 2030 um em cada cinco motoristas não pagará imposto sobre combustível, enquanto os demais continuarão contribuindo com uma média de 480 libras (R$ 3.400) anuais.

Segundo o site, o Escritório de Responsabilidade Orçamentária prevê que esse novo imposto poderia reduzir as vendas de veículos elétricos em 440.000 unidades nos próximos cinco anos.

Fabricantes como a Ford e a associação britânica de fabricantes SMMT criticaram duramente a medida. Ian Plummer, diretor comercial da Autotrader, declarou que “precisamos de mais cenoura e menos porrete se falamos sério sobre a transição elétrica”. Já a Ford afirmou que o orçamento transmite “uma mensagem confusa” sobre o objetivo do governo de incentivar a mudança para veículos elétricos.

O sistema apresenta vários desafios práticos. Os motoristas terão de estimar sua quilometragem anual sem que isso necessariamente coincida com a data do MOT (o equivalente à inspeção veicular no Reino Unido), o que complica o cálculo. Os carros novos, que não precisam de inspeção nos primeiros três anos, precisarão de verificações adicionais. Além disso, o governo reconhece que as fraudes nos hodômetros podem aumentar — uma prática que, segundo o The Telegraph, já afeta 2,3% dos veículos britânicos.

Uma questão polêmica

Tal como a norma está formulada, os motoristas que usarem seus veículos fora do Reino Unido também pagariam por essas milhas, apesar de não utilizarem estradas britânicas. O governo justifica essa decisão argumentando que a porcentagem de motoristas que viajam ao exterior é pequena, embora reconheça que isso afetará especialmente os residentes da Irlanda do Norte, já que cruzam frequentemente para a República da Irlanda.

Embora o governo insista que a tarifa equivale à metade do que pagam os motoristas de carros a gasolina e diesel, muitos proprietários de veículos elétricos já começam a se preocupar. Stephen Walton, um motorista que comprou um carro elétrico em 2023, contou à BBC que “este será meu primeiro e último veículo elétrico, porque não há vantagens fiscais para os motoristas de carros elétricos”.

Analistas como Sam Goodman, do China Strategic Risks Institute, alertam que o novo imposto pode incentivar consumidores britânicos a optar por modelos chineses mais baratos, como o BYD Dolphin Surf, que custa 18.650 libras (R$ 132 mil), frente às mais de 26.000 libras (R$ 184 mil) de algumas alternativas europeias subvencionáveis. No terceiro trimestre de 2025, os modelos chineses já representavam 11,8% do mercado britânico de carros de passeio novos, segundo a Schmidt Automotive Research.

O governo abriu um período de consulta para definir os detalhes finais do sistema antes de 2028. Também anunciou um investimento adicional de 1,3 bilhão de libras em subsídios para a compra de veículos elétricos — embora, atualmente, apenas quatro modelos cumpram os requisitos para receber a subvenção máxima de 3.750 libras (R$ 26 mil), sendo o mais barato o Ford Puma Gen-E (26.245 libras, ou R$ 185 mil, aplicando subsídios).

O Escritório de Responsabilidade Orçamentária estima que o novo imposto arrecadará 1,1 bilhão de libras em seu primeiro ano e 1,9 bilhão para 2030-31, embora o valor real dependa de quantos britânicos decidam comprar carros elétricos nos próximos anos.

Este texto foi traduzido/adaptado do site Xataka Espanha.


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