Uma empresa britânica com 100 funcionários, comprada discretamente pela Mercedes-AMG, acaba de pulverizar um recorde que pode mudar o jogo em termos técnicos e industriais no setor elétrico. Seu novo protótipo de motor de fluxo axial, pesando apenas 13,1 kg, apresenta uma potência de 550 kW, ou seja, 738 cv, e uma densidade de potência recorde de 42 kW/kg. Sem usar terras raras e com um design quase padrão.
Você talvez não a conheça, mas a Yasa é uma das peças-chave do futuro elétrico da Mercedes. Adquirida em 2021 pelo grupo alemão, essa pequena empresa inglesa sediada em Oxfordshire trabalha há mais de uma década em uma tecnologia que poucos fabricantes ousam industrializar: o motor de fluxo axial.
Embora o conceito não seja novo — ele remonta ao século 19 —, sua complexidade de fabricação e concepção exige uma arquitetura diferente da do motor radial clássico encontrado na maioria dos veículos elétricos. A estrutura interna é mecanicamente mais complexa, principalmente a manutenção do alinhamento muito preciso dos rotores e estatores, além do controle do superaquecimento, que afeta diretamente a confiabilidade. Mas, ao que tudo indica, a engenharia da Yasa transformou esse motor em uma máquina contemporânea, ultracompacta, com altíssima densidade de potência e economicamente viável.

Yasa, uma densidade energética enorme a baixo custo
O mais recente protótipo da Yasa bate todos os recordes atuais: 550 kW (738 cv) entregues durante cinco segundos sob 670 V e 850 A, com peso total de 13,1 kg, incluindo estrutura, rotor, carcaça e ímãs. Isso resulta em uma relação de 56 cv por quilo, enquanto as referências do mercado chegam no máximo a cerca de 20, às vezes 30 cv/kg nas melhores máquinas. Para comparação, um bom e velho motor a combustão que desenvolve essa mesma potência ultrapassa 200, chegando até 250 kg. Essa diferença poderia permitir repensar totalmente os conceitos de equilíbrio no design automotivo.
O motor foi projetado com processos industriais “padronizados”, o que torna viável a produção em série a “baixo custo”. A empresa fala até em fabricar de 10.000 a 50.000 unidades por ano. Mas é bom ter cautela com esse tipo de anúncio, bastante comum no setor de mobilidade elétrica, pois a transição do protótipo para a produção em série costuma ser complexa.

O motor de fluxo axial, a verdadeira revolução?
O que a equipe de Tim Woolmer, fundador e diretor técnico da Yasa, conseguiu foi um protótipo funcional, completo, pronto para ser integrado em carros de produção, especialmente na Mercedes-AMG, que já trabalha com esses motores nos conceitos Vision One-Eleven e AMG GT XX, este último desenvolvendo até 1.360 cv graças a três unidades acopladas.
Embora Ferrari e Koenigsegg também estejam trabalhando nesse tipo de motor, o desempenho do protótipo da Yasa muda o jogo. Isso porque sua densidade é tão alta que um fabricante poderia equipar um modelo de médio porte com esse motor, reduzindo consideravelmente o peso do chassi, dobrando a eficiência e liberando um volume significativo para as células de bateria ou para o espaço interno. Se o custo unitário permanecer controlado, a adoção além do segmento premium poderia representar um verdadeiro salto para os futuros carros elétricos e uma tecnologia realmente revolucionária.
A BMW, por exemplo, também estuda ativamente esse cenário para suas futuras plataformas, especialmente para o modelo M3. Embora tudo isso ainda esteja na fase de estudo, é interessante ver que a mecânica ainda tem um papel importante a desempenhar em um mundo onde a densidade das baterias e as telas multimídia costumam estar sempre no centro das inovações elétricas.
Este texto foi traduzido/adaptado do site L’Automobile Magazine.
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