Em 2001, a Renault lançou um carro que estava à frente de seu tempo; foi um fracasso colossal, mas agora ganha uma nova chance

O Renault Avantime fracassou de forma espetacular. Hoje, ele mostra por que o futuro às vezes chega antes do que o presente consegue suportar

Avantime / Imagem: Matra
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Victor Bianchin

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Victor Bianchin é jornalista.

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O Renault Avantime não é um carro cult como uma Kombi, um Porsche 911 ou um DeLorean. A maioria das pessoas provavelmente nunca ouviu falar dele. Mas, para certo segmento, ele certamente tem status de culto — e não sem motivo.

Isso porque ele é considerado um veículo muito à frente de seu tempo. Talvez até tão à frente que, justamente por isso, vendeu tão mal. Um fracasso gigantesco que levou uma empresa inteira ao abismo.

O Avantime mostra, de forma exemplar, o que acontece quando um carro do futuro chega a um presente que não sabe o que fazer com ele.

Um olhar para trás

Quando o Renault Avantime chegou ao mercado, no fim de 2001, ele estava — como o próprio nome sugeria — à frente de seu tempo. O termo formado por avant (em francês, “antes”) e time (em inglês, “tempo”) descrevia de forma precisa o conceito, ainda que pudesse ser interpretado de outra maneira: o Avantime era um híbrido radical de van, cupê e lounge — um veículo que deliberadamente fugia de qualquer categoria tradicional.

Avantime

Tecnicamente, ele se baseava no Renault Espace de terceira geração, mas com apenas duas portas enormes, janelas sem moldura e um teto panorâmico de vidro deslizante. Por isso, se distinguia drasticamente da minivan familiar dos anos 1990. Ele foi concebido para oferecer conforto e espetáculo, não funcionalidade pura.

Veículos crossover já existiam naquela época, mas os primeiros representantes — como o Lexus RX 300 e o BMW X5 — apenas combinavam segmentos já conhecidos de forma discreta. Eles foram alguns dos primeiros SUVs grandes e amplamente difundidos, tendo contribuído para empurrar a minivan clássica para o declínio.

O Avantime, por sua vez, era uma resposta contrária ao espírito dominante da época: enquanto a indústria apostava em pragmatismo e segmentações claras, a Renault e a Matra decidiram romper deliberadamente com isso.

Renault e Matra

O carro não foi fabricado pela Renault, mas sim pela empresa francesa Matra, já conhecida por modelos esportivos como Djet, 530, Bagheera e Murena. A Matra era considerada experimental — e, com o Avantime, a empresa mostrou até onde estava disposta a ir.

Em comparação com o Espace, o Avantime não tinha coluna B, sua dianteira parecia mais agressiva e a silhueta era futurista.

O projeto havia sido planejado como um veículo de nicho, mas ninguém esperava que fracassasse de forma tão estrondosa. Após apenas dois anos e 8.545 unidades produzidas, a fabricação foi encerrada.

Com ela, terminou a história da Matra no setor automobilístico. A empresa acabaria posteriormente sendo incorporada à Pininfarina e ao Airbus Group.

O conceito

O Avantime não deveria ser um veículo utilitário, uma minivan familiar ou um carro esportivo, mas sim algo completamente autônomo em identidade. Suas portas enormes, a arquitetura interna repleta de vidro e o caráter de lounge do interior simplesmente não correspondiam às expectativas do início dos anos 2000.

Hoje, porém, muitos desses elementos parecem surpreendentemente visionários: em uma época em que a mobilidade autônoma se aproxima cada vez mais e o interior do carro passa a ser um espaço de convivência, o Avantime parece quase profético. O crossover já não é exceção — é o padrão.

Também do ponto de vista técnico, a Matra seguiu caminhos incomuns. A construção de um teto panorâmico de vidro sem a coluna B tradicional como suporte colocou os engenheiros diante de desafios significativos. As portas mais longas precisaram de dobradiças duplas especiais para, mesmo com o peso extra, permitir uma abertura elegante.

Contrariando as expectativas geradas por sua carroceria alta, o Avantime alcançou bons índices aerodinâmicos — um legado da engenharia esportiva da Matra.

Os motores, por outro lado, foram a parte menos problemática, pois não precisaram ser desenvolvidos do zero: inicialmente um V6 de 3,0 litros com 152 kW (cerca de 207 cv) e um motor 2,0 turbo a gasolina, seguido depois por um 2,2 diesel.

A tecnologia foi, ao mesmo tempo, libertação e limite: tornou o conceito possível, mas também impôs fronteiras rígidas.

Por que o Avantime fracassou?

O motivo do fracasso do Avantime permanece, no fim das contas, especulativo. Seu preço, que chegava a 41.700 euros — o equivalente hoje a cerca de R$ 400 mil — talvez fosse alto demais, e o design, ousado demais. Além disso, a Renault não tinha a imagem necessária para promover com credibilidade um veículo tão incomum.

O fracasso não apenas levou ao fim da produção, mas também deu o golpe final na Matra. Em 2003, chegou ao fim uma era da engenharia francesa marcada por ousadia e romantismo.

Mas quem acredita que o Avantime tinha ficado no passado está enganado. Justamente agora, ele inicia uma nova fase. Depois de ter sido proibido de entrar nos EUA no início dos anos 2000, ele está prestes a se enquadrar na regra estadunidense dos 25 anos.

Veículos fabricados em 2001 poderão ser importados legalmente a partir de 2026. A pequena, porém fiel, base de fãs nos EUA já espera ansiosamente.

O interesse cresce também na Europa. Afinal, fracassos do passado frequentemente viram tesouros do futuro — especialmente quando são tão excêntricos quanto o Avantime. E talvez ele realmente combine mais com 2026 do que com 2001: o espírito de hoje valoriza muito mais o individual, o inconfundível.

O que o Avantime realmente significa

O Avantime simboliza a coragem de inovar. Seu design pode dividir opiniões, mas também possui algo atemporal — algo voltado para o futuro justamente por não se prender às convenções.

Ao mesmo tempo, ele lembra que o mundo nem sempre está preparado para o novo. E que o progresso muitas vezes só se torna reconhecível com distância e retrospectiva.

Poucas outras tecnologias representam essa contradição de forma tão clara quanto o automóvel: ele impulsiona a modernidade e, ao mesmo tempo, mantém viva a memória do passado.

Este texto foi traduzido/adaptado do site Game Star.


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