Até pouco tempo, a Red Bull parecia o time imbatível da Fórmula 1. O domínio no início de 2024 era tão grande que parecia impossível que perdessem antes do fim do atual regulamento técnico. Mas um ano e meio depois, a equipe se perdeu e só os milagres pontuais de Max Verstappen ainda mantêm o time em evidência.
Quase ninguém entende o que aconteceu com a Red Bull para uma queda tão brusca. Pode até ser que algum truque descoberto nos bastidores tenha influenciado, mas se existe um caso que ajuda a entender o que está acontecendo com Verstappen e a Red Bull, é o que aconteceu com Marc Márquez e a Honda na MotoGP.
Verstappen, assim como Márquez, é daqueles que resolvem qualquer problema na pista. E talvez a Red Bull tenha se apoiado demais nisso.
Dani Pedrosa já contou que ficou impressionado com Márquez durante um teste da Honda. Ele estava virando tempos parecidos com os de Márquez usando a mesma moto, até que um engenheiro apareceu com um novo braço oscilante vindo do Japão e instalou a peça nas duas motos.
Márquez seguiu com tempos parecidos, mas o desempenho de Pedrosa caiu. Ele passou a ser meio segundo mais lento que Márquez. Como o número 93 manteve o ritmo — ou até melhorou um pouco — a Honda concluiu que a peça era boa.
Mas não era
E o melhor indício disso foi justamente o tempo de um dos pilotos mais técnicos e sensíveis do grid. Pedrosa sentiu a diferença. Mesmo assim, a Honda abriria mão de uma peça cara e complexa, que nos dados de Márquez parecia funcionar? Nem pensar.

Márquez sempre foi, e continua sendo, um daqueles pilotos que resolvem qualquer situação. Coloca qualquer máquina nas mãos dele que ele faz render. Verstappen também é assim. Mas esse tipo de talento tem um lado perigoso: quando a equipe começa a depender demais desse piloto, isso pode acabar jogando contra o time, e contra o próprio piloto.
Se olharmos para Verstappen, a tendência é parecida
Em 2022, e até o início de 2023, Sergio Pérez ainda conseguia acompanhar o ritmo. Mas, com o tempo, o Red Bull foi se transformando em um carro tão extremo que nem mesmo Verstappen consegue mais pilotar com facilidade. Se ele continuar na equipe e tiver um carro totalmente novo em 2026, vai seguir vencendo seu companheiro, seja quem for. Mas a diferença entre eles deve diminuir bastante. Pode anotar.
Alguém reparou num detalhe curioso da temporada 2025 da MotoGP? Sim, Márquez está voando com a nova Ducati vermelha, mas as corridas estão sistematicamente mais lentas do que no ano passado. E o companheiro de Márquez, o Pecco Bagnaia, que nunca foi brilhante, mas era sempre consistente, está afundando. É o começo de uma tendência inevitável.
Márquez, assim como Verstappen, é o tipo de piloto que dá segurança para os engenheiros. Ele passa a impressão de que tudo o que é colocado no carro funciona, até que um dia as falhas aparecem de vez. Casey Stoner e Fernando Alonso entram fácil nessa mesma categoria dos grandes "resolve-problema" dos últimos tempos. Se a gente voltar nos anos em que correram de vermelho, tudo leva a crer que sim.

É o insuportável peso de um talento descomunal, como diria Nicolas Cage. Pilotos capazes de brilhar com qualquer carro improvisado, mas que tornam difícil para a equipe ter visão e coragem de colocar ao lado deles um piloto bom, porém comum, para servir de referência no desenvolvimento enquanto a estrela apenas dirige e vence.
No caso da Red Bull, ninguém definiu melhor a situação do que Alexander Albon, um dos que sofreu nas mãos desse verdadeiro instrumento de tortura. “É como colocar a sensibilidade do mouse no máximo”, disse o tailandês. Um caminho que fez com que nem mesmo Verstappen consiga mais dominar seu próprio carro.
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